terça-feira, 22 de março de 2022

 Dia Internacional da Árvore
Dia Mundial da Poesia
Parabéns Joan Sebastian

(histórias de um dia que é só um,
embalado em óbvia redundância)



Escrevo atrasado, semi-desleixo,

ainda mais que a primavera se antecipou,

mas vi as árvores, estavam lá

e nos ramos guardavam todos os poemas

que não sei escrever

e que agora eclodem

em matizes de verde.

Sei que os vou ler,

Tenho até ao outono!


domingo, 6 de março de 2022

 GR11-E9 (Parte 3) - Fonte-da-Telha - Praia do Meco


E pronto: esta completada a ligação. Trafaria-Cabo Espichel… já posso dizer que caminhei de uma ponta a outra. Faltava o pedacinho entre a Fonte da Telha e a Praia do Meco - por causa da Lagoa de Albufeira estar aberta para o mar, durante o verão - mas agora que é inverno, o vento, as marés e as ondas, repõem a areia no canal de ligação, fechando-o e possibilitando a travessia na ponta mais ocidental da lagoa.

Faço-o com a ligeireza despreocupada de quem caminha pelo prazer de andar e de passar e ver. 

Ao Norte, muito ao norte, outros caminham, desesperados, na busca do maior dos bens – a Paz - enquanto outros, empurrados pelo capricho narcísico de um louco, se afadigam a negar-lhes a dignidade de Ser, a qualidade de Humano.

Sorvo o oceano com o olhar. É infinito, parece, mas não é assim.

Também a guerra há de acabar. Resta-me essa certeza. Parco consolo para mim, que, com a sorte que me dá o acaso de aqui viver, só a sinto pelos ecos das televisões ou dos serviços de Internet, ou ainda pela constatação das filas para abastecimento dos combustíveis, que galopam na escala dos preços; indiferente postulado para os que nela se vêm envolvidos, sem outra coisa terem feito que se afirmarem nação, como os acordos, assinados e reconhecidos pelo agressor, o dizem.

O sol ergue-se sobre a linha do horizonte: por baixo, o mar azul; por cima,  a luz que o sol lhe deita, amarela.

Até o dia se pinta nas duas cores mártires….

Este é um percurso sem história. É plano; escolhi a hora da maré vaza para evitar ter de caminhar em areia solta e não chegam a ser dez quilómetros. Passa pouco das  sete horas da manhã. O sol já nasceu e está fresco o dia, com algumas nuvens, mas sem ameaça de chuva. Deixo o carro no fim da estrada alcatroada, já cá em baixo, na Fonte da telha. Optei por ir sempre pela praia e não pela arriba, contornando as instalações da NATO. Verificado no Google Earth, a distância é a mesma e evito o inconveniente de poder encontrar alguma areia solta no ladear da lagoa, que teria que fazer, caso viesse por esse lado.


Tiro a primeira fotografia – o local por onde começo - e, passo a passo,  lá vou seguindo  pelo caminho de terra batida até ao seu fim. Os surfistas  parecem ter tomado este local, a julgar pela construção que encontro e que está deserta, mas que tem todo o ar de ponto de encontro e convívio dos intrépidos  deslizadores, guardada por uma curiosa escultura de uma cauda de  … golfinho (?) feita de pedaços de madeira atirados pelo mar para a praia.

A partir de aqui, tem que ser pela areia, mesmo. E lá vou eu, bem junto à linha de água, onde o chão é mais firme, com passo estugado, que a marcha nestas condições é fácil e prazenteira.

É março, e as mimosas estão floridas. Aqui e ali, intensas machas amarelas maculam o verde que alastra até ao início das arribas. É pena ser uma invasora que causa grandes problemas a outras espécies autóctones, porque o quadro é bonito de se ver.



Mexilhões asa de anjo, uma estrela do mar, búzios, conchas diversas…. Nos dias de mar agitado é comum cruzarmo-nos  com eles no areal.  




Mais à frente começo a notar que a arriba, até aqui pouco esculpida e até monótona, ganha cores e formas. Por uns momentos, quase me julgo algures no Bryce canyon, tamanha  a beleza das formas e cores que as encostas de arenito, erodidas pelos ventos e chuvas, agora aqui assumem. Faço várias fotografias, deslumbrado com a descoberta e tomo uma nota mental de aqui um dia voltar com melhor equipamento fotográfico. O local, por certo, merece-o!




Estou já a chegar à Lagoa de Albufeira,  e vislumbro um vulto escuro sobre a areal. Aproximo-me. Sinto  o cheiro pútrido da decomosição e reconheço a forma de um golfinho, morto, sobre o areal. Não posso deixar de notar que está mutilado; sem algumas barbatanas. 


Hei de ler mais tarde que é algo vulgar este tipo de encontros e a explicação para a mutilação é tão triste quanto simples: enredados nas redes de arrasto, os animais são içados para os barcos e os pescadores, para não danificarem as redes, mutilam os corpos aos animais, porque geralmente é pelas barbatanas que se encontram nelas presos. Espero que, pelo menos, as pobres criaturas já estejam mortas quando lhes cortam o corpo. Se assim não for, o crime é a todos os títulos, hediondo!

Já depois da Lagoa, uma neblina sobe do mar para a praia, alguns pescadores  tentam a sorte de corrico, mas os robalos parecem não estar para aí virados…



Alfarim. Está quase. Decido ir novamente pela baixa arriba que a partir daqui se ergue de novo, passada que está a lagoa. 25 metros a subir pela areia solta, com paragem para tirar uma rápida fotografia a uma belíssima linária que se cruza no meu caminho e chego novamente à estrada, que logo perco para seguir pela caminho que cruza a mata até ao meu destino final.

Linaria Polygalifolia


Praia do Meco. Cheguei. Sento-me numa pedra e telefono a pedir boleia para o regresso, como combinado. 

O visor do telemóvel mostra um total de 9,77 km percorridos enquanto o sol, amarelo, brilha sobre o mar, azul.