Mata Nacional dos Medos - Fonte da Telha |
No calor, que se levanta seco de um chão pobre e sedento, soergue-se o mistério: há cor, muita! Tanta que vence qualquer comparação com o imenso pano azul que fecha todo o cenário na volta do proscénio.
Não fora assim e o estio seria ainda mais seco, mais pardento…mais verão; de todas, a estação que menos procuro, eu, caçador de nuvens, admirador de nada, voyeur de céus e ar.
Mata Nacional dos medos - Fonte da Telha |
É preciso ir de novo ao fundo, como se os olhos, mais que o corpo, respondessem automáticos à imposição da gravidade: falam talvez de sol, talvez de mar, talvez de ambos, e entusiasmadas com a sua presença próxima, agitam-se ao menor sopro. Oferecem à brisa o mistério de um corpo rasgado como flâmula de cavaleiro medieval, em tons vários de uma paleta que se estende entre rosa e lilás.
Frágeis, assinam-se em pose de pretensa humildade. Na verdade, assentes na nudez ereta do fino e apagado caule convocam o belo.
Dianthus Broteri
Há quem o saiba e responda, passeando um corpo frágil, num voo que ainda o é mais, curto, quase desajeitado. E, no entanto, se para o belo era a chamada, mais justa não poderia ser a resposta que, no brilho fátuo de asas de filigrana, ondula hesitante entre o castanho da erva seca e a fragância verde de tomilho e rosmaninho.
Nemoptera bipennis
Olho o sol e penso relógio: está na hora. Saio da mata suado, cansado, e (eu, que não procuro o verão) infinitamente contente!
Mata Nacional dos Medos - Fonte da Telha
The heath ascending from a soil both poor and thirsty gives way to mystery: there’s colour. Lots of it! So much so that it can easily prevail in any comparison with the endless blue that encircles the proscenium.
Were it not like that then summer would be even drier, drabber…summery; of the four, the season that I long for the least; I, the hunter of clouds, the admirer of naught, a voyeur of skies and air.
One has to look down deeper again, as if the eyes, more that the body, automatically answer the call of gravity: they probably talk about the sun, or the sea, or both, and excited by its proximity, they flutter in the slightest draft. They offer the breeze the mystery of a torn body as if the pennant of some medieval knight, in varying shades of a rose and lilac palette. All too fragile, they affect a pose of pretended modesty. In truth, sitting atop the erect nakedness of a thin and unassuming stem they summon beauty.
Some know it and heed the call perambulating a fragile body, in an even more fragile, short, almost awkward sort of flight.
But in spite of it, and if beauty was the object of the call, no fairer answer could there be than the ethereal glamour of filigree wings, hesitantly waving amidst the brown of the dried grass and the green fragrance of thyme and rosemary.
I look at the sun and think watch: it’s high time. I leave the woods sweaty, tired, and (I, who seek not summer) infinitely happy!
Nemoptera bipennis
Brilliant photos as always Pedro. Lovely! Sxxx
ResponderEliminarSylvia
ResponderEliminardouble thanks for the always generous and kind comments and also for the precious help with the translation.
Love
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