Um conto de praceta
Corroios, num fim de tarde, com chuva.
As duas árvores olham-se, de amor tomadas.
Gratas pelo vazio que sobra nos bancos, agora que o céu deu em chorar, (talvez pura inveja das nuvens) e que os avôs, quotidianos companheiros do correr do nada, tornaram a casa para se protegerem das grossas lágrimas, ousam o que calam no ardor do segredo.
"Amo-te", disse uma.
A outra, coquette armada, fingindo surpresa, responde tão baixinho, que só quem soubesse ler a tremura pueril das folhas - e a companheira bem o sabia - ouviria igualmente o delicado protesto: "Eu também!".
Envergonhado por me ter admitido em tamanho segredo, voyeur de fim de tarde, estugo o passo, não sem antes lançar olhar um último olhar aos improváveis amantes.
Atónito, descubro então a surpreendente verdade: as árvores quando coram....ficam lilases!
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