26 de dezembro
Não tenho o conforto de uma religião. Nem sequer o procuro. Sou, por convicção e feitio, agnóstico. Viver é tarefa suficiente para me preocupar sem que tenha de me questionar sobre os quês e porquês de algo infinitamente superior, infinitamente capaz, infinitamente obscuro. Sou decididamente de agora e não do futuro, das promessas de vida eterna e ressurreição e de dar por mim sentado ao pé de outros que não conheço, à direita deste ou daquele, cujus regni non erit finis.
Não sinto o Natal (e já agora a Páscoa, por uma questão de contexto….) como celebração de crença. Até porque acredito que na religião, como em tantas outras coisas, somos pouco mais que produto de mera casuística. Afinal, nada na crença é genético e, não fora a imposição de condicionamento sociocultural e a roleta da geografia, todo o ser humano teria, no limite, pelo menos, liberdade de escolha…, a sempiterna questão do livre arbítrio…
Resta-me pois do Natal, aquilo que ele não é, mas em que o fomos transformando: o horror das prendas, as insuportáveis versões de canções que poderão, uma vez, ter sido engraçadas, a Julie Andrews e a Música no Coração, as renas, o pai natal e o festival de circo de Monte Carlo, as entediantes e deprimentes perguntas do costume com as mesmas respostas de sempre na TV… a feroz consciência sem abrigo (que no resto do ano, é acintosamente míope – apesar das comprometidas, militantes e respeitáveis exceções, é claro…) que toma, por um ou dois dias, conta dos pobrezinhos, a solidariedade catártica de um quilo de arroz que se troca pelo arrependimento de um voto, e, apesar de tudo, alguma alegria, essa sim verdadeiramente sincera, da companhia daqueles de quem mais gostamos, .. ah, e as rabanadas, também…
e Bach e Händel, sempre!
And they shall reign for ever and ever porque, na verdade, apesar do Natal, Bach e Händel é mesmo sempre que um homem quiser!
I don’t have the comfort of a religion. And I don’t even look for it. I am an agnostic, by conviction and nature. To live is enough of a chore for me to worry about the whys and whats of something infinitely superior, infinitely able, infinitely obscure. I am decidedly of now and not of the future, of the promises of eternal life and resurrection and of finding myself sitting by others whom I don’t know, to the right of this or that someone, 'cujus regni non erit finis'.
I don’t look at Christmas (or at Easter, to put it into context…) as a celebration of a belief. The more so since I believe that as far as religion is concerned, as in so many other instances, we are but the result of mere casuistics. After all, there is nothing genetic in beliefs and were it not for the imposition of sociocultiural conditioning and the roulette of geography, every human being would at the very least, have freedom of choice.. the everlasting question of 'liberum arbitrium'.
So I’m left with not what Christmas is but with what we’ve been transforming it into: the horror of imposed gifts, the unbearable versions of songs that may have once been nice, Julie Andrews and the Sound of Music, reindeer, Santa Claus and Monte Carlo’s circus festival, the usual boring and depressing questions with the same usual answers on TV... the deep-rooted homeless conscience (spitefully shortsighted throughout the rest of the year – in spite of some truly engaged, militant and respectable exceptions..) that, for a day or two, looks after the dispossessed, the cathartic solidarity of a packet of rice exchanged by the regret of a vote and, in spite of all this, some truly sincere joy, for being in the company of those we hold dear… all that and , of course, the mouth watering Rabanadas...
And Bach and Händel, always!
'And they shall reign for ever and ever' for, in all truth, Christmas notwithstanding, as it is said of the Season, Bach and Händel is... whenever a man wants them to be!
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