segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016


Apesar do dia,  a lua. Cheia, branca, redonda.  A subir, devagar por cima das copas velhas. O  ruído sem nome  do vento por entre  sabinas  e  carrascos acompanha, aqui e ali, um  restolhar de vida, que se pressente mas não se vê.

Faz frio.

Caminho lento na areia solta do trilho encurralado em sombra e paredes de verde. Ainda é cedo para as flores parece, apesar dos poucos e espalhados  pontos negros  de branco e amarelo que prenunciam equinócio.

Só os melros gritam. Como sempre. Os melros gritam sempre.

Mas nada nem ninguém responde (acho eu, que não sei conversar com as aves…).

Sei do mar lá ao fundo. E das pessoas que passeiam de mãos dadas ou se aconchegam numa taça de café a olhar as ondas pela vidraça, enquanto falam sem dizer palavra, consigo ou com o outro, na felicidade esquiva do fim da tarde.

Aqui, porém, não há azul que não seja o do céu e a janela é tudo. Talvez haja pessoas, outras que eu e a minha filha que me acompanha. Mas não as vemos, que o verde é muito e denso. Cruzamos pegadas de outros e sobre elas deixamos as nossas, indiferentes.

Falamos de aberturas, diafragmas, velocidades, sensibilidades…fotografia; a poética das coisas simples que se fixam na efemeridade elétrica de zeros e uns. Olhar para ver; sentir o olhar; perguntar o olhar…

E que melhor exemplo nos poderiam dar que o de um dia que  se esfuma em pinceladas ocre, e doura, a terra de siena, o cinzento eterno dos troncos dos pinheiros?


































In spite of the day, the moon. Full, white, round. Climbing slowly above the old canopies. The nameless noise of the wind blowing through junipers and oaks pays company, here and there, to a rustling of live that can be felt but not be seen.

It is cold.

I walk slowly in the loose sand of the path, trapped by shadow and walls of green. It is still soon for flowers, it seems, in spite of the few and sparse white and yellow dots that spell equinox.

Only blackbirds cry. As always. Blackbirds are always crying.

But nothing nor anyone answers (at least that’s my conviction, not knowing how to talk to birds…)
I know there’s the sea somewhere down there. And I know that there are people  walking hand in hand, or taking comfort in a cup of coffee, looking at the waves through the window panes, while talking, without uttering a word, to themselves or the other, in the fatuous happiness of the dying afternoon.

Here, though, there is no blue other than that of the sky and the window is all that can be seen. Maybe there are people, other than  my daughter – who is with me - and I. Still, we don’t see them, for the green is thick and dense. We come across footprints of other people and, carelessly, we lay ours on top of them.

We talk about apertures, diaphragms, shutter speeds, sensibility… photography; the poetics of simple things that are secured forever in the electric ephemerality  of zeros and ones. To look in order to see; to feel what one sees; to question what one sees…

And what better example could we be given that that of a day slowly evaporating in ochre brushstrokes gilding the eternal grey of the pine trunks in burnt sienna.