terça-feira, 23 de maio de 2023

Um conto de praceta 

Corroios, num fim de tarde, com chuva.




As duas árvores olham-se, de amor tomadas.

Gratas pelo vazio que sobra nos bancos, agora que o céu deu em chorar, (talvez pura inveja das nuvens) e que os avôs, quotidianos companheiros do correr do nada,  tornaram a casa para se protegerem das grossas lágrimas, ousam o que calam no ardor do segredo.

"Amo-te", disse uma.

A outra, coquette armada, fingindo surpresa, responde tão  baixinho, que só quem soubesse ler a tremura pueril das folhas - e a companheira bem o sabia -  ouviria igualmente o delicado protesto: "Eu também!".

Envergonhado por me ter admitido em tamanho segredo, voyeur de fim de tarde, estugo o passo, não sem antes lançar olhar um último olhar aos improváveis amantes.

Atónito, descubro então a surpreendente verdade: as árvores quando  coram....ficam lilases! 

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