GR11-E9 (Parte 8) - Guincho - Cabo da Roca - Praia Grande
07 de Setembro de 2024
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GR11-E9 (Parte 4) - Trafaria - Cacilhas
Um dia excelente para caminhar, pensei, quando saí do autocarro na exata paragem (apenas do outro lado da estrada), na Praia do Guincho, em que, há uns meses, tinha embarcado de volta a Cascais, após ter concluído a ligação com Oeiras.
Aqui tinha ficado; daqui parti de novo, não sem antes me ter deleitado a observar a forma como o manto quente da luz da manhã começava a dourar as dunas e a acrescentar contraste às nuvens que, em breve, se esboroariam no céu.
Olhei o relógio: 8h12. Tinha-me levantado antes das 5 para poder aqui estar àquela hora e só não conseguira chegar uns 20 minutos mais cedo porque o comboio se atrasou um pedacito, o que me fez perder o autocarro que contava apanhar em cascais e que me permitiria começar antes das 8, já que gosto mesmo de começar a andar cedo, para beneficiar da frescura das primeiras horas do dia.
Não era um atraso grande e, sem mais conversas, fiz-me ao caminho, procurando seguir parte de uma trilha gravada no Wikilok por alguém que fizera o trajeto de ida e volta entre o cabo e a praia.
Lá de cima, da peninha, a vista também devia ser bem bonita.
Tinha analisado com cuidado o trajeto gravado e decidi que não iria fazer a ligação pelo trilho mais ocidental, já que este seria seguramente muito mais difícil e até arriscado, considerado a orografia da área, cheia de muito pronunciadas subidas e descidas e também porque, como habitualmente, o iria fazer sozinho.
Até chegar ao trilho gravado, que começava ao pé do Forte do Guincho, teria ainda que percorrer cerca de 1,7 km, por isso, sem mais delongas, pus-me a caminho.
Os carros eram a última coisa que queria ver encostados ao velho forte....
O Forte lá estava, já com alguns carros, provavelmente de pescadores, a ele encostados o que me impediu uma fotografia mais engraçadita da construção. decidi que não lhe chegaria ao pé, porque não valia a pena e deixei-me ficar pelo abandonado restaurante na Praia do Abano, encostado ao qual parei um pouco para me proteger com o recomendável protetor solar, já que o dia, apesar de fresco, ia descoberto.
Na Praia do Abano. o vetusto restaurante tem, decididamente, um ar.... bem abanado.
A visão do santuário da Peninha iria acompanhar-me durante os primeiros quilómetros, calcados entre mato rasteiro e terra batida
O piso, que nos primeiros três km desde o forte era de trilho aberto sobre o mato rasteiro, passou, no Arneiro, a estrada de terra batida, por vezes maltratada, mas sem qualquer dificuldade de utilização, a não ser pela constante subida.
... o que, a somar ao piso duro e limpo, tornava o caminho numa fácil e agradável proposta para as minhas velhas, mas confortáveis, botas.
Olhar para trás, ver o que já andámos, ajuda-nos a seguir em frente....
... ainda assim, há espaço e tempo para refletir sobre as coisas verdadeiramente importantes da vida: será o homem no topo do morro, recortado contra o céu, o personagem que ficou imortalizado na belíssima canção dos Beatles: day after day, alone on a hill....
Só a partir do momento em que passei pela extremidade sul da vila da Azoia, começou o caminho a descer, para me conduzir novamente até à zona mais perto da costa e ao constante sobe e desce dos montes e vales cobertos de mato que ali existem.
É também um pouco depois de se passar pela Azoia que se tem a primeira visão do velho farol que anuncia o cabo da Roca. O caminho faz-se depois por uma estrada de terra batida que me levou pela crista de uma elevação até me ver obrigado a entrar no carrocel de sobe e desce, que teria que franquear para finalmente apanhar a estrada do Cabo, a escassos 200 m deste.
A primeira imagem do farol do Cabo da Roca, à saída de uma curva no caminho, que, daqui para a frente, endureceu consideravelmente, não só pela orografia do terreno, como também pela qualidade do piso, muitas vezes em rocha ou cascalho solto, a pedir atenção redobrada, em particular nas difíceis e acentuadas descidas.
Menos de um km, mas sem dúvida uma das partes mais exigente do dia, com duas descidas bastante difíceis pelo piso de gravilha solta e pela pendente que apresentavam, muito pronunciada. Fora para não ter que passar muitas destas que tinha optado pela via mais interior e senti-me bem contente por o ter feito, porque não é coisa que gostasse de fazer sozinho, se é que o conseguiria, tantas e tão abruptas são as subidas e descidas mais junto às escarpas....
Por fim pus o pé e a mal tratada bota no asfalto da estrada do Cabo da Roca, já mesmo ao pé do edifício do farol.
Uma multidão por ali andava, particularmente dividida em grupos que um constante comboio de autocarros depositava e recolhia. Bandeiras Turcas e Japonesas e linguajar inglês, Brasileiro e Alemão deram-me pistas para a origem dos visitantes.
Cá acima chegado passei uns bons minutos a observar o farol, que gostava de ter podido visitar, com calma e co menos gente ao meu redor.
Procurei o posto de turismo para adquirir um postal. Uma funcionária que nem se dignou levantar os olhos quando me aproximei do balcão, parecendo ignorar-me por um bom pedaço de tempo lá se dignou a atender-me, depois de lhe ter dirigido um ou dois "por favor...".... rasou a má-criação, e não pareceu nada incomodada com o facto.... mesmo o género de pessoa talhada para a função que ali desempenhava....
Pouco faltaria para o meio-dia e procurei uma sombra para comer uma sandes e um sumo que comigo levara, mas infelizmente não vislumbrei lugar algum que me conviesse a não ser a face lateral do restaurante, que tinha alguma proteção do sol. Por ali fiquei, de pé, a comer.
Findo o repasto entrei para tomar um café e, depois, de dar mais uma pequena volta pela falésia do cabo, pus-me a andar dali para fora, porque havia gente e confusão a mais para mim que tão habituado estou ao recato da caminhada solitária.
Não me posso queixar. Sou também turista praticante na terra dos outros, mas há sítios em que a música que mais gosto de ouvir é a do vento ou do mar, no seu eterno marulhar...
... como a que tocava deste lado... maravilhosa!
Aqui tive também que me confrontar com um pedaço de caminho em areia solta, coisa que verdadeiramente detesto, mas que junto à costa é bastante usual :-(.
Mas voltemos atrás: o início do trilho até à falésia de onde se mira a bela Praia da Ursa é fácil e a direito, seguindo pela crista de uma elevação. Segue-se-lhe uma descida abrupta seguida de uma igualmente árdua subida,, preparação para uma das descidas mais complicadas de todo o trilho, que nos leva muito perto do areal, para voltar novamente a subir a vertente oposta de nova dobra do terreno.
Chegar lá abaixo não é fácil, tanto mais que haverá que voltar cá para cima depois....
A vista que nos premeia, atingido o topo da falésia, é, no entanto, recompensa suficiente para o esforço despendido: de um lado a praia com o farol do Cabo da Roca, ao fundo, plasmado contra o céu e, do outro, os rochedos que dão nome à praia, embora a ursa a mim mais me pareça uma galinha que o bicho peludo que dizem representar.
Para mim, o leixão que dá nome à praia lembra-me mais uma galinha do que uma ursa, mas seja que animal for, o que conta é a grande beleza do sítio.
Foram vários os vales como este ou ainda muito mais escavados que tive que atravessar ao longo do passeio..
... mas, por cada um que passava, chegado ao cimo da elevação que se lhe seguia, a vista era sempre surpreendente, embora o sol começasse já a estar muito alto e a roubar volume e contraste à paisagem.
O troço que se segue conduz-nos em boa pista e estrada de terra batida até interceptar a estrada que termina na Praia da Adraga.
Depois de avanços e recuos múltiplos, decidi ir procurar caminho mais à frente e, diante de uma clareira que dá acesso a um conjunto de pinheiros, lá vislumbrei a trilha, a correr mais acima. Consegui atingi-la, ainda que para isso, como disse, tivesse que rastejar uns metros sob o coberto dos arbustos, para até ela chegar.
Cansativa, esta secção, também, devido à areia solta que, por ali, faz de piso. No entanto, rapidamente desaparece ao chegar ao topo da falésia e, a partir daí, não há mais dificuldades dignas de nota a suplantar até se chegar à escadaria que desce a encosta para o limite sul da Praia Grande.
Esta escadaria tem um sinal que avisa que a passagem está condicionada, por causa de instabilidade das arribas. Eu descia-a, no entanto, porque queria ver as pegadas de dinossauro, que só dela se conseguem vislumbrar na parede de pedra que lhe é fronteira.
A escadaria e o areal do meu objetivo do dia... não podia terminar sem fazer uns quantos metros no piso que mais detesto... areia solta :-)
Com cerca de uma hora para queimar, deixe-me a descansar numa esplanada, beberricando duas geladas cervejas sem álcool que me souberam imensamente bem, sequioso e encalorado que estava.
Nunca mais vou é sem levar o fato de banho.... e a verdade é que talvez não precisasse... já de volta a casa li que a prática do naturismo é tolerada na Praia Grande... tivesse eu sabido antes...
Restava-me apanhar o autocarro, o que fiz algum tempo depois, tomando novamente partido da muito recomendável facilidade que nos deu o passe para os transportes públicos da região da Grande Lisboa. Em Sintra, tomei o comboio para Lisboa com transferência, em Sete Rios, para a estação do Pragal na margem sul, onde apanhei ainda o metro até Cacilhas, local onde tinha deixado o carro.
Foi nele que, por fim. me dirigi a casa, depois de um dia que me deixou cansado mas imensamente contente pela beleza das paisagens que me fora dado contemplar e por ter, uma vez mais, atingido o objetivo que me tinha proposto alcançar.
Não posso no entanto fechar o texto sem deixar a referência aos dois trajetos que utilizei parcialmente como guia de percurso para a minha caminhada, agradecendo aos seus autores a disponibilização no Wikilok:
Wikiloc | Trilha 03 A Costa dos Anéis ooo Cabo da Roca - Forte do Guincho (usado para o trajeto Praia do Guincho - Cabo da Roca)
Wikiloc | Trilha Cabo a Cabo (Roca-Carvoeiro)-dia 1 (usado para o trajeto Cabo da Roca - Praia Grande)
O bonito postal que comprei e expedi do Posto de Turismo do Cabo da Roca