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Castelo Novo |
Não me é fácil ignorar o chamamento de um marco geodésico. Seja sabendo que existe estrada até lá chegar, e que assim o posso fazer no conforto do ar condicionado do carro, protegido do sol inclemente que, lá fora, atira o mercúrio dos termómetros para posições na escala riscada a vermelho sobre o vidro que desencorajam o mais intrépido caminhante; seja como prémio para pernas moídas e respiração ofegante, no final de mais uma subida exigente, em um qualquer passeio de descoberta, daqueles que, por vezes, me reclamam.
A ele chegado, resisto sempre ao óbvio, que seria olhar para baixo. Isso farei depois, e, seguramente, com o enorme contentamento que a descoberta do mundo desde um ponto elevado sempre nos transmite, criaturas habituadas a um horizonte rasteiro, tantas vezes obscurecido ou mesmo tapado, que nos habituamos a ser, desde os mais tenros dias da nossa fugaz, diga-se, existência.
É a forma que sempre me suscita o olhar. O inusitado cilindro branco com um pequeno tronco de cone em cima, ou a pirâmide, também ela branca. Ambos por vezes com uma camisola de risca preta, que tão bem lhes vai...
Nada naqueles sólidos geométricos parece natural, expectável.
É como se à chegada à superfície lunar, Neil Armstrong desse de caras com uma forma perfeita, erguida numa superfície que se sabe tudo menos isso.
E, no entanto... nada nos marcos me fere a vista, as sensações. Pelo contrário, acho-os, na sua grande maioria, plasticamente interessantes, um bom motivo para uma fotografia mais cuidada composicionalmente.
Habituei-me a desejá-los, a visitá-los, sempre que possível. Por eles próprios, mas porque também os sei promessa de vistas desimpedidas.
As tais vistas a que então me permito, depois de os ver por aquilo que são.
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Perto da Praia da Bordeira |