segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, 
tantas quantas me promete a memória

Journey notes stolen from a log that I haven't kept,
in parts,
As many as my memory can promise

XXVII

Fazemos as malas pela última vez. Hoje já  vamos dormir  em Portugal e, como a tirada é bastante longa, saímos cedo, após um reconfortante e revigorante pequeno almoço.

À saída de Arnedo, lá está o morro com o castelo que, leio depois, passou por  romanos e árabes, e que durante a reconquista terá mudado várias vezes de mãos entre a lua e a estrela e a cruz.

We pack for the last time. Tonight we will be sleeping in Portugal and, as the day's journey is pretty long, we leave early, after a comforting and invigorating breakfast.

The hill with the castle which, I later read, has gone through roman and arab hands and  that during the reconquest would have changed hands several times between the moon and star and the cross, stands by the side of the road  at the city's end. 



Tento fotografá-lo cá de baixo da rotunda, não se percebe o que é… mais à frente paro de novo ao pé de uma bomba de gasolina. Na encosta do morro, do lado de lá da estrada, existem também grutas. Pelo menos não me hei de ir embora sem levar uma ou duas fotografias, ainda que más, das cuevas que por aqui abundam.

I try to photograph it from down here, at the roundabout, but it's hard to tell what it is.. a bit further  up the road Istop again by a gas station. On the hillside, on the other side of the road, there are caves again. At least I will no go away without taking one of two shots, even if bad, of the "cuevas" that are so abundant here.







Procuramos o caminho mais rápido, a autoestrada.  É um compromisso: troca-se o prazer de ver, o sabor da descoberta, pela lisura do asfalto, a velocidade, a facilidade em chegar. Quilómetro após quilómetro de Rioja desfilam ao ritmo longilíneo de 4 faixas e pouco trânsito. Temos por norte Burgos, e depois  Valladolid e Zamora, até entrarmos de novo em Portugal Por Quintanilha.

Vinha, serra e olival, a Ibéria que é a nossa também passa por nós rápida, muitas vezes um pouco acima do limite que os sinais indicam.

We look for the fastest way, the highway. We trade the pleasure of seeing, the taste of discovery, for the smoothness of the asphalt, speed, arriving made easy. Kilometre after kilometre of Rioja speed by us to the longitudinal rhythm of  four almost empty lanes. We head towards Burgos, and then Valladolid and Zamora, until we enter Portugal again at Quintanilha.

Vines, hills and olive trees, the Iberia that is the same as ours also, goes by us fast, often a little above teh limit that the traffic sings indicate... 



XXVIII

Mas mesmo na autoestrada pode surgir o inesperado e um enorme sinal alerta para um desvio que dará acesso aos mosteiros de San Millán de la Cogolla, também classificados como Património da Humanidade. É o último dia, a última oportunidade, faço sinal, encosto-me à faixa da direita e saio no desvio. Cerca de vinte quilómetros depois subimos serra acima até ao Mosteiro de Yuso, o mosteiro de cima (que na verdade os mosteiros de San Millán são dois, o de cima e o maior, na povoação, o de baixo, de Suso). Uma rápida visita dá para apreciar o fresco da montanha, a paz da ausência, a cor as últimas flores de verão que ainda por aqui despontam.

But even on highways can the unexpected arise and a huge sign board alerts us for the eminent coming of an exit that will give access to the monasteries of San Millán de la Cogolla, also classified as a World Heritage Site. It is our last day, our last chance, I turn on the blinker, take to the lane on the right and exit the higway. Some 20 kilometres later we climb up the hills till the Monsatery of Yuso, the monastery of above (for, in truth,  the monasteries of San Millán are two , that of above, and the larger, in the village, that of below, of Suso). A Quick visit is enough to enjoy  the coolness of the mountain, the peace of absence, the colours of the last summer flowers that are still thriving here.



Descemos à vila. O enorme mosteiro hoje tem um Parador anexo e estranho a enorme quantidade de carros e pessoas que se aglomeram à porta de entrada. Uma folha colada na bilheteira indica que as visitas da manhã já estão esgotadas para hoje. Fico a saber que este é o mosteiro que alberga aquela que é apresentada como a primeira manifestação escrita de língua castelhana (diz a Wiki, que assim não é…),  las Glosas Emilianenses  - daí provavelmente também a sua aparente popularidade entre visitantes.

We go down to the village. The huge monastery serves as a "Parador" these days and I wonder why are there  so many cars and why so many people queue at the entrance door. A sheet of paper on the window of the ticket office says that visits for the morning are sold out. I read that this is the monastery where what is given as the first manifestation of written Castellan is kept (Wiki says that this is not the case….), las Glosas Emilianenses , hence probably also its apparent popularity among visitors.




XXIX

Entre mosteiros e uma reconfortante chávena de café, gastamos uma boa hora e meia. Há que partir de novo. Reganhamos a autoestrada após um périplo por algumas vilas do interior onde a vida se faz de agricultura e vinho. Cruzamos Burgos por fora, com a torre da catedral bem visível por sobre o casario.  Mais à frente, Valladolid e Castela e Leão de novo; parece que foi ontem que por aqui passámos. Paramos para almoçar num centro comercial e para as últimas compras.

Na verdade embora ainda estejamos em Espanha, a proximidade do nosso país, que não de casa, faz-nos, logo ali, acabar as férias.  De inquietos para partir, passamos a inquietos para voltar, e os quilómetros que galgamos rápido, uns atrás dos outros, ainda assim parecem multiplicar-se.

A estrada já não é descoberta… é cansaço; é chatice. Passamos Zamora; nem pensar em parar. Olho para os marcos quilométricos: de um em um a distância vai penosamente diminuindo. Corremos agora com o sol nas costas; também ele nos empurra. Um longo viaduto é tudo o que nos separa do final da viagem, que ainda assim só acabará daqui a dois dias, 600 quilómetros mais a sul…

Na berma estrada, Um enorme sinal azul centra o nome Portugal numa bela e dourada constelação Europeia.

Between monasteries and a comforting cup of coffee we spend a good one and a half ours. It’s time to move on. We take to the highway again after passing through some villages where life is made of wine and agriculture. We go around Burgos, the tower of the cathedral clearly visible above all the rooftops . Further afield Valladolid, Castilla y León again; it seems that is was only yesterday that we were here. We stop for a quick lunch at a shopping mall.

In truth although being still in Spain, the proximity of our own country, even if not of our home, makes us end our holidays right there. From restless to go, we turn to restless to return, and yet  the kilometres we hurdle fast, one after the other, seem to multiply themselves.

The road isn’t a discovery any longer… it is exhaustion, it is boredom. We go by Zamora; we don’t even dare thinking about stopping. I look at the mileage marks: one by one the distance does painstakingly shrink. We run now with the sun on our backs; and it is pushing us. A long bridge is all that separates us from the journey’s end, even though it will only be completed in two days’ time and some 600 km later.

On the side of the road a large blue sign centres the name Portugal in an beautiful  and golden European constellation.


XXX

Nestas linhas um último parágrafo, uma única palavra, um ponto que a retoma em sentido: Fim.

On these lines one last paragraph, a single word, a dot that redoubles its meaning; End.

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