quarta-feira, 13 de julho de 2022

 

Fator 50

 

Transparente como um mal que lento anoitece

sem se dar porquê, sinto o calor que dobra as folhas

já pálidas de cor.

Refugio-me

na lembrança do mar.

 

Desenham no ar elipses, que rompem aos gritos  

como se a geometria do voo fosse pendão inimigo

ou, simplesmente, pecado.

 

Abrem as asas ao vento que lhes acossa as penas

de quente, quase inverosímil, sustentação

e gritam

mais alto que o espumar túrbido das ondas

que


O barco está já na areia.


Os homens também.


Sobra o frenesim urgente, suplicante de ar

no atropelo de uma rede

cheia

de vida, também ela transparente,

a diluir-se num último estertor, sôfrego, na areia

ou no bico de uma gaivota.

Na rua passam carros,

algumas pessoas

apesar de tudo

e da promessa de mar

que me ofereço

para resguardar a pele

sem me ter que lambuzar.

 

 

 

 

 

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