Recortadas contra o céu, no limite do horizonte, invocam histórias de maravilha, de cavaleiros, duendes, círculos mágicos, tapetes que voam e de belas princesas presas pelos percalços de um destino feito na distância de amores que se não cumprem. Belas como as que ouviram contar tantas vezes, ao fim da tarde, como prenúncio de beijos, juras de amor, enlevos de romance, também ele à sua sombra escrito. Amores difíceis (ou, por certo, não haveria história que se contasse), conquanto ainda mais sinceros e verdadeiros, como qualquer manual da semiótica dos enlaces atesta.
Sem nunca dali terem saído, têm nas raízes o sabor a mediterrâneo com que engordam no verão os seus humildes mas valiosos frutos, pasto de recatados animais que neles se alimentam e nas rugas que lhes marcam a casca a lembrança do mesmo mar que lhes denuncia a origem.
Imóveis espreitam os dias, que por elas passam na escrita dos ciclos com que se acrescentam os anos. Dir-se-iam indiferentes…e, no entanto, nada estaria tão longe da verdade, pois que a eles reagem com a constância de um destino que, em contínuo, se alterna em histórias de flor e fruto, manifestações tangíveis da seiva que lhes incute a vida, alimentada a sol, o mesmo sol que ironicamente seca dura e greta a terra a que se agarram há tantos, tantos anos.
Mas isso é pelo tempo da canícula. Por esses dias, nada se atreve a correr à luz, nem mesmo as lebres que se protegem, nas horas de maior calor, nas tocas entre as rochas e o pardacento restolho que as máquinas antes cegaram.
Agora, no tempo em que as sementes se desdobram em ereta promessa de caule e folhas e que a campina explode prenhe de vida, a terra nem se vislumbra, coberta pelo imenso lençol que ganha a cor das flores. Amarelo aqui, branco acolá, azul mais ali.
Este é o tempo que admiram. O tempo em que se sabem soberbas, rainhas de corte, coroadas de verde vivo, cintilante, sós sobre o pequeno morro, de onde espreitam tudo em volta: o vento, a azáfama vertiginosa das abelhas, a graça oscilante das borboletas, o nervoso e frenético voo das libélulas, a imobilidade das lagartixas e, sempre, sempre, o inebriante e hipnótico ondular da campina tecida a cor, escondendo, aqui e ali, pacatas ovelhas indiferentes aos primeiros corrupios dos cordeiros que ainda amamentam.
Quatro irmãs no acaso da semente.
Para prazer de fotógrafos e outros diletantes.
Outlined against the sky, at the very end of the horizon, they summon tales of wonder, of knights, goblins, magic circles, carpets that fly and beautiful princesses caught in the vicissitudes of a destiny that unfolds in the distance of unfulfilled loves. As beautiful as those they heard countless times be told as the afternoon dwindled, as a prelude to kisses, love vows, raptures of a romance that it too is written under their shade. Impossible loves (or there would certainly be no story to be told), and yet even more sincere and true, as any handbook on the semiotics of enlacement will testify.
Without ever having left their place, they carry in their roots the taste of the mediterranean with which, in the summer, they fatten their humble and yet valuable fruits, sustenance for bashful animals that feed on them, and in the wrinkles that mar their skin the memory of the same sea that bears witness to their origin.
Motionless they peek on the days that run through them while writing the cycles that add on the years. Indifferent, it could be said of them… and yet nothing would ever be more distant from the truth, since they react with the constancy of a destiny which continually alternates in tales of flower and fruit, tangible manifestations of the sap that injects life unto them, fed by the same sun that ironically dries hard and cracks the soil to which they have been clinging to for so many years.
But all this happens during the times of extreme heat. In those days nothing dares to run in the light. Not even the hares that protect themselves, during the hours of more heat, in burrows between rocks and the drab stubble the machines have previously cut.
By now, in the days when the seeds unfold erectly, promising stem and leaves, and that the meadows explode pregnant of life, the soil cannot even be grasped, covered as it is by the endless sheet that adopts the colour of the flowers. Yellow here, white over there, blue there still…
These are the days they admire. The days during which they feel entitled to be arrogant, court queens, crowned in vivid, scintillating green, as they lay alone in the small hill from where they peep on everything around them: the wind, the vertiginous bustle of the bees, the oscillating grace of butterflies, the nervous and frenetic flight of the dragonflies, the immobility of lizards and always, always, the inebriating and hypnotic swelling of the meadows woven in colour, here and there hiding peaceful sheep, oblivious of the frolicking of the tender lambs they still suckle.
Four sisters drawn together by chance of seeds.
For the pleasure of photographers and other dilettantes.
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