quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, 
tantas quantas me promete a memória

Journey notes stolen from a log that I haven't kept,
in parts,
As many as my memory can promise

10 de agosto

Embalse de Lanuza. Este o destino que tomamos após um pequeno almoço com um dia claro e a prometer-se quente, a entrar pela janela escancarada da sala.



Nâo é longe e seguimos sem pressa, desta vez sem voltar atrás, antes deixando-nos ir estrada fora, em direção a Escarilla. As sombras ainda são compridas e é impossível não parar aqui e ali para pôr a máquina fotográfica a uso, tantas são as vistas que queremos guardar.

Escarilla
 
O início do trilho que segue a margem poente da barragem fica logo ao inicio da vila, bem perto de um grande largo onde estaciono.




Após uma pequena subida, o trilho inicia a descida até à margem da grande lagoa e persegue-a até ao paredão a barragem, enquanto o grande pano de água esmeralda serve de espelho às impressionantes paisagens que se revelam para prazer e fruição dos caminhantes.


Peña Foratata e Embalse de Lanuza

Poucos, aqueles com que nos cruzamos. Tudo é calma e sossego. Até a brisa, que não corre, para recato das árvores, fonte de apreciada sombra, que o sol vai quente e o ar húmido.



A meio do lago, do outro lado fica Lanuza, ou a parte que resta dela, a nova, recuperada, que esta é uma povoação quase ao estilo da nossa aldeia da Luz. Parte da povoação original estará debaixo do manto verde da água. Ao lado da povoação um grande anfiteatro desce para um palco à borda de água. Leio mais tarde que aqui se fazem festivais de música. E que bom que deve ser, um fim de tarde, com o sol a recolher por detrás das montanhas envolto em banda sonora.


Lanuza


O trilho não podia estar mais cuidado: a espaços, bancos convidam à paragem, à contemplação, para aqueles que a isso são mais dados, porque para os outros há sempre as mesas para um piquenique entre amigos ou família.




Sem pressas, chegamos ao fim do trilho. Decidimos voltar para trás pelo mesmo caminho. Do outro lado da lagoa, o percurso faz-se pela estrada e, para além e mais longo, não me parece que tenha assim tanto interesse, sendo também totalmente exposto, sem vislumbre de sombra.



Um ou dois kayaks fendem agora a água e o ar com os gritos dos remadores que, em bem humorada disputa, se desafiam mutuamente.

Volto a fotografar a Peña Foratata, o grande pico que se ergue ao fundo do lago, agora que o sol já vai mais alto e que o azul polarizado do céu fica mais escuro e contrastado.

Já no parque de estacionamento tomamos o carro e percorrermos rápidos a pequena vila de Sallent de Galego, de trânsito difícil, pelo apertado das ruas acrescido de obras de manutenção nos pavimentos. Dirigimo-nos a Lanuza. Queremos ver a vila.

                                                                           Lanuza
                                 
Simpática, bem cuidada. Os edifícios, de corte antigo não escondem, no entanto,  a tenra idade, como se pode ver gravado a escopro por cima de algumas portas.

Peña Foratata


Não nos demoramos que ainda temos tempo para ir a Panticosa fazer outra caminhada, pequena, a do Mirador de Santa Maria.

A deslocação de carro é rápida e em pouco tempo começamos a ascensão para o miradouro. 

Estranhamente, o início do percurso, após uma pequena subida inicial, faz-se por uma descida, com alguma pedra solta. À medida quer vamos descendo, não podemos deixar de pensar que estamos a caminhar na direção errada, mas pouco depois o carreiro empina, para nunca mais largar.


Está calor… húmido… e a coisa piora assim que saímos da sombra para a inclemência de um sol que chispa na pedra e nas costas.

O último troço leva-nos por fim a subir até uma plataforma com corrimão de madeira sobre o teto de uma das abandonadas casamatas que aqui, na crista do monte, em tempos serviram de postos militares de observação.

A vista, desimpedida e larga, vale bem o esforço da subida. Pena é que a hora seja péssima com o sol a pique a queimar um horizonte que, de tão belo, não merece o deslavado e manso contraste que o forra, para quem olha de cá de cima do morro.

O caminho de descida faz-se pelo mesmo trajeto, só que mais rápido, claro.


Panticosa - Vista a partir do M irador de Santa Maria

Em Panticosa, compramos bebidas frescas e almoço, que comemos depois no conforto e fresco do apartamento.

A tarde é de passeio. Temos tanto para ver e tão pouco tempo… seguimos direitos  a Jaca, mas não há como ficar indiferente aos sinais das placas castanhas que nos indicam pontos de interesse...
Castelo de Larrés, leio e tomo a direita da rotunda. Poucos quilómetros depois, feitos em planura onde o cereal vivia agora na lembrança dourada dos caules cortados rente de ambos os lados da estrada, um pequeno povoado com duas torres que entendo depois serem o castelo e que albergam também um museu de desenho. Não pressinto vivalma e está tudo fechado... regressamos.

Castelo de Larrés

Jaca: à entrada, torna-se óbvio que esta é uma cidade de militares. Quarteis, vários, e  as muralhas de uma cidadela que se impõe sobre um relvado que mantém à distância o bulício do trânsito. Só temos tempo para visitar por fora. Procuramos o posto de turismo e, munidos da planta, “ligamos os pontos” de interesse que, afinal, não são assim tantos nem muito distantes um dos outros.

Jaca - A cidadela

Jaca

Temos de regressar. Procuramos a estrada por onde viemos e, como tantas vezes, perdemo-nos. Insisto… volto atrás … e perco-me de novo…por fim lá consigo retomar o caminho, mas não sem que antes percorra alguns dos bairros mais periféricos da cidade que não contava, de todo, visitar….

A estrada corre por um  largo vale de grandes campos cultivados, acompanhando o que parece a “cicatriz” de uma zona de falha tectónica, lembrando uma longa e direita espinha dorsal.

Viramos para Biescas e de novo o caminho que já conhecemos, também correndo por um vale, embora muito mais estreito e acidentado.

Biescas

Biescas parecia recomendar paragem. Não é hoje o melhor dia: há feira e carroceis, e barulho entrecortado com calor. Não nos demoramos mais que uma gelada cerveja.

A sombra já vai tomando conta de todo o vale. Ainda quero chegar a tempo de fotografar o dólmen de Santa Elena, construção megalítica facilmente acessível a partir do cruzamento da estrada. Alguns carros sem pessoas estão por ali estacionados. Caminhantes, seguramente, que são vários os percursos que por aqui passam. Nada se ouve que não os ruídos que nós próprios fazemos. Com tempo e calma monto o tripé e recolho meia dúzia de fotografias… a luz, sempre ela… quem me dera ficar por aqui uma semana para ter realmente tempo para gastar na procura das melhores horas, das melhores luzes, das melhores sombras…

Biescas - Dólmen de Santa Elena


Mas amanhã é já para outro lado, que as férias não duram sempre….

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