terça-feira, 24 de maio de 2016

Mozart, uma vez mais. O Requiem. Cantei-o no sábado, em Torres Novas. 50 minutos de dilacerante beleza, ora grave, ora alegre, ora mesmo exultante, à memória de alguém, dos outros, da nossa, mas, para mim, primeiro que tudo, à memória dele, que os escreveu em boa parte, e à do amigo que lhe os completou.

É tão diferente ouvir de dentro, do palco, quando se canta. Confinados à disciplina das nossas vozes, perde-se a noção de conjunto, mas ganha-se na perceção dos diálogos e dinâmicas entre naipes, da construção das harmonias. As fugas, por exemplo: o Kyrie… como soa tão diferente ouvido numa gravação ou lá em cima do palco, quando as vozes femininas flutuam, urgentes, por cima da gravidade pungente dos baixos…

E ver, cá de trás e de cima, mais alto que a orquestra, é também outro enorme privilégio: o trabalho de todos, o conjunto, a concentração dos executantes,  o vai-vem síncrono dos arcos, o grito dos metais, o circunspecto ribombar dos tímpanos, as mãos que dirigem como apêndices do olhar do maestro…

E depois, quase no fim, responder à doçura implorante  do soprano com a mesma prece: “Lux aeterna, Lux aeterna”...


Há alturas em que é mesmo bom ser!

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