Pensei-me, um dia, Europeu.
Hoje sei que sou apenas o mesmo que era há uns anos, por
acaso de nascença, e que a Europa, essa, também não foi raptada por Zeus (antes
pelo contrário) porque nenhum deus, ainda que assombrado pelo mais delirante
entusiasmo, quereria raptar o que não passa de um infame e monótono livro razão
(que até na contabilidade se pode achar ironia…).
Nas páginas pardas do deve e haver, a Alegria não é mais a
filha do Elísio: Schäuble em vez de Schiller,
gritam os ufanos servos da gleba, no êxtase do enxovalho.
Pensei-me um dia Europeu.
Hoje sei que não sou grego, nem ateniense, tampouco cidadão
de um mundo essencialmente livre, essencialmente próspero, essencialmente
solidário.
Pensei-me um dia Europeu.
Hoje olho os jornais e vejo outros, que um dia se pensaram
Europeus também
na rua
não por vontade, mas porque nada mais lhes resta
Pensei-me um dia Europeu.
Hoje sei-me apátrida de sonho
e apenas português de registo.
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