Maratona!
Não, não corro. Embora adore andar a pé e o pratique com regularidade e apego, detesto correr: tudo na corrida para mim é sofrimento; cansaço sem a justificação do motivo; esforço sem a cereja de prazer que compensa o afinco e o sacrifício do corpo.
O desafio é outro e de corrida apenas toma o nome que aqui se não mede em 42 km, mas sim em 12 horas de clics feitos de luz, ou da falta dela, nas suas mais íntimas gradações:
Maratona fotográfica 2013 FNAC Almada, dizia o anúncio há uns tempos. Porque não?
Nunca participei e o regulamento não me diz tudo. Apenas que no próprio dia serão dados aos participantes os temas e que, em cada um, terão meia hora para comprovarem a sua presença no ponto de controlo indicado.
Em tudo um jogo, que não um desafio fotográfico. Na verdade, a fotografia de que gosto, que pratico, faz-se do correr do tempo - que determina o que se vê - e da vontade de o fixar, que não de relógio e controlos.
Mas aceito. Porque não? O número de participantes, a julgar pelas fotos que vi de edições anteriores, não deverá ser enorme, o que me promete o relativo isolamento que me é essencial , misantropo que sem o exageradamente ser, conheço que sou.
Na verdade, o grande prazer da fotografia (como da grande maioria dos meus vários e variados interesses, de resto), reside, para mim, no facto de ser um ato profundamente íntimo. Eu elevado a demiurgo por interposição tecnológica. E não interessa que este Eu não seja sinónimo de Ansel Adams ou Augusto Cabrita, para citar dois. Como é habitual dizer… faz-se o que se pode, e primeiro está sempre a vontade de ver: o que escrevi na imagem e o que a imagem me deixa ler. Por vezes é quase uma epifania, uma enorme revelação. Muitas outras é a constatação do banal. Tal qual como nos acontece com os dias, que ordenadamente se sobrepõem, sem que façamos grande coisa por isso (se excluirmos a dialética cadência sistólica/diastólica , que, apesar de não controlarmos diretamente, nos é também intimamente “nossa”) .
9 às 9, 12 horas e 6 temas, dizem-me no ponto de partida.
Como numa verdadeira corrida, o dia faz-se de oscilações de motivação e alguns intervalos entre temas parecem não passar enquanto outros se apresentam curtos. Chego mesmo a desinteressar-me a meio quando me é dado um tema que se me afigura impossível nos locais recomendados. A inexperiência não me lembra que posso usar tempo sobrante de outros temas para voltar ao tema que me pareceu impossível.
No fim, com maior ou menor dificuldade, cumpri. Tenho fotos para os 6 temas e para alguns tenho até opções múltiplas. Por certo não ganharei qualquer prémio, mas ainda assim consegui cartas suficientes para mostrar o jogo.
Amanhã, pego na mochila outra vez e volto à mata. Sem tema, nem ponto de controlo!
Afinal esta é a minha maratona, que venho correndo há anos, e que acho continuarei a correr, enquanto o sol se me não puser!
Tema 1 - Artes de pesca
Theme 1 - fishing implements
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Barcos de pesca - Trafaria |
Tema 2 - Paz Franciscana
Theme 2 - Franciscan peace
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Convento dos Capuchos - Capuchos |
Tema 3 - Arquitetura rural
Theme 3 - Rural arquitechture
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Solar dos Zagalos - Sobreda da Caparica |
Tema 4 - Arqueologia industrial
Theme 4 - Industrial archeology
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Lisnave - Margueira |
Tema 5 - Portas e janelas
Theme 5 - Doors and windows
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Almada velha |
Tema 6 - Livre
Theme 6 - Free
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Metro - Almada |
Marathon!
No, I don’t like running. Even though I absolutely adore to walk, something I regularly and dedicatedly do, I detest running: for me running is all about suffering; exhaustion without the justification of a purpose; effort without the cherry of pleasure that compensates for the commitment and the sacrifice of the body.
The challenge is of a different nature, the only relation to running being the name it takes, even if it is now not measured in 42 km but in 12 hours of clicks made out of light, or of its absence, in its most intimate gradations:
FNAC Almada Photo Marathon 2013, proclaimed the ad some time ago. And why not?
This is the first time I take part in it and the rules don’t tell me all there is to know. Only that on the very day, six themes will be disclosed to the participants and that for each of the themes there will be an half an hour window for them to control at the given check point.
More of a game than of a photographic challenge. In truth, the photography I like, and practice, is made out of the flow of time – that establishes what is there to be seen - and of the will to capture it, and not of watches and controls.
But I acept it. Why not? The number of participants, judging from the photos I’ve seen of previous editions, should not be exaggerated, what promises me the relative isolation that the slight misanthrope in me demands.
In truth, the ultimate pleasure of photography (as well of the vast majority of my multiple and varied interests) resides, for me , in the fact that it is a deeply intimate deed. “I” elevated to demiurge status through technological interpolation. And it doesn’t matter that “I” isn’t a synonym for Ansel Adams or Augusto Cabrita, to name but two. As it is said, one does what one can do, and the longing for seeing always comes first: what I have written on the image, and what the image lets me read. Sometimes it comes as an epiphany, a tremendous revelation. Many others it is but the realization of the trivial. Same as happens with the days, neatly overlapping each other without us doing much for it (is we exclude the dialectic systolic/diastolic cadenza, that although not being directly controlled by us, is also very profoundly “ours”).
9 to 9, 12 hours, 6 themes, they tell me at the departure point.
As in a real race, the day is made of motivation oscillations and some periods in between themes seem to be everlasting while others appear to be too short. At some point midway, I even loose all interest, when a theme is given that I find impossible to capture in the recommended locations. The lack of experience does not remind me that I could use the leftover time from other themes to go back to the theme that seemed impossible at first.
In the end, with more or less difficulty, I managed to deliver. I have six shots for the six themes and for some of them I even have multiple options. I am sure I will not win any prizes, bus still I have enough cards to show my hand.
Tomorrow, I’ll grab my backpack again and go back to the woods. Without a theme, or a checkpoint!
After all, this is my real marathon, the one I have been running for several years and which I think I will keep on running, until the sun goes down on me!