Apesar do dia, a lua.
Cheia, branca, redonda. A subir, devagar
por cima das copas velhas. O ruído sem nome
do vento por entre sabinas e
carrascos acompanha, aqui e ali, um restolhar de vida, que se pressente mas não se
vê.
Faz frio.
Caminho lento na areia solta do trilho encurralado em sombra
e paredes de verde. Ainda é cedo para as flores parece, apesar dos poucos e
espalhados pontos negros de branco e amarelo que prenunciam equinócio.
Só os melros gritam. Como sempre. Os melros gritam sempre.
Mas nada nem ninguém responde (acho eu, que não sei
conversar com as aves…).
Sei do mar lá ao fundo. E das pessoas que passeiam de mãos
dadas ou se aconchegam numa taça de café a olhar as ondas pela vidraça, enquanto
falam sem dizer palavra, consigo ou com o outro, na felicidade esquiva do fim
da tarde.
Aqui, porém, não há azul que não seja o do céu e a janela é
tudo. Talvez haja pessoas, outras que eu e a minha filha que me acompanha. Mas não
as vemos, que o verde é muito e denso. Cruzamos pegadas de outros e sobre elas
deixamos as nossas, indiferentes.
Falamos de aberturas, diafragmas, velocidades,
sensibilidades…fotografia; a poética das coisas simples que se fixam na efemeridade
elétrica de zeros e uns. Olhar para ver; sentir o olhar; perguntar o olhar…
E que melhor exemplo nos poderiam dar que o de um dia que se esfuma em pinceladas ocre, e doura, a terra de siena, o cinzento eterno dos
troncos dos pinheiros?
In spite of
the day, the moon. Full, white, round. Climbing slowly above the old canopies. The
nameless noise of the wind blowing through junipers and oaks pays company, here
and there, to a rustling of live that can be felt but not be seen.
It is cold.
I walk
slowly in the loose sand of the path, trapped by shadow and walls of green. It
is still soon for flowers, it seems, in spite of the few and sparse white and
yellow dots that spell equinox.
Only
blackbirds cry. As always. Blackbirds are always crying.
But nothing
nor anyone answers (at least that’s my conviction, not knowing how to talk to
birds…)
I know
there’s the sea somewhere down there. And I know that there are people walking hand in hand, or taking comfort in a
cup of coffee, looking at the waves through the window panes, while talking,
without uttering a word, to themselves or the other, in the fatuous happiness
of the dying afternoon.
Here,
though, there is no blue other than that of the sky and the window is all that
can be seen. Maybe there are people, other than my daughter – who is with me - and I. Still,
we don’t see them, for the green is thick and dense. We come across footprints
of other people and, carelessly, we lay ours on top of them.
We talk
about apertures, diaphragms, shutter speeds, sensibility… photography; the
poetics of simple things that are secured forever in the electric ephemerality of zeros and ones. To look in order to see; to
feel what one sees; to question what one sees…
And what
better example could we be given that that of a day slowly evaporating in ochre
brushstrokes gilding the eternal grey of the pine trunks in burnt sienna.