Transparente como um mal que lento anoitece
sem se dar porquê, sinto o calor que dobra as folhas
já pálidas de cor.
Refugio-me
na lembrança do mar.
Desenham no ar elipses, que
rompem aos gritos
como se a geometria do voo fosse
pendão inimigo
ou, simplesmente, pecado.
Abrem as asas ao vento que lhes acossa
as penas
de quente, quase inverosímil,
sustentação
e gritam
mais alto que o espumar túrbido
das ondas
O barco está já na areia.
Os homens também.
Sobra o frenesim urgente,
suplicante de ar
no atropelo de uma rede
cheia
de vida, também ela transparente,
a diluir-se num último estertor, sôfrego,
na areia
ou no bico de uma gaivota.
Na rua passam carros,
algumas pessoas
apesar de tudo
e da promessa de mar
que me ofereço
para resguardar a pele
sem me ter que lambuzar.