sábado, 30 de abril de 2022

GR11-E9 (Parte 4) - Trafaria - Cacilhas

GR11-E9 (Parte 3) - Fonte da Telha - Praia do Meco

GR11-E9 (Parte 2) - Praia do Meco - Cabo Espichel

GR11-E9 (Parte 1) - Trafaria - Fonte da Telha





E porque não continuar? a ideia não me saía da cabeça há já algum tempo porque, depois de ter concluído a ligação da Trafaria ao cabo Espichel, fazia todo o sentido continuar até ao acidente geográfico que determina o início da "margem Sul", por isso, na tarde soalheira de véspera de  Dia da Liberdade, meti-me a caminho de carro, de novo, até à Trafaria, para de lá partir para calcorrear a estrada que leva a Cacilhas.

O caminho é todo feito em asfalto e não é particularmente difícil, embora os primeiros dois quilómetros sejam sempre a subir, desde a estação fluvial da Trafaria até ao cruzamento para o Murfácem. Mas como a seguir a uma subida, regra geral, há de haver uma descida, não é nada que qualquer caminhante, minimamente habituado a andar, não faça com facilidade.



A primavera é uma excelente ocasião para caminhar. As bermas das estradas, mesmo as menos interessantes, têm sempre qualquer coisa para oferecer e, enquanto subia, várias vezes fui parando para observar as muitas flores silvestres e insetos que elas atraem.


Esta é ainda uma zona marcadamente rural, com algumas quintas ainda a arrancar da terra sustento, quanto mais não seja, para alimentar os bonitos cavalos que, tal como eu, tiravam prazer da belíssima tarde.



Um pouco mais à frente a paisagem muda por completo; estamos nas faldas da cidade. O Edifício da faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova marca claramente a transição. Para Oeste daqui é o império do betão, embora o Monte da Caparica,  última vila de casas térreas e uma igreja, viçosa, no seu  óbvio ar de  recente restauro, nos convide a uma rápida incursão.

Um cartaz indica que aqui será criado mais um parque verde, para desfrute da população. Nunca são demais, espero vê-lo em breve.







Na extrema do Monte da Caparica, percebe-se de onde o toponímico... a partir daqui é sempre a descer até Cacilhas, e a posição elevada permite uma visão sobre os terenos que ladeiam a linha férrea com o Cento Comercial, a servir de fortaleza de guarda ao Feijó e Laranjeiro


Há já alguns anos, por ter passado a trabalhar em casa, que não apanho o comboio... No entanto continuo a achar que este e o metro e, mais recentemente, o passe social a preço módico, foram  investimentos verdadeiramente estruturantes para a população desta margem.





Ao lado do comboio, correm as hortas. Intriga-me se algum sustento se consegue tirar destes campos resgatados às bermas das estradas, trabalhados a pulso e suor. Não se vê uma erva entre as leiras de milho e batatas (?), mas a água, essa é a das chuvas e nem batata nem milho são culturas de sequeiro... espero que sim, que tanto esforço merece, seguramente, recompensa.


A Rotunda do Hospital marca a entrada na grande urbe. A partir de aqui é Almada, a cidade. Sem que tal fosse desígnio, seguramente, e apenas acessível a olhar dos mais curiosos, o redondel verde premeia-nos com uma magnífica surpresa: orquídeas, às dezenas, pelo menos quatro espécies identifiquei eu, que de botânica percebo quase nada.


      

Esquerda para a direita: Anacamptis coriophora; Ophrys apifera;  Serapias strictiflora; Serapias parviflora.

Almada, meio da tarde de um sábado primaveril é uma cidade como tantas outras: as esplanadas estão bem ocupadas por conversas de circunstância adoçadas a café ou cerveja, as ruas desertas, de quando em vez ouve-se o chiar das rodas do metro sobre os carris... sigo em bom passo que é sempre a descer e nada de fotogénico se me atravessa em frente (ou mesmo de lado).

Cacilhas anuncia-se com o início da rua pedonal que me leva por entre as esplanadas dos muitos restaurantes que convidam residentes e turistas que, de novo, por aqui se notam. Poucas centenas de metros faltam para terminar o meu passeio. As obras  no largo dão um ar de desarranjo ao bonito chafariz, réplica do original inaugurado em 1874 e destruído nos anos 60 do século passado após o advento da água canalisada, que ali foi colocado, em boa hora, pela Câmara Municipal em 2012.
 



Queria acabar mesmo junto ao farol, não o posso fazer porque a área está vedada por causa das obras (o que não impede alguns pacíficos pescadores de trespassarem a vedação..)

Quase tão velho quanto o chafariz original, o velho farol , com 12 metros de altura, foi inaugurado em 1886 e desativado em 1978.

A história,  no entanto, guarda amiúde surpresas para deleite dos que a procuram melhor conhecer e a busca de alguma informação sobre esta singular infraestrutura conduz-me, de repente à coincidência:
estive na Ilha Terceira há muito pouco tempo e lá, visitei o farol da Serreta. Ora, o farol de Cacilhas, que era originalmente verde e não vermelho e estava localizado um pouco mais perto do cais dos cacilheiros do que agora está, fez uma temporada de serviço, entre 1983 e 2004,... na Serreta, substituindo o farol que alí existia e que foi danificado pelo grande sismo de 1980. 

A tinta vermelha está já bastante deslavada pela ação dos elementos, espero que agora que tantas obras por ali se fazem, se não esqueçam de revestir o velho farol com a luz que tanto merece. 


Farol da Serreta, Ilha Terceira, Açores

Passeio terminado. o "conta quilómetros" da aplicação diz-me que foram 10, 42 km, com um tempo total de 2h 24min, incluindo aqui as pausas para visita à igreja e desfrute da paisagem.

Espero pela boleia que me há de levar de volta à Trafaria, para recuperar o carro que ali deixei estacionado, a pensar já que há caminho para o outro lado do rio que valeria a pena fazer.... a ver vamos....




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