Passeamos à noite pelo De Wallen. Ao lado de canais, ao lado das igrejas, ao lado do quotidiano, ao lado de pessoas que por aqui passam, porque aqui moram; porque aqui querem passar; porque aqui querem comprar o prazer que lhes descansa o corpo; a que se obrigam em rito de passagem; que procuram por insalubre afirmação.
Nas estreitas vielas iluminadas pela fluorescência vermelha das largas janelas apinham-se passeantes, clientes, curiosos, empurrados pelo constante bruaá envolto no cheiro doce da erva que por todo o lado paira.
E no entanto, ali mesmo ao fim da rua, há uma calma deserta que se estende na curva do canal, em paleta de cores de quadro barroco.
Evening. We stroll in De Wallen along canals, churches, the day-to-day , dwellers, strollers; those looking to buy the pleasure that will ease their bodies; that they force upon themselves as a rite of passage; that they seek as a measure of unwholesome affirmation.
The narrow streets illuminated by the red fluorescence of the large windows are packed with onlookers, clients, the curious, all bound together in the never diming background noise that shares the air with the omnipresent sweet smell of grass.
And yet, down there, by the end of the street, a desert calm looms in the canal bend, as if painted with the palette of some baroque painting.
É já outro dia, o último.
Gastamos o que resta das horas da cidade em passeio descomprometido. Chove a espaços e faz frio.
É domingo, de manhã. Quase não há gente na rua. Aqui e ali pequenas língua de fumo denunciam gente nos barcos atracados à margem do grande canal.
Another day. The last one.
We spend what few hours we still have in an uncompromised walk. it rains now and then and the day is cold.
Sunday morning. The streets are practically empty. Here and there, narrow tongues of smoke bear witness to life inside the boats moored in the banks of the large canal.
Passamos de novo pelo De Wallen a caminho da estação central. As luzes vermelhas nunca se apagam, parece. No cimo da rua, na Basílica de S. Nicolau, uma missa para a comunidade de língua hispânica enche a longa nave que aguarda o início da celebração enquanto um sacerdote despacha batismos pontuados por palmas e choros infantis.
Tomamos o elétrico rápido. Olho pela janela larga, uma última vez, para o canal. Imortal, Brel senta-se a meu lado e dita-me a beleza crua, sublime, das palavras que declina na magnífica ironia de um tempo de valsa : dans le port d’Amesterdam il y a de marins qui chantent…
We pass by De Wallen again on our way to the central station. The red lights do not seem to go out ever. On top of the street, inside St. Nicolas Basilica , a mass for the Spanish speaking community fills in the long nave that awaits the beginning of the celebration while a priest, punctuated by applause and youthful cries, dispatches baptisms.
We climb on the tram. I look through the large window, one last time, towards the canal. Immortal, Brel seats by my side and dictates me the harsh, sublime, beauty of the words he declines in the magnificent irony of a waltz tempo: dans le port d’Amesterdam il y a de marins qui chantent…
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