Clareia o dia, embora do lado de cá do morro tudo seja ainda
sombra e tenha alguma dificuldade em
perceber onde piso e para onde me levam os pés (metáfora da vida, esta, que
nunca o caminho verdadeiramente se conhece antes de o trilhar – caminante no
hay camino…)
Faz frio. Mas não tanto quanto o ar limpo e os rasgos
brancos no pano azul que, lá no alto, os aviões vão cortando, parecem reclamar. Mais duro é o
vento, esse sim desconfortante, agreste.
Arfante, chego ao topo da elevação e pouso a mochila. Olho
em roda e respiro fundo, procurando recuperar um ritmo respiratório normal. Tenho
ainda tempo. O sol só nasce às 7h54, faltam dez minutos. Uso-os para capturar o
azul dourado do lusco-fusco que se esfuma. Nada de particularmente novo. Nada
de particularmente diferente de tantos nasceres de sol em dias de céu limpo e
plasticamente desinteressantes.
Mas são as primeiras fotografias do ano. Talvez por isso,
inconscientemente, tenha escolhido um nascer de dia, já que são óbvias as
confluências de semântica.
Aos poucos o ouro que jorra do pote que se esconde por
detrás da serra da Arrábida (afinal não é preciso um arco-íris para o
descobrir) parece alastrar e ganhar todo o céu. Já passa da hora, mas o recorte
negro da serra ainda esconde a chama que traz o dia. Até que uma ligeira ferida
parece eclodir no topo da negra silhueta; que rápida alastra, redonda,
impossível de fixar, tão brilhante e clara é.
Fotografo sem entusiasmo, que nada torna este nascer de sol mais deslumbrante que tantos outros que já vi, alguns até aqui, neste preciso lugar.
Fotografo sem entusiasmo, que nada torna este nascer de sol mais deslumbrante que tantos outros que já vi, alguns até aqui, neste preciso lugar.
O vento teima em me dizer “vai” e eu aquiesço, cumprido o
fim que me impusera.
Desço em direção à estrada convicto de que os anos podem nascer como os dias: frios e quase irrelevantes, apesar do esforço e da vontade com que os abraçamos. Talvez por isso se digam, como este que começa agora, “comuns”.
Desço em direção à estrada convicto de que os anos podem nascer como os dias: frios e quase irrelevantes, apesar do esforço e da vontade com que os abraçamos. Talvez por isso se digam, como este que começa agora, “comuns”.
Desanimado meto-me no carro e volto para casa. O que eu
precisava mesmo era de um nascer de sol diferente, inebriante, fulguroso, ….verdadeiramente
“bissexto”!
Para o ano, volto cá! A ver se assim é!...
Para o ano, volto cá! A ver se assim é!...
The day is
dawning, even if on the lee side of the hill the shadows still prevail and I
have trouble understanding where to step
and where my feet are leading me (truly a metaphor of life, for the path can
only be really known after one as gone through it - caminante no hay camino…)
It is cold.
But not as cold as the clean air and the white aircraft cuts on the blue cloth
high above seem to claim. Harsher is the wind, truly discomforting,
I get to
the top of the hill panting and lay down
the backpack. I look around and breath deep, trying to recover a normal
breathing rhythm. I still have time. The sun rises at 7h54, in about 10 minutes. I use them to capture the gilded
blue of the fading dawn. Nothing really new. Nothing particularly different
from so many sunrises on clear skies and aesthetically unappealing days.
But these
are the first shots of the year. Hence, maybe, the unconscious choice of the
sunrise as subject matter, given the obvious semantic confluence.
Little by
little the gold that drops from the pot hidden behind the hills of the Arrábida range (it doesn’t take a rainbow to find it, after all)
seems to spread and to overtake all the sky. It is past the hour, but the black
contour of the range still hides the flame that brings the day. Until a slight
wound seems to break through the top of the gloomy silhouette. And it evolves fast,
round, so bright and clear that one cannot look directly into it.
I shoot
without enthusiasm, for nothing makes this sunrise more enrapturing than many
others that I’ve seen before, some of them in this exact place.
The wind
keeps on telling me “Go!”, and I yield, for the task I had imposed upon myself
is completed.
I walk down
towards the road believing that years and days can be born the same way: cold
and almost irrelevant, in spite of the effort and the will that we entrust
them. That is probably why they, like the one that now begins, are called “common”.
Disheartened
I get in the car and drive home. What I really needed was a different, inebriating, fulgurant… truly “leap”
sunrise!
I'll return next year. To see if that is so....!
I'll return next year. To see if that is so....!
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