Arqueologia dos homens e das máquinas, a que me é dada a ver aqui, no Lousal, perto de Grândola.
Meticulosamente resguardadas e mantidos, velhos e possantes engenhos geradores ocupam o edifício da central que, em tempos não muito distantes, produziu a energia e o ar comprimido que alimentaram as minas e o que lá se fez. A seu lado, descubro o centro clínico onde, fico a saber, para além das chapas de Raios X que tantas vezes ditaram más notícias para os corpos doridos e puídos dos homens que laboriosamente, a força de braços e dinamite, arrancavam a pirite à rocha, as suas mulheres e recém-nascidos filhos podiam beneficiar de cuidados modernos de maternidade.
Tudo envolto numa atmosfera acética, branca, que nos faz sentir dentro de um documentário histórico, afinal, o que na verdade se pretende com a preservação da memória das coisas e dos homens.
Detenho-me nas
legendas dos expositores e deixo-me tocar pelo élan futurista que a frieza das
máquinas e o calor do berço que aqui, paredes-meias, convivem, evoca. Afinal há
arte na engenharia, na medicina, na sociologia, num estado de algum sincretismo
que só a nós nos cabe decifrar e fruir.
Cá fora, por
estar pressionado pelo tempo, ignoro a chamada de um outro espaço museológico - interativo e moderno, dizem-me - e tomo o caminho do que realmente me interessa:
Cores; de
terras múltiplas, como se alguém usasse o chão por paleta, para pintar uma
paisagem que se escreve a cheiro e indústria.
Como
habitualmente, nestes locais, a ruína ganha uma densidade plástica que se
sobrepõe às arestas nuas do tijolo partido; à borbulhagem ácida da ferrugem; ao
calmo amontoar da decrepitude.
Não mais se houve o
rodar das roldanas que levavam os mineiros ao fundo escuro do poço; não mais se
veem os vagões de minério a circular sobre os carris paralelos; não paira mais no ar o espetro da
silicose…agora é só… belo e decadente, como se os dois adjetivos se pudessem
fundir num par de inusitado contraste.