terça-feira, 4 de março de 2014


No vento que sopra forte e varre a escarpa onde, a custo, ferro as botas e o olhar, sopra também a consciência de que nada é mais o que acabou de ser. Óbvia constatação, adequada no entanto, agora que a linha cruza uma vez mais o buraco da agulha para fechar o ponto e rematar a última casa do calendário.

O vento que sopra forte e varre a escarpa, empurra-me para terra, quando eu anseio  por mar.

O vento que sopra forte e varre a escarpa, é o mesmo que antes afastou a erva alta que escondia a graça de uma  orquídea solitária.


O vento que sopra forte e varre a escarpa invoca a música dos que há pouco me deixaram a sala para sempre esgotada: Lou Reed, Pete Seeger, Paco de Lucia.

O vento que sopra forte e varre a escarpa, traz a lembrança do que há-de passar. Eu, levado por ele, olho para trás, para o que foi...

Levarei um ano certo de escrita e muitos outros de idade, quando fechar a entrada de hoje. Na verdade, efemérides completamente irrelevantes para a história da humanidade, mas recheadas de sentido para a história do homem, quanto mais não seja pelo que uma delas implica de subtração ao total vital estatisticamente consagrado.

O vento que sopra forte e varre a escarpa, deixa-me a sós com a memória.

O vento que sopra forte e varre a escarpa, de tanto o ouvir,  sabe-me a paz!

The wind that blows hard and sweeps the cliff where I struggle to plant both boots and sight, carries the conscience that nothing is what it just was an instant ago. An obvious, albeit fitting, observation,  now that the thread runs once again through the hole in the needle, for the last ending  stitch in the calendar.

The wind that blows hard and sweeps the cliff, pushes me to shore, when I long for sea.
The wind that blows hard and sweeps the cliff is the same that has just blown the tall grass aside to reveal the gracefulness of a solitary orchid.

The wind that blows hard and sweeps the cliff invokes the music of those that have just left me forever with a sold-out room: Lou Reed, Pete Seeger, Paco de Lucia.

The wind that blows hard and sweeps the cliff, carries the remembrance  of what there is to be.  Gusted, I look back to what it was….

Exactly one  year of writing and many more of age will I be carrying when I close today’s entry. In all, both are celebrations absolutely irrelevant to the history of mankind, although meaningful to the history of the man, if not for the fact that one of them  entails a subtraction to the statistically admitted  vital grand total.

The wind that blows hard and sweeps the cliff, leaves me alone with my memories.

The wind that blows hard and sweeps the cliff,  is relentless and to me it spells peace!


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