Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, tantas quantas me promete a memória...
29 de Julho de 2025 - Letónia - Parte I
Riga
Diz-se que se deve deixar sempre algo por ver, em todos os lugares que visitemos; desta forma teremos uma razão para lá voltar...
Não que eu precise de razões, para mais tratando-se de uma cidade com tanta beleza para oferecer como é a capital da Letónia, Riga, para onde nos dirigimos logo de manhã, saídos de Jurmala, ali bem perto.
O trânsito matinal tornava a entrada na cidade mais lenta, mas não tão lenta, seguramente, como a que me espera se desejar ir de minha casa à Capital, à hora de ponta... e para o fazer, em Riga, tive que, tal como em Lisboa, atravessar um rio..
As cidades hoje em dia, de tanto crescer, perderam escala de gente. Não são mais as cidades dos bairros, das pessoas, do desfrute e usufruto... são, na maioria dos casos, a extremidade do itinerário pendular de quem para elas se desloca do subúrbio, ainda o sol por vezes não nasceu, para ao subúrbio retornar, com o sol tantas vezes, já também ele fora do horário regular de trabalho..
Por isso, as cidades são uma enorme chatice para quem com elas tem uma relação mais estreita, dependente.
No processo de crescimento, muitas descaracterizaram-se.... ao ponto de se tornarem em caricaturas... todos o sabemos e experimentámos. Tercializaram-se exaustivamente nos centros, o que lhes fez crescer na proporção direta a área metropolitana e, consequentemente, o trânsito e a dose de mal-estar de quem com ele se vê confrontado, dia após dia.
Não tenho apreço especial por grandes cidades. Invejo-lhes, contudo, o conteúdo, que me faz visitá-las, apesar de se terem transformado em montras de um comércio global que as torna a todas mais indiferentemente iguais.
Mas ainda assim as cidades, em particular as grandes cidades, albergam estruturas soberbamente distintivas... e são essas que me movem, não os neons ou LEDs que pulsam HM ou Zara tanto aqui como em Mumbai.
Arquitetura, monumentos, parques, museus, e, gostaria de dizer, as pessoas, mas sobre essas, no curto espaço de tempo de uma viagem de férias, não é possível formar opinião; para mais, ao invés das peças de museu, não trazem consigo nenhum cartão com explicações.... Fulano tal, Português, 1,72m, carne e e gordura sobre ossos, 1960.
Não creio que Riga esteja já no limiar da transição da urbs felix para a urbs chatix. Curiosamente, em termos estritos de número de habitantes no perímetro da cidade, ultrapassa Lisboa. Diz-me a internet que são 592.000, enquanto Lisboa regista 576.000. A coisa complica-se, no entanto, se considerarmos a população da área metropolitana, que ,para Riga, é 616.000 enquanto a minha capital se atira para mais de 3 milhões de almas.
Talvez seja esta diferença enorme que justifica a relativa facilidade com que me movo em Riga de carro, encontrando até com facilidade espaço para estacionar muito perto do centro da cidade, coisa que em Lisboa é, como dizia o Reinaldo Ferreira, "um voo cego a nada".
Estive aqui há 16 anos. Lembro-me bem do centro histórico e, mais que tudo, dos belíssimos edifícios Arte Nova que, na altura, precisavam de alguma atenção para recuperarem toda a sua beleza.
Desta vez fui ver os que não tinha visto da primeira vez, na rua Elizabete. Dava até jeito porque o posto de correios principal, onde poderia obter selos para enviar os postais e as cartas para os amigos, fica naquela mesma rua...
Riga aprimorou-se e cresceu nestes16 anos. Não falo só dos edifícios que estão agora imaculadamente recuperados. Há um bulício nas artérias de que me não lembro. Verdade também que quando aqui estive era outubro, outono, portanto, mas olho paras fotos que então tirei e encontro-as vazias de gente e tráfego..
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Por aqui não se veem nem Ladas, nem Moskovitschs nas ruas.... |
Vamos para o colorido centro histórico, pedonal, com gente mas sem enchente. Um passeio rápido por ehtre as casas de tons pastel, que a manhã vai longa e não tínhamos planeado ficar muito tempo em Riga por já cá termos estado.
Sobrepomos às memórias alguns locais e edifícios... "lembras-te? tirámos fotografias aqui..."
Há, no entanto, um edifício que não estava por aqui em 2009. É do outro lado da cidade, e é um edifício sumamente perigoso, porque alberga armas de sabedoria e fruição maciça...
A Biblioteca Nacional da Letónia foi inaugurada em 2014, tendo os trabalhos de construção tido início em 2008. Saída do lápis inspirado do Arquitecto Gunnar Birkerts (1925-2017), guarda hoje 4,5 milhões de livros, alguns dos quais, mantendo a função primordial que lhes é conhecida, formam "inadvertidamente" parte da inteligente, funcional e sóbria organização dos espaços, assumindo também, através de um jogo de luz, um papel decorativo que em nada os menospreza e apenas contribuí para realçar a intenção do espaço.Visitamos os vários andares onde salas de leitura e multi-usos se instalam. Cruzamo-nos com grupos de crianças em atividades de tempos livres, provavelmente, alguns turistas como nós.
Subimos no elevador ao 13 andar, de onde é possível desfrutar de uma deslumbrante vista de 360 graus sobre a cidade e a região em que se insere. Pena que a proteção contra o sol que foi aplicada aos vidros impeça uma fotografia do belíssimo panorama à nossa frente.
Voltamos para o elevador. É tão rápido que se sente a deslocação do ar, a sair pelas portas automáticas, enquanto por ele se espera.
A deslocação do ar, é também notória, uma vez fora do edifício. Na verdade, está uma ventania danada.
Voltamos para o carro e para a estrada após mais uma ou duas fotos ao curioso edifício. Riga vai ficando para trás,... não sei se, desta vez, terei deixado algo por ver... talvez...
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