Fly fishing
I
Uma águia pousou no mais alto dos ramos. Cá em baixo, o rio parecia fugir, mas, na verdade, nas águas quase paradas escudadas pelos salgueiros, eram os peixes quem mais se mexia na inquietude oscilante da sombra.
O pescador lançou a mosca. Uma e outra vez. Uma e outra vez. Uma e outra vez.
A águia mergulhou do alto e, de asas abertas para o pescador, cravou as garras numa truta.
II
Uma folha caiu da árvore e deu-se à terra enquanto a águia pousava de novo no mais alto dos ramos.
Ainda assim não era o mais alto que a terra ali chegava, pois a montanha era claramente mais alta que a árvore.
O Pescador, alheio à disputa entre a árvore, a águia e a montanha, lançou a mosca. Uma e outra vez. Uma e outra vez. Uma e outra vez.
Uma truta saltou na água e encheu de borrifos a cara do pescador.
III
A montanha olhou desdenhosa para a árvore. Altiva, coroava-se de branco perene, como se de real arminho se tratasse.
A águia levantou voo da árvore por não se querer imiscuir na disputa.
O pescador lançou a mosca. Uma e outra vez. Uma e outra vez. Uma e outra vez.
A truta mordeu tudo o que quis, menos a mosca.
IV
O sol baixou e a árvore alongou-se ainda mais pela sombra.
A montanha corou na promessa da penumbra, e o grito da águia ecoou uma última vez, como se do clarim de recolher se tratasse.
O pescador, desanimado, cortou o nó que ligava a mosca à linha e atirou-a ao rio.
A truta viu a mosca a boiar na água e, naturalmente, comeu-a.
I
An eagle landed on the highest branch. Down below, the river seemed to run, but in due truth, in the nearly still waters shielded by the willows, fish were what stirred the most in the oscillating quietness of the shadows.
The fisherman cast the fly. Time and time again. Time and time again.Time and time again.
The eagle dived from above and, wings wide opened towards the fisherman, drove its claws into a trout.
II
A leaf fell from the tree and touched ground, while the eagle landed again in the tallest of the branches.
Still it was not the highest that the earth itself reached there, for the mountain was clearly taller than the tree.
The fisherman, oblivious to the dispute between the tree, the eagle and the mountain, cast the fly. Time and time again. Time and time again. Time and time again.
A trout jumped out of the water and splashed the face of the fisherman.
III
The mountain looked at the tree in disdain. Arrogant, and crowned in everlasting white, as if in royal ermine.
The eagle took off again, for fear of getting caught in in the dispute.
The fisherman cast the fly. Time and time again. Time and time again.Time and time again.
But for the fly, the trout bit whatever she felt like biting.
IV
The sun went down and the shade seemed to stretch the tree even more.
The mountain blushed in the soft early evening light and the eagle’s yell echoed one last time, as if a curfew bugle.
The fisherman, disappointed, cut the knot that tied the fly to the line, and tossed it into the river.
The trout saw the fly floating in the water and, naturally, ate it.
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