terça-feira, 12 de janeiro de 2016




O dia morre escuro, frio, ferido pelos últimos dardos de um sol que teima em se não ver mas se pressente no sangue que suja as nuvens.


Nada nem ninguém o perturba. Só o vento. Que sobe lá do fundo, da planura, e traz o cheiro da chuva na terra antes seca e dura.

As oliveiras, essas, já tudo viram, tantas e tantas vezes que também parecem pedra, não fosse o verde perene das folhas.


Roídas pela inveja, as pedras procuram o verde e cobrem-se de líquenes e musgos na vã esperança que um dia pareçam árvore.



Indiferente, a grande azinheira estende o tapete de verde e luz sob a copa generosa: olho em redor e só me vejo.




segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Um conto de ano novo

Nuas, as árvores parecem perguntar porque meus os passos que, do fundo, lá do lado da igreja, um após outro, nos aproximam.

Nuas, as árvores ignoram-me, quando por elas passo. Tomara ter com elas o à-vontade dos melros; das folhas que delas jazem; dos cogumelos ínfimos que lhes cercam o tronco.

Nuas, as árvores parecem perguntar porque meus os passos que delas se afastam.

Calado, empurrado pelo vento, sigo célere o caminho, esperando que rápido se cubram.


A tale of new year

Naked, the trees seem to ask why mine the steps that, one after the other, from the church down at the far end of the garden, lead us closer together.

Naked, the trees ignore me when I pass them by. I wish I could feel as much at ease with them as the blackbirds do; as fallen leaves do; as the minuscule mushrooms that encircle their trunks do.

Naked, the trees seem to ask why mine the steps that walk away from them.

Silent, pushed by the wind, I resolutely follow my own path, hoping that soon  leaves come to cover their branches.