A maior do ano!
Televisão, jornais, web… por todo o lado por onde nos empurram para títulos grandiloquentes na mira de capturar a nossa atenção para mais um clique faturante, a promessa era consistente: assim, deste tamanho, com esta cor, a ver-se tão bem, só para o ano, pelo menos; por isso é pegar ou largar, a partir das nove e um quarto da noite, na direção és-sueste, resultados garantidos!
E eu, que há algum tempo não olho para o céu, achei que esta seria uma boa oportunidade para o fazer, para mais que a noite se anunciava agradável de temperatura e brisa.
Trouxa pegada e metida no carro, ordenei à tripulação mecânica que se esconde por baixo do capot do meu velho skoda, que apontasse o azimute a Cacilhas, ali mesmo ao lado da D. Fernando e Glória, porque se é para falar de pontos cardeais, corpos celestes, azimutes e quejandos, convém sempre estar na companhia dos nossos (como se eu disso percebesse alguma coisa….)
Enfim… tripé colocado; objetiva assestada; relógio na mão…. Tudo quase como nas fantásticas largadas de Cabo Canaveral: “All systems Go; T-10 and counting”;
10 segundos, quando se espera ansioso, é uma eternidade, mas estes, por certo, sofreram algum entorse quântico daqueles que se movimentam na famosa notação E=mc2, porque apesar do mostrador do telefone me jurar que as tão ansiadas 21h14 estavam já para o lado esquerdo da história, da redonda explosão de luz, erguendo-se lenta no horizonte, que tanto me havia sido prometida…. apenas um perfeito Nada (ainda que bem redondinho, como a lua que o deveria substituir).
E nada foi durante uns bons 20 minutos - o tempo que o nosso singular satélite demorou a mostrar-se super, por cima da neblina que, infelizmente, tapou o horizonte ali para os lados do Barreiro - até que lá deu um ar da sua graça, deixando-se adivinhar num círculo de luz, por sob as nuvens que a escondiam, agora dobradas a rosa e ouro no ardor do exultante reflexo.
Uma ou duas fotos, pouco mais. Confesso que desalentado, porque quando se mostrou, já estava bem mais acima do horizonte do que eu gostava de a ter visto; arrumei uma vez mais a tralha e lá voltei a ordenar ao meu imediato mecânico que aproasse ao ponto de partida.
Avé Lua, cheia de graça, pensei… mas até o conforto do trocadilho foi… sol de pouca dura, quando a graça emperrou no euroevinte que, diligentemente, a máquina do parque de estacionamento engoliu antes de me abrir a cancela.