Amesterdão, 21- 24 de novembro - I
Anne Frank
é na memória que se guarda de um tempo que não vivi que começo a visita à cidade que nos acolhe na quase penumbra de um frio denso, nevoento.
Percorro a pouca distância que me leva de casa ao 263 da Prinsengracht, estonteado pela contínua cortina de bicicletas que parece correr e descorrer pelas ruas. Maravilha-me o quase silêncio que me confunde o comportamento de peão... ao ponto de quase ser atropelado uma ou duas vezes por ciclistas...por mea culpa, mea maxima culpa, que não olho para onde devo, porque aqui a estrada é das pessoas e não dos carros.
Compramos o bilhete e entramos, sem filas, com a calma que novembro nos permite, isentos da congestiva barafunda que habita os museus nos meses de sol.
Os espaços da casa estão praticamente nus. Mas sente-se o recheio pútrido da história, no soalho, nas paredes, nas escadas. Em cada sala um curto filme narra a infâmia. No último andar, os cadernos: a escrita de uma mão menina que não chegou ao fim, quando o fim estava tão próximo.
Todos sabemos, todos lemos, todos ouvimos, vezes sem conta. Tantas que aprendemos a conviver com a nojenta barbárie como se mais não fosse que um episódio que se capitula em compêndio de escola e se encerra na cronologia das curiosidades.
Não aqui. É por isso que estas paredes me pesam agora mais; que estas escadas, íngremes, me custam ainda mais a subir; que estes cadernos me obrigam a pensar nas crianças, que já fui, que já criei.
The memory of a time that I have not lived is the starting point for the visit to the city that welcomes us in the half-light of a dense and cloudy cold .
I cover the small distance that takes me from the apartment to n. 263 of Prinsengracht, stunned by the continuous curtain of bicycles that glides along the streets. I am in awe at the near silence, my pedestrian behavior totally bewildered… to the point of being almost ran over twice by cyclists… mea culpa, mea maxima culpa.. I should have looked to where it matters, for here the road is for the people, not for the cars.
We buy the tickets and we go in facing no queue at all, in the calm that November allows us, free from the congestive mayhem that inhabits museums during the sunny months.
The spaces within the house are virtually empty. But the putrid presence of the history can be felt on the floor, on the walls, on the steps. In each room a short video narrates the infamy. In the last floor, the notebooks: the writing of a childish hand that could not endure until the end, when the end was so very near.
We all know, we’ve all read, we’ve all heard, time and time again. So many times that we have learned to live with the filthy barbarity as if it were nothing more than a chapter of a school manual, a dot in the timeline of all the world’s great curiosities.
Not here. That is why these walls are falling down on me; that these steep stairs are even harder to climb, that these notebooks force me to think about the children.. the one that I was, those that I’ve raised.
I go out on the street to the comfort of a sun that, nonetheless, has appeared though timid and already oblique enough to gild the calm waters of the canal. I breathe the day. Somehow, I breathe freedom.
This was beautifully written Pedro. I wipe away my tears.
ResponderEliminarBeijos
SX
Thanks Sylvia. You are too kind as usual.. (and I love it :-)
ResponderEliminarabraços
p