segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, 
tantas quantas me promete a memória

Journey notes stolen from a log that I haven't kept,
in parts,
As many as my memory can promise

XXVII

Fazemos as malas pela última vez. Hoje já  vamos dormir  em Portugal e, como a tirada é bastante longa, saímos cedo, após um reconfortante e revigorante pequeno almoço.

À saída de Arnedo, lá está o morro com o castelo que, leio depois, passou por  romanos e árabes, e que durante a reconquista terá mudado várias vezes de mãos entre a lua e a estrela e a cruz.

We pack for the last time. Tonight we will be sleeping in Portugal and, as the day's journey is pretty long, we leave early, after a comforting and invigorating breakfast.

The hill with the castle which, I later read, has gone through roman and arab hands and  that during the reconquest would have changed hands several times between the moon and star and the cross, stands by the side of the road  at the city's end. 



Tento fotografá-lo cá de baixo da rotunda, não se percebe o que é… mais à frente paro de novo ao pé de uma bomba de gasolina. Na encosta do morro, do lado de lá da estrada, existem também grutas. Pelo menos não me hei de ir embora sem levar uma ou duas fotografias, ainda que más, das cuevas que por aqui abundam.

I try to photograph it from down here, at the roundabout, but it's hard to tell what it is.. a bit further  up the road Istop again by a gas station. On the hillside, on the other side of the road, there are caves again. At least I will no go away without taking one of two shots, even if bad, of the "cuevas" that are so abundant here.







Procuramos o caminho mais rápido, a autoestrada.  É um compromisso: troca-se o prazer de ver, o sabor da descoberta, pela lisura do asfalto, a velocidade, a facilidade em chegar. Quilómetro após quilómetro de Rioja desfilam ao ritmo longilíneo de 4 faixas e pouco trânsito. Temos por norte Burgos, e depois  Valladolid e Zamora, até entrarmos de novo em Portugal Por Quintanilha.

Vinha, serra e olival, a Ibéria que é a nossa também passa por nós rápida, muitas vezes um pouco acima do limite que os sinais indicam.

We look for the fastest way, the highway. We trade the pleasure of seeing, the taste of discovery, for the smoothness of the asphalt, speed, arriving made easy. Kilometre after kilometre of Rioja speed by us to the longitudinal rhythm of  four almost empty lanes. We head towards Burgos, and then Valladolid and Zamora, until we enter Portugal again at Quintanilha.

Vines, hills and olive trees, the Iberia that is the same as ours also, goes by us fast, often a little above teh limit that the traffic sings indicate... 



XXVIII

Mas mesmo na autoestrada pode surgir o inesperado e um enorme sinal alerta para um desvio que dará acesso aos mosteiros de San Millán de la Cogolla, também classificados como Património da Humanidade. É o último dia, a última oportunidade, faço sinal, encosto-me à faixa da direita e saio no desvio. Cerca de vinte quilómetros depois subimos serra acima até ao Mosteiro de Yuso, o mosteiro de cima (que na verdade os mosteiros de San Millán são dois, o de cima e o maior, na povoação, o de baixo, de Suso). Uma rápida visita dá para apreciar o fresco da montanha, a paz da ausência, a cor as últimas flores de verão que ainda por aqui despontam.

But even on highways can the unexpected arise and a huge sign board alerts us for the eminent coming of an exit that will give access to the monasteries of San Millán de la Cogolla, also classified as a World Heritage Site. It is our last day, our last chance, I turn on the blinker, take to the lane on the right and exit the higway. Some 20 kilometres later we climb up the hills till the Monsatery of Yuso, the monastery of above (for, in truth,  the monasteries of San Millán are two , that of above, and the larger, in the village, that of below, of Suso). A Quick visit is enough to enjoy  the coolness of the mountain, the peace of absence, the colours of the last summer flowers that are still thriving here.



Descemos à vila. O enorme mosteiro hoje tem um Parador anexo e estranho a enorme quantidade de carros e pessoas que se aglomeram à porta de entrada. Uma folha colada na bilheteira indica que as visitas da manhã já estão esgotadas para hoje. Fico a saber que este é o mosteiro que alberga aquela que é apresentada como a primeira manifestação escrita de língua castelhana (diz a Wiki, que assim não é…),  las Glosas Emilianenses  - daí provavelmente também a sua aparente popularidade entre visitantes.

We go down to the village. The huge monastery serves as a "Parador" these days and I wonder why are there  so many cars and why so many people queue at the entrance door. A sheet of paper on the window of the ticket office says that visits for the morning are sold out. I read that this is the monastery where what is given as the first manifestation of written Castellan is kept (Wiki says that this is not the case….), las Glosas Emilianenses , hence probably also its apparent popularity among visitors.




XXIX

Entre mosteiros e uma reconfortante chávena de café, gastamos uma boa hora e meia. Há que partir de novo. Reganhamos a autoestrada após um périplo por algumas vilas do interior onde a vida se faz de agricultura e vinho. Cruzamos Burgos por fora, com a torre da catedral bem visível por sobre o casario.  Mais à frente, Valladolid e Castela e Leão de novo; parece que foi ontem que por aqui passámos. Paramos para almoçar num centro comercial e para as últimas compras.

Na verdade embora ainda estejamos em Espanha, a proximidade do nosso país, que não de casa, faz-nos, logo ali, acabar as férias.  De inquietos para partir, passamos a inquietos para voltar, e os quilómetros que galgamos rápido, uns atrás dos outros, ainda assim parecem multiplicar-se.

A estrada já não é descoberta… é cansaço; é chatice. Passamos Zamora; nem pensar em parar. Olho para os marcos quilométricos: de um em um a distância vai penosamente diminuindo. Corremos agora com o sol nas costas; também ele nos empurra. Um longo viaduto é tudo o que nos separa do final da viagem, que ainda assim só acabará daqui a dois dias, 600 quilómetros mais a sul…

Na berma estrada, Um enorme sinal azul centra o nome Portugal numa bela e dourada constelação Europeia.

Between monasteries and a comforting cup of coffee we spend a good one and a half ours. It’s time to move on. We take to the highway again after passing through some villages where life is made of wine and agriculture. We go around Burgos, the tower of the cathedral clearly visible above all the rooftops . Further afield Valladolid, Castilla y León again; it seems that is was only yesterday that we were here. We stop for a quick lunch at a shopping mall.

In truth although being still in Spain, the proximity of our own country, even if not of our home, makes us end our holidays right there. From restless to go, we turn to restless to return, and yet  the kilometres we hurdle fast, one after the other, seem to multiply themselves.

The road isn’t a discovery any longer… it is exhaustion, it is boredom. We go by Zamora; we don’t even dare thinking about stopping. I look at the mileage marks: one by one the distance does painstakingly shrink. We run now with the sun on our backs; and it is pushing us. A long bridge is all that separates us from the journey’s end, even though it will only be completed in two days’ time and some 600 km later.

On the side of the road a large blue sign centres the name Portugal in an beautiful  and golden European constellation.


XXX

Nestas linhas um último parágrafo, uma única palavra, um ponto que a retoma em sentido: Fim.

On these lines one last paragraph, a single word, a dot that redoubles its meaning; End.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, 
tantas quantas me promete a memória

Journey notes stolen from a log that I haven't kept,
in parts,
As many as my memory can promise

XXIII

Segunda-feira, 12 de agosto

Regresso... palavra que em si própria encerra uma inata ideia de contradição; oximoro de sentidos;  conflito de vontades.

A essência da viagem é estar preso, por antagónico que tal possa parecer. Como se um enorme fio elástico nos prendesse ao ponto de partida. Por isso se vai e se se volta; se regressa.

Ainda assim, regressa-se mas não se volta ao mesmo, que o tempo o não deixa, por isso o próprio regresso é  partida e descoberta; é viagem. Iniciemo-la pois:

Chegamo-nos à costa, o pouco de costa francesa que nos resta até cruzarmos outra vez a fronteira. Está uma manhã clara, luminosa. É segunda-feira e sente-se no tráfego, que enche a estrada. Fila também para o supermercado. Resignamo-nos: também queremos lá ir, comprar o isto ou aquilo que lá não há, as sandes para o dia, o gasóleo mais barato.

O balcão da charcutaria é um ninho de atarefadas térmitas: do lado de dentro, as frenéticas obreiras pesam e acondicionam as requisitadas porções de comida prêt-à-porter que, do lado de fora, as guerreiras, marcialmente ordenadas pelas senhas numeradas do habitual caracol, exigem com belicosa postura. Entre a choucroute e o sempiterno poulet rôti um sem número de saladas, assados e guisados, faz caminho para as caixas transparentes de plástico que logo vão ser almoço de mais um dia de praia… comme c’est chouette les vacances….

To return… a verb that contains an inherent contradiction; an oxymoron of senses; a conflict of will.

The essence of the journey is to be imprisoned, as antagonistic as it might sound. As if a long elastic thread would tie us to the departure point. That’s why we leave only to come back again; that’s why we return.

Still , we return but not to where we left from, since time will not allow it. Thus, the return leg is itself a departure, a discovery; a journey. Let’s begin it, then:

We drive close to the coast so as to follow it, the scarce bit of French coast that we’re left with until we cross the border again. It’s a radiant, luminous morning. It’s also Monday and we feel it on the traffic that fills the road. There’s also a queue to the supermarket. We resign ourselves to our fate: we also want to go there, to buy the “this or that”  that isn’t available at home, the sandwiches for the day, the cheaper diesel.

The charcuterie counter is nest of busy termites: inside, the frenetic workers weigh and pack the required portions of prêt-à-porter food that the warriors, on the outside, martially organized by the numbered tickets obtained from the usual red ticket dispenser, demand with  bellicose stances. In between the choucroute and the sempiternal poulet rôti, an unaccountable number of salads, roasts and stews ends up being spooned into transparent plastic boxes, that will later be the lunch of another beach day… comme c’est chouette les vacances….


XXIV

Refeitos também nós de vitualhas e de algumas coisas “que não há lá”, retomamos  a estrada. Perto de Hendaye um sinal chama a atenção para o Château Observatoire Abaddia. Porque não?

Restocked of victuals and some things that fall into the  “we don’t have this back home,  do we?” category, we take to the road again. Close to Hendaye a sign calls on the traveler’s attention to the Château Observatoire Abaddia. Why not?


Baía de Hendaye

Viramos na curva do caminho que lhe dá acesso e somos surpreendidos pela imagem de uma magnífica mansão neo-gótica, ocupando isoladamente uma larga propriedade que  se estende por um vasto prado verde até ao mar.

We turn right, on the bend that gives access to the site it and are suddenly surprised by the image of a magnificent neo-gothic mansion, standing isolated amidst a large estate that spreads over an extended green meadow that runs to the  sea.


Château Observatoire Abaddia





É cedo. Ainda não abriu para visita e de qualquer modo o nosso programa para o dia não o permitiria. Ficamos por uma volta por fora que ainda assim dá para nos apercebermos da grandeza da construção, das inusitadas aplicações de animais exóticos sobre as paredes e escadas – aqui uma serpente, ali um jacaré e mais além um búzio –, da deslumbrante vista que se obtém sobre toda a baía de Hendaye, das traseiras do edifício. Se isto é assim por fora, penso, por certo que, por dentro, valerá a pena ver. Mas o relógio não para e a estrada é longa.

It is early still. The mansion isn’t open for visitors yet and our program for the day would not allow it, anyway. We stick to a walkaround on the outside that lets us to grasp the grandeur of the building; the unexpected  applications of exotic animals on the walls and stairs – a serpent here, a crocodile there, and a large conch, further afield –;  the breathtaking view that can be had over Hendaye’s bay, from the back of the building. If it does look like this on the outside, I’m sure that the inside will certainly be worth taking a peep. But the clock won’t stop and the road is long…




A linha férrea, a estação: tinha 20 anos, uma mochila, e uma vontade imensa de conhecer e sair (hoje só tenho mais idade…). O Sud Express chegava ali, ao outro lado, a Irún, e depois mudava-se aqui em Hendaye, de comboio e bitola.

Hoje a bitola, a minha, que não a do comboio, é outra, mas olho e lembro, com alguma nostalgia que,  não adianta negar, acompanha os pelos brancos da barba e a falta deles na cabeça, as horas aqui passadas entre o cansaço de uma viagem longa em comboios apinhados e o frisson da descoberta, da primeira vez…

E de repente Espanha, outra vez, Irún, sem policias, sem passaportes, sem alfândegas, sem parar. Seguimos para Sul, deixando de vez o País Basco e entrando em terras de Navarra, mais uma das comunidades autónomas, dos fragmentos do imenso e complexo puzzle que é a Espanha.

The railroad, the station: I was 20: a backpack and an endless appetite for knowing and leaving (I guess these days I’m only older..). The Sud Express would get us there, to the other side, to Írun, and then we’d change here at Hendaye, of train, of gauge.

Nowadays, the gauge - mine, not the train’s,- is different, but I look and remember, with a bit of the nostalgia that goes hand in hand with the white hairs of the beard and with their absence on the head, the hours that I spent here, in between the weariness of a long trip in overcrowded trains and the excitement of the discovery, of the first time…

And all of a sudden, Spain again. Írun, without policemen, passports, customs, stopping. We keep going south, leaving the Basque Country and entering Navarra, another of the autonomous communities, of the fragments that make up that huge and complex puzzle that goes by the name of  Spain.



XXV

Pamplona

Não aprecio touradas, mas Pamplona tem o atrativo de anualmente ter direito a 3 ou 4 minutos de televisão por todo o mundo, quando os muitos milhares de doidos varridos, bêbados de Hemingway; do bom vinho que por aqui se produz, da paixão pela tourada, ou de combinações aleatórias dos três, em pretensa irmandade com os touros na corrida para a arena do sacrífico ( beneficiando embora da reconfortante certeza de saberem que não irão ser lidados, que ninguém lhes espetará farpas aguçadas no cachaço; que ninguém lhes fenderá a pele, a carne, o músculo da vida), se lançam nas estonteantes corridas do encierro.

Por isso quero ver onde tudo se passa, agora que pelas ruas apertadas onde se aglomera e se comprime a massa branca e vermelha dos amantes dos touros, apenas passa o calor húmido e inclemente de um sol que aqui e ali se esconde entre nuvens  que prenunciam  mudança de tempo.

I don’t like bullfights, but Pamplona has the attractive of its yearly 3 or 4 minutes of worldwide tv broadcast, when the many thousands of fools, drunken on Hemingway, the excellent wine that is made here, passion for  bullfights or a random combination of the three (and benefiting from the comforting knowledge that they will not be facing any matador, that no one will stick sharp and pointed banderillas on their necks; that no one will tear apart their skin, flesh, the muscle of life), dart ahead of the bulls on their way to the sacrificial arena on the  breathtaking "encierro" runs. 

That’s why I want to see where everything takes place, now that on the narrow streets where the white and red mass of the bull lovers congregates, only the humid and merciless heat of the sun greets us, hiding here and there amidst clouds that foretell a change of weather.



Pamplona ergue-se sobre uma colina muralhada e nós subimo-la com o carro. Ruas estreitas apertadas e nada de lugares para estacionar. Finalmente encontramos um parque num largo onde leio depois se constroem os curros temporários para onde são levados os touros  e de onde partem os famosos encierros.

Leio numa placa que apenas é permitido o estacionamento a moradores da cidade. Não querendo arriscar uma multa, metemo-nos no carro e seguimos em demanda. Em todo o lado, para além de não haver  um lugar que seja, a mesma nota: estacionamento autorizado apenas a moradores; descemos até ao rio, maldizendo a sorte de termos depois de subir pela encosta acima a pé, sob o sol que escalda. Um parque amplo, gratuito e ao fundo, entalhado na muralha, a solução: um funicular, também  gratuito, amplo, que dá até para transportar bicicletas. Apressamo-nos a subir.  Mais uma vez, tudo está fechado, mesmo os pequenos comércios que dividem as ruas com casas de habitação pelos bairros velhos e pobres por onde passamos.


Pamplona is built atop a fortified hill and we go up  to the top of it in our car. Narrow streets,  no parking places. We finally find a place to park in a square where I later read is the place where the temporary pen for the bulls is build and wherefrom the famous "encierros"start.

I read on a board that only people dwelling in the city can park here. Not wanting to risk a fine, we get back in the car and go look further afield. Everywhere the same notice, even though we cannot find a  single free parking space: city dwellers only; we go down to the river, cursing the fate of having to go up again on foot, under a scorching sun. A large parking lot, free of charge and right in front of it the solution sits embedded on the wall: a funicular, also free of charge, where even bicycles can be carried. We spare no time to go up. Everything is closed again, even the small shops that share the streets with the dwellings in the old and poor quarters that we go through.






Catedral de Pamplona

Seguimos agarrados ao nosso fiel e já bem batido guia DK de Espanha que nos indica o caminho para o posto de turismo. Azar, já não é aqui, diz-me um transeunte;  é lá em baixo, na praça, acrescenta, só tens de seguir em frente  virar a direito lá ao fundo. Gracias; assim fazemos. Mais volta menos volta descobrimo-lo, ao pé da universidade, sob a forma de um posto temporário instalado numa roulote. Um cartaz na parede informa que dali é possível enviar gratuitamente um postal atestando estarmos no Caminho… sempre ele. Cada um de nós escreve um, para as nossas filhas… sentimo-las longe.

We follow the directions to the tourism office, on our old and well worn out DK guide of Spain. “Bad luck, it is no longer here”, I’m told by a passerby; “it is down there in the square”, he adds, “you only have to go straight on and then turn right”. “Gracias”; we do as told and find it close to the university, under the shape of a temporary office run on a caravan. A poster on the wall informs us that here it is possible to send  a postcard attesting that we are following the Way.. always the Way. Each of us writes one, for our daughters.., we feel them far…



Retomamos o caminho do encierro até à praça de touros, por entre lojas de souvenirs e bares que agora assumem o defeso, mas que há um mês estariam à cunha, a rebentar pelas costuras com locais mas também com os habituais ingleses; americanos; australianos, candidatos a uma perna partida ou a uma heroica cornada.

We recover the path of the "encierro" up to the bullring, between souvenir shops and bars that are now empty but that would have been overflowing with people one month ago, bursting with locals but also with the usual brits, amercians and australians, all candidates to a broken leg or an heroic goring.



Plaza de Toros


Saídos da Plaza de toros,  desaguamos na Plaza del Castillo, cada vez mais acossados pelo calor e pela humidade.  Uma esplanada é refúgio, como o são as cañas que pedimos. Ao nosso lado dois casais: ingleses um, outro americano. Um  dos homens, o americano, é médico, uma das mulheres, a inglesa, é candidata a peregrina por uns dias (que não tem tempo para ir até Santiago, diz, mas que ainda assim se meteu ao caminho, para experimentar). Tem um pé tramado pelas bolhas. O médico tem pomada e compressas; limpa-lhe a ferida; trata-a com pomada; recomenda-lhe que a mantenha limpa e dá-lhe a pequena bisnaga com o unguento que cura. Bebem mais uma cerveja; despedem-se; não se conheciam antes, parece. Seguem caminho, pouco depois nós também, para o funicular, para o carro que aguarda escaldante no parque, para o sul…

From the Plaza de Toros we follow on to Plaza del Castillo, ever more harassed by the heat and the humidity. A bar terrace is a refuge, as are the "cañas" that we promptly order.  At the table next to ours 2 couples sit and talk: English , the one, American, the other. One of the man, the American, is a doctor, one of the women, the Englishwoman, is a foster peregrine (she has not the time to go all the way down to Santiago, she says, but she has nevertheless taken to the Way, just to try it). One of her feet is in bad shape, full of blisters. The doctor has some ointment and bandages; he cleans the wound, and applies some liniment; he recommends that she keeps it clean and gives her the small tube with the ointment that cures.  They drink another beer and say goodbye to each other; they didn’t knew each other  before, it seems. They go their way and, a short moment after so do we, towards the funicular,  the car that waits burning in the park,  the south…

Plaza del castillo



XXVI

Deixamos  Navarra e entramos em La Rioja, outra comunidade autonómica, terra de vinhedos  e montanha. Pernoitaremos em Arnedo e começo a temer que antes de lá chegarmos teremos de aguentar com uma valente tempestade de verão, assim o diz o cada vez mais carregado cinzento das nuvens (que lá ao fundo, percebe-se, se desfazem já em água) e o calor húmido e abafado que se nos cola à roupa, ao corpo.

Goodbye Navarra, hello la Rioja, another of Spain’s autonomous communities, land of grapes and mountains. We will pass the night at Arnedo and I begin to fear that we will not be there in time to escape a tremendous summer tempest, judging by the ever more darker grey of the clouds (already dissolving into curtains of water in the distance) and the humid and oppressive  heat that sticks to our clothes, to the body.




Entramos em Arnedo e a primeira coisa em que reparamos é que flanqueando a estrada há colinas de terra argilosa, vermelha, cravejadas de grutas, obra do homem,  numa das quais se ergue a ruína do que parece ser um castelo. A reter para ver mais logo, penso.

A segunda coisa em que reparamos é que começou a chover, forte, chuva de verão de grossos pingos, como há pouco ameaçava. Vamos diretos para o hotel que por sorte tem estacionamento mesmo à porta.
Pergunto ao simpático rapaz que nos atende na receção se se podem visitar las cuevas. Diz-me que não, que não há estrada até lá.

Vamos ao quarto deixar as malas e refrescarmo-nos. O dia está a correr largo para o fim;  com as nuvens a luz é cada vez mais fraca, quero ver se ainda consigo chegar ao castelo para fotografar; descemos para o carro e apesar da chuva metemo-nos pelas íngremes e incrivelmente estreitas ruelas que exigem 1ª , procurando o caminho para o morro que cá de baixo avistávamos tão bem. Após curvas e contra-mãos a estrada termina numa igreja, tão castanha quanto a terra que a circunda. Não tenho hipótese de fotografar, a chuva e o vento são cada vez  mais fortes. Desisto. Regressamos ao centro da vila, procuramos um sítio para jantar. A rua pedonal, onde as esplanadas foram já recolhidas, sob a tempestade parece pouco convidativa.  Assentamos num pequeno restaurante. Todos se conhecem, aqui, e todos se saúdam. Mesmo estrangeiros como nós são cumprimentados por quem entra ou sai. Urbanidade sincera. São pequenas coisas assim que unem os homens, que fazem de nós Humanidade.

Parou de chover; passeamos um pouco para estirar as pernas.  Não se vê ninguém na rua, nem há muito para ver, principalmente agora que é noite cerrada. Um  fim de boca, um sabor a fim de férias, começa a instalar-se em nós. Amanhã voltamos para o retângulo da ponta ocidental da península; não para casa, que ainda teremos de passar por Trás-os-Montes, mas será mesmo o último dia da viagem que nos propusemos como exercício de férias.

We enter Arnedo and the first thing we notice are the hills of red, clayey soil, all covered in manmade caves,  that border the road. Atop one of them the ruin of what resembles a castle. I make a  note of it, for later inspection.

The second thing we notice is that it started to rain, hard, thick summer rain, as foretold a  while ago. We go straight into the hotel that luckily has a free parking lot right in front of it.
I ask the nice bloke that checks us in if the "cuevas" can be visited. No, he answers, there’s no road up to them.

We go to the room to drop the bags and refresh ourselves. The day is running fast to its epilogue; due to the clouds the light is getting dimmer, and I want to see if I can get to the castle to take a couple of shots; we hurry to the car and in spite of the rain we defy the steep and incredibly narrow streets, most of the times in 1st gear, looking for the road to the hill that was so clearly  visible from below. After a myriad of bends the road abuts in front  of a church, as brown  as the earth is sits upon. Photographing is out of question, the rain and wind are ever stronger. I give up. We return to the centre of town, looking for a place to dine. The pedestrian street, where the terraces have already been dismantled, looks terribly uninviting under the storm. We end up in a small restaurant. Everybody knows each other here, and everybody greets each other. Even strangers like us, are greeted by those coming in or out. Sincere urbanity. It is small things like these that unite man, that make us Humanity.

The rain has stopped; we stroll about a bit to stretch our legs. There’s no one in the streets, nor is there that much to see, now that the night has fallen. An aftertaste, the end of the holidays.. we begin to feel it.  Tomorrow we go back to the square on the western side of the peninsula from where we came from; we won’t go home directly, since we still have to go through Trás-os-Montes, but it will really be the last day of the journey that we decided would be our holidays.



sexta-feira, 20 de setembro de 2013


Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, 
tantas quantas me promete a memória

Journey notes stolen from a log that I haven't kept,
in parts,
As many as my memory can promise

XIX

Domingo, 11 de agosto

De novo a estrada. Até Saint Jean de Luz, no lado Francês do País Basco e nosso destino do dia, não serão muito mais que cem quilómetros, pelo caminho mais curto.  Por isso, uma vez mais, optamos por deixar de lado as autoestradas e seguir pela estrada nacional em direção à costa, questionando constantemente o mapa, como quaisquer caçadores de imprevistos.

Um nome salta de imediato por entre as riscas vermelhas e amarelas que cruzam a folha dobrada do útil Michelin. Um nome que diz muito mais que o seu próprio nome. Queremos ver. Queremos lá ir: Guernica.
Corremos a estrada sinuosa, que por aqui parece não se usar outra coisa, por entre a reconfortante sombra de carvalhos e castanheiros. Ao lado da linha férrea aparecem as primeiras casas, uma placa Gernika-Lumo; chegámos.

Seguimos as indicações para o centro da pequena cidade, e estacionamos num largo que tem na parte alta dois antigos edifícios  ostentando no topo da fachada  o ano de construção – 1927 - e a  função a que desde então se prestaram- Escuelas publicas.

Não se vê vivalma. É ainda cedo e, mais que tudo, é domingo. Procuramos um sítio para tomar um café. Somos os únicos clientes.

Pergunto à senhora jovem que entre o balcão e a cozinha se atarefa a preparar os pintxos do dia, o que devo visitar. De pronto agarra numa planta turística da vila e explica-nos o que devemos ver e por onde ir. Sabe bem ser ajudado assim… com um sorriso…uma planta… e um café. Soubera eu dizer obrigado em basco e tê-lo-ia dito. Fiquei-me por um não menos sincero Gracias; ela respondeu com o mesmo sorriso de quem gosta de ajudar… Guernika… terra da fraternidade….

Enquanto subimos até ao simbólico Parque de los Pueblos de Europa, passo de novo pelas escolas, 1927... dez anos depois a carnificina; a chuva de morte… quem ousa ainda dizer que a Europa não é a melhor das ideias?  quem ousa pensar que as fronteiras são contentores de liberdade?

Parque de los Pueblos de Europa. Três curtas palavras que aqui, onde a europa se uniu para friamente matar, servem de hino à antítese. Hoje, aqui, mais que tudo, sinto-me um Português Europeu… este é também o meu parque, como o é da Sra. que me serviu o café ou da família Francesa com quem nos cruzamos e que se prepara para visitar o museu do País Basco, instalado numa bela mansão à entrada do Parque.

Não temos tempo para o museu por isso vamos diretamente para o edifico das Juntas Generales de Biskaia, uma igreja convertida na função . Tanto quanto julgo perceber no intrincado sistema Administrativo Espanhol, às Juntas corresponde o papel de Parlamento da Província de Biskaia que,  em conjunto com as províncias de Guipúscoa e de Álava, formam a comunidade autónoma do País Basco.

São de admiração e espanto as palavras que murmuro ao olhar para a magnífica sala que acolhe as sessões parlamentares. Um solene ar de gravidade - afinal estamos no centro de uma igreja - impende sobre as bancadas, encimadas por uma galeria de retratos de corpo inteiro de figuras que terão, por alguma razão, ganho o direito à moldura.

Na sala ao lado é para cima que se olha: a luz forte do dia coa pela cores vívidas de uma bela alegoria sobre a história Biscainha, ocupando  um enorme e deslumbrante vitral de conceção moderna.

The road once again. Until Saint Jean de Luz, on the French side of the basque Country, it will not be much more than 100 km, if we keep to the shortest route. That’s why we decide to stay away from the highway and to follow the national road towards the coast, constantly keep ing an eye on the map, hunting for the unexpected.

A name immediately pops out of ther ed and yellow lines that  crisscross the folded sheet of the useful Michelin. A name that says much more than its own name. We wan to to see; we want to go there: Guernika.

We follow along the winding road, (very fashionable here, it seems) under the comforting shadow of oaks and chestnut trees. To the side of the raiway the first houses come into view, a sign, Gernika-Lume; we’re here.

The city centre signs lead us to the core of the small town and we park in a square where two ancient buildings exhibit their construction year – 1927 – and the role they fulfill – Escuelas Publicas, Public Schools.
There’s is no one on the streets. It’s still early, and it’s sunday moreover. We look for a place to have a coffee. We’re the only ustomers.

I ask the young lady who between counter and kitchen  gets  the day’s pintxos ready, what is there that we should visit. Promptly she gets hold of a city map and explains to us what to see and where to go. It feels good to be helped  this way.. with a smile…a map… and a coffee. Had I known how to say Thanks in Basque and  I would have said it. Now knowing how to do it I kept myself to an equally sincere Gracias; she answered with that same smile  of someone who willingly helps… Gernika … land of fraternity…

While we go up to the symbolic Parque de los Pueblos de Europa, I pass by the schools again, 1927… 10 years later the carnage; the mortal rain… who dares still say that Europe is not the 
Parque de los Pueblos de Europa. Park of the Peoples of Europe. Three short words that here, where Europe united to coldly kill, sound like an antithetic anthem. Today, here, more than anything, I feel like an European Portuguese… this is also my park, as it is the park of the lady that served me the coffee or of the French family that is going to visit the Museum of the Basque Country, occupying a beautiful mansion by the park entrance. 

We have no time for the museum so we head directly to the building of the Juntas Generales de Biskaia, a church that was converted for this purpose. As far as I think I understand the Juntas, within the intricate Spanish Administration System, play the role of the Parliament of the Biskaia Province, which, along with the provinces of Guipúscoa and Álava form the autonomous community of the Basque Country.

Admiration and awe mark the words I utter  when looking at the  magnificent room that houses the parliament. A solemn, formal air – it used to be a church, anyway – fills the now empty benches topped by a gallery of full body portraits of  men  that for soe reason have achieved  notable status. 

In the next room you can’t help looking up: the strong light of the day filters through the vivid colours of a beautiful allegory of the history of Biskaya, covering a  huge stained glass skylight.





Numa vitrina uma guitarra; a de José María Iparraguirre, leio. Nada me diz o nome, mas fico a saber ter sido um poeta e cantor popular de alma e língua Bascas cujos hinos são agora parte do cancioneiro da Euskal Herria, da Terra dos Bascos.

Saio para o parque. Ainda temos tempo para um pequeno passeio e eu quero ver a Árvore. Reza a história que as gerações de carvalhos plantados ao pé do Parlamento, à sombra dos quais regentes e governadores juravam e juram respeitar as liberdades do povo Biscainho, descendem de uma velha árvore cujo tronco petrificado se resguarda  hoje num singelo mausoléu.

A guitar in a showcase; that of José María Iparraguirre, I read. The name says nothing to me, but I read he was a popular poet and singer of basque soul and tongue, whose anthems are now part of the national repertoire of Euskal Herria, the Land of the Basque.

I go out into the park. We still have time for a short stroll and I want to see the Tree. History has it that all the generations of oaks planted by the parliament, under whose shadow rulers and governors swore and still swear to respect and defend the liberties of the Biscay people, descend from and old tree, whose petrified trunk is now sheltered under an unassuming  mausoleum. 



Nada há de mais agarrado à terra que uma árvore; é fácil compreender o simbolismo que nem a metralha nazi, nem a ditadura franquista conseguiram destruir. Felizmente que a loucura fratricida da ETA parece ter também soçobrado ante a clareza da razão.

There is nothing more tied to the earth than a tree; it is easy to understand the symbolism that neither the nazi shrapnel nor the franquist dictatorship could destroy. Fortunately ETA’s fratricide madness also seems to have yielded before the clarity of reason.



No fundo do parque  vislumbro o brilho áureo de uma imensa escultura que se contrapõe à frieza simples do betão de outra não menor obra.

Henry Moore,  Large Figure in a Shelter e Eduardo Chillida , Gure Aitaren Etxea – a casa do nosso pai.
Uma vez mais os simbolismos são de fácil apreensão, até pelos títulos das obras.

At the back of the park the golden shine of a huge sculpture.  A fitting counterpoint to the humble coldness of the concrete of a no lesser work of art: Henry Moore,  Large Figure in a Shelter and Eduardo Chillida , Gure Aitaren Etxea – our father’s home.

Again the symbolism is easy to understand, even through the titles of the works.




Vamo-nos  reconfortados. A paz afinal pode-se mesmo respirar! Pelo menos aqui!

Na rotunda, ao pé do carro, José María Iparraguirre, o tal da guitarra de há pouco, parece cantar para nós. Não entendo a língua, mas tenho a certeza que a letra, essa sei-a… de cor….!

We depart comforted. Peace can really be breathed! Here, at least !

at the roundabout, by the car, José María Iparraguirre, that of the guitar of a while ago, seems to be singing for us. I can't understand the language, but I am sure that the lyrics... those I know by heart...!




XX


Retomamos a estrada,  ainda queremos parar em San Sebastían e  pouco andámos desde que saímos de Bilbao.

De repente a polícia, a estrada cortada: corrida de bicicletas. Encostamos à berma, esperando que seja por pouco tempo.

A avaliar pelo número de ciclistas que continuamos a ver nas estradas, de subidas nada fáceis para quem faz do pedal modo de ir, a bicicleta é verdadeira paixão por estes lados. Novos, velhos, em pelotão, sozinhos, eles, elas, todos emprestam às curvas de que se fazem por aqui muitas das estradas, a graça do eterno velocípede, hoje, cada vez mais, alvo de redescoberta, modo de um futuro que se quer sustentável e limpo, mas também objeto de moda, irritante bandeira de status, transfiguração de pueril afirmação de virilidade (ou não fosse a minha melhor que a tua…). Resta a consolação de saber que, quando delas se cai, somos todos iguais… ou não encontrasse a natureza  resposta para tudo …!

Aguardamos parados uns bons 25 minutos. Passa uma mota a grande velocidade; ouve-se um apito lá em cima, ao fundo da estrada, um ponto ganha corpo. Veloz. A estrada é a descer, o que ajuda. Passa por nós isolado. Segue na frente, vai seguramente a mais de 100, ou assim pelo menos parece. "Vai valente!" Todos gritam na berma, verdadeiramente entusiasmados. Até a mim, que não sou dado a grandes entusiamos pelo desporto de outros, me apetece dizer "Força campeão! Força nessas pernas".  Não grito, mas digo-o para mim, que é quase a mesma coisa… afinal também se peca por pensamentos, como me ensinaram há muito nos esquecidos domingos de catequese…

We get on the road again. We still want to stop at San Sebastían and we are not that far from Bilbao yet.

Suddenly the police. All car traffic is halted: a bicycle race. We pull over to the shoulder of the road, hoping that traffic will be resumed soon.

Judging by the number of cyclists that we keep seeing on the roads, full of far from simple climbs for those who trust the pedals as a way of going, the bicycle is a true passion around here. New, old, accompanied, alone, boys, girls, all  lend the many bends that make much of the roads here, the grace of the eternal velocipede,  that today, more than ever, is not only the subject of  rediscovery and a mode for a clean and sustainable future, but also a fashion object, an irritating flag of status, the transfiguration of a childish statement of virility (mine is e than yours…). As a way of compensation it is satisfying to know that when we fall from them we are all absolutely equal.. or would not nature have the right answer to every problem…!

We wait a good 25 minutes. A motorbike speeds by: a whistle is heard, a point in the distance  starts to grow. Fast. The road goes down and this helps. He speeds by us isolated. “Go, go go!” everyone shouts from the side of the road, truly excited. Even I, who don’t really care for the sport of the others, feel like shouting “ go, champ, go!”. I don’t don't, but I say it to myself, which is almost the same thing…: we can sin by thoughts, at least that’s what I was told many years ago at Sunday school….







Passam outros, sós, em pares, em trios, a espaços, alongando a fila até que chega o pequeno pelotão; o característico ruído de cremalheiras e correntes a rodar soltas, rápidas, em uníssono…  já se esfuma lá ao fundo e agora, aqui ao pé, como em torneira que se fecha, o velocipédico caudal diminui a olhos vistos…passam os mais cansados, ainda assim resistentes, a cauda, o último…" Força campeão. Força nessas pernas!".

Um novo apito no cimo da estrada, o “clac” metálico das portas que se fecham, o ruído grave dos motores que se liga… vai sair a procissão!

Temos que recuperar tempo e com uma consulta ao mapa decidimo-nos pela autoestrada que nos leva até Donostia, a bela cidade da grande baía, e da ilha de Santa Clara: S. Sebastian.

They speed by us, isolated, in pairs, in trios, now and then, stretching the  column that leads to the small compact pack that now passes by… the characteristic noise of gears and chains running fast, free, in unison … already fading in the distance and now,  as if in a tap that someone closes, the cycle  flow dwindles noticeably… the more tired, and yet still resisting, the tail, the last one…”Go, Champ, go!”

Another whistle from up the road, the metallic “klack” of doors that close, the low sound of running motors… the procession is about to start!

We have to recover  the lost time and after a map check we decide to take the highway that will take us to Donostia, the beautiful city of the great bay and of Santa Clara island: S. Sebastian


XXI


Chegamos pela hora do almoço e gastamos um bom pedaço do tempo, que gostaríamos de usar a passear, a procurar um sítio onde deixar o carro. Os parques, mesmo os subterrâneos estão cheios e fazem-se fila nos acessos…acabamos por nos enfileirar também e algum tempo depois subimos a escada de acesso à saída, bem junto ao início do que parece ser a avenida mais movimentada da baixa da cidade.

Como habitualmente procuramos o Turismo para obtermos a indispensável planta da cidade, e lá vamos nós em busca das bolinhas numeradas.

As ruas fervilham de gente; nós fervilhamos de calor e após vários quilómetros por ruas estreitas e apinhadas, desembocamos na Plaza de la Constituicion para a obrigatória Caña.

Gente, gente e mais gente.  A bela e  pequena praça está cheia, pouco espaço restando entre as esplanadas dos vários bares e um palco que ao fundo se encontra montado. Imagino que as festas da cidade também devem estar  a passar por aqui…

Tento abstrair-me do bulício e  olhar as sequências perfeitas como estruturas minimal repetitivas das fachadas dos prédios que definem a praça. Como brilham perfeitas; como o amarelo e o branco caem a matar sobre o azul polarizado do céu…

We arrive around lunchtime and spend a good deal of time that we would have rather used to walk about, searching for a place to leave the car. All parks, even those underground, are full and there are queues to them…we end up getting in line too and some time later we exit the stairs that take us to what seems to be the busiest street downtown.

As usual we look for the tourist office so as to get the indispensable city map, and here we go searching for the numbered dots again.

The streets teem with people; the heat is oppressive and after a few kilometres through crowded and narrow streets we flow into Plaza de la Constituicion for the mandatory “Caña”

People, people, and ever more people. The small, beautiful square is full, with not much space to spare between the terraces of the several bars and a temporary stage that is installed in one of the square sides. The city’s festival is probably on, I reason…

I try to ignore all the buzz and  concentrate on the perfect sequences, like minimal repetitive structures, of the buildings’ façades that define the square. Look how perfect they shine; how the yellow and white go extremely well against the polarized blue of the sky…




A custo, levantamo-nos e voltamos às pitorescas ruas de pequeno comércio e restauração, todas abertas apesar de  domingo (ao invés das igrejas, como a Basílica de Santa Maria, que se encontram fechadas).

Reluctantly, we rise from the table and go back to the picturesque streets full of small shops and restaurants. In spite of it being Sunday these are all open (churches on the contrary, like the Basilica de Santa Maria, are all closed).


De novo no carro subimos o morro do lado ocidental da Baía, em busca de um a boa fotografia sobre toda a baía. No topo do morro a surpresa: um pífio parque de diversões, com portagem de entrada…2,5 euros por pessoa pelo direito a passear ao sol por entre meia dúzia de diversões de feira… de vila do interior…enfim, o que eu quero é a fotografia e essa tiro-a o melhor que o espaço me deixa.

Back in the car we go up the hill on the west tip of the cove, looking for a good snapshot of the entire bay. At the top, surprise, surprise: a mediocre  luna park, with entrance toll: 2,5 Euros per person, giving you the right to stroll about in the sun, amidst half a dozen of fair attractions, the kind you’d see in some forgotten village in the middle of nowhere: What I’m looking after is the photo, anyway, and that I get, as best as site and skill allows me.



O lado de lá, o promontório em frente, parece gritar por visita também, mas o relógio é tão implacável quanto o sol que nos queima a nuca… ala daqui para fora, vamos pr’a França!

The other side, the promontory right in front of us seems to be crying for a visit also, but the clock is as merciless as the sun that burns our neck… let’s get out of here; on to France!



XXII


De San Sebastian a Saint Jean de Luz é um tiro.

Chegados, vamos direitos ao hotel largar a malas. Refrescamo-nos e aproveitamos para vestir o fato de banho. Está prometido um mergulho em Biarritz, como há mais de 20 anos atrás, e não há tempo a perder.

Pela estrada, condenado ao medonho trânsito de agosto vou reconhecendo alguns marcos do caminho.  a placa que indica os parques de campismo. Foi num deles que ficámos então…

Biarritz, a tarde já vai alta e não tenho dificuldade em encontrar um sítio para estacionar o carro num dos parques perto da praia.

From San Sebastian to Saint Jean de Luz is but a short journey

As soon as we arrive we check in at the hotel to drop our bags. We refresh ourselves and we take the opportunity to change into bathing trunks. There is a promise of a swim in Biarritz, as it was the case more than 20 years ago, so there is no time to lose.

On the road, condemned to August’s infernal traffic, I notice some landmarks that I remember. The sign that indicates the camping parks… e stayed at one o them back then….

Biarritz, the afternoon is a good deal gone, so I have no trouble finding a place to park, in one of the lots close to the beach.





Noto o esforço de acessibilidade que é feito na praia para a dotar de infra-estruturas de apoio a pessoas de mobilidade reduzida. Estes são os pequenos sinais que definem  palavras como civilização; cidadania; direitos humanos. Isto sim é Chic a valer!

I realise the accesibility effort that is being made at the beach so as to provide support infrastructures for people of reduced mobility. These are the small signs that give a meaning to words like civilization; citizenship; human rights. This really is my definition of Glamour!


A água não está fria, mas o mar está batido pela nortada que entra da Biscaia e a maré está a subir.  O banho prometido. Mais um objetivo cumprido.

Corpo e calções secos, voltamos à cidade. Procuro saber as regras dos parquímetros, uma voz que passa por mim diz-me no melhor do português “Eles andam por aí! Meta 10 minutos que chega!”

Quase não tenho tempo de agradecer ao conterrâneo que desce apressado a rua, mas obedientemente, sigo as suas instruções e lá deposito o suficiente para os 10 minutos que me garantem a legalidade até ao início do período gratuito de fim de dia.

Biarritz continua o fino postal de decadente chic de que lembrava. Lado a lado com lojas das mais exclusivas marcas, camionetas com hordas de excursionistas transpiram areia e algraviada.

The water isn't cold, but the sea is roughened by the north wind that comes in from the biskay gulf, and the tide is rising. The promised swim; another  objective fulfilled.

Body and trunks dry we go back to the city. I try to read and understand the rules of the parking meters when a voice passing by tells me in the best portuguese "look out, they are near!  put in enough for 10 minutes. that'll do!"

I almost have not the time to say thanks to my fellow countruyman who goes down the street with a fast pace,  obidiently I foolow his instructions and put in enough money in the machine for the 10 m inutes that will ensure legality untill the beginning of the free end of day period. 

Biarritz continues to be the nice postcard of decadent chic that I rememebred. Side by side with shops of the most exclusive brands, buses full of tourist hordes swet sand and noise. 




Vamos aqui e ali, que nada conhecemos e também parece não haver muito para ver, numa cidade que se assume como típica estância balnear. Se houver fica para outra altura, que tanta gente e tanto bulício me cansam para lá do razoável em dias que se dizem de férias.

We look here and there, but there doesn't seem to be much to be seen, in a town that claims to be a  typical beach resort. Still, If there really is something it will have to be left for another time, for so many people and all this hustle and bustle end up tiring me more than what I'd consider reasonable for an holiday.



Voltamos a Saint Jean de Luz. É noite de festa, as ruas estão apinhadas, todos confluem para a praça onde um grupos de músicos de sexta categoria se esforça por tornar ainda mais insuportáveis os insuportáveis hits da moda.  As pessoas carregam sacos de confetis. Atiram-nos uns aos outros, as crianças deliram, os caniches, aquietados nos colos ou pendentes das coleiras, ladram…, felizmente há uma rua paralela, um oásis de esplanadas de restaurante onde o típico cheiro da sardinha assada, desporto que por aqui também se pratica, nos empurra  com a brisa para a praia, já ali, ao fundo da rua.

Um passadiço sobre a praia e um renque de casas com ponte para o passadiço e daí para a areia. Curiosa solução. Em algumas delas as pessoas jantam contentes, janelas abertas, escancaradas para o mundo. Pelo vislumbre do recheio percebe-se a afluência de quem mora. A lua brilha alto ao fundo do paredão… parece competir com o farol. Longe da confusão da praça que entretanto se desconvoca com um arremedo de fogo de artifício, uma roulotte propõe gelados, farturas, crepes e churros.  optamos pelos últimos: Une douzaine, s'il vous plaît. Merci.

Entre palavras de fim de dia, mordemos a massa ainda quente e lambemos dos dedos o açúcar que ainda resta.

Demain on retourne….

We return to Saint Jean de Luz. It’s party night and the streets are crowded, everybody gathering at the town square where a group of 6th category musicians tries hard to render even more unbearable the unbearable hits of the season. People carry large bags of confetti. They throw them by the handful at each other; the children go wild; the poodles resting on the lap or under the arms of their owners bark... luckily there’s a side street, a terrace oasis where the unmistakable smell of grilled sardines - a sport that is also practiced here - pushes us along with the breeze towards the beach, over there, by the end of the street.

A bulwark over the beach and a row of houses, each with a bridge leading to the bulwark and from there to the sand. A curious solution. In some of the houses people dine happily, with the windows wide open to the world. The affluence of those dwelling here is immediately apparent judging from what we are able to grasp of the contents. The moon shines high above the bulwark... it seems to compete with the lighthouse. Away from the mayhem of the square that is brought to an end by some cheap fireworks, a van proposes ice cream, porras, crepes and churros. We opt for the latter: Une douzaine, s'il vous plaît. Merci.

Between day ending words we bite the still hot pastry and lick the sugar from our fingers.


Demain on retourne….


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, 
tantas quantas me promete a memória

Journey notes stolen from a log that I haven't kept,
in parts,
As many as my memory can promise

XVII

Sábado, 10 de agosto

Entregue à condução mole, suburbana, de manhã de sábado que me leva do hotel ao centro de Bilbao, sinto a pequena alegria de estar a chegar onde me tinha imposto.

O rio, a curva, a ponte… e lá está ele.. o museu Guggenheim.  

De facto, foi nele que primeiro pensámos quando decidimos que o nosso verão de viajantes passaria forçosamente por aqui.

A vista que se obtém da ponte lateral ao estranho mas ainda assim belo corpo retorcido que Frank Gehry depositou na margem da ria que atravessa a cidade é insuperável. Terei de aqui voltar de alguma forma para fotografar  o museu, como, estou certo, milhões de outros visitantes o farão.

Estacionamos num parque subterrâneo à beira do museu. É cedo ainda. Passeamos pela avenida que lhe é fronteira e que apesar de quase deserta, respira “chic a valer”. Um bom café prepara-nos para o dia, num  estabelecimento de cuidada decoração, onde uma fileira de  magníficos exemplares de pata negra  suspensa sobre o longo balcão do bar, como de uma cortina de palco se tratasse, dialoga com as abstratas cores de alguns quadros modernaços adornando as paredes.  Enquanto bebo o reconfortante solo não posso deixar  de notar o apuro estético que sobressai dos pratos que, com cadência ritmada, vão saindo da cozinha para a zona do bar, cobertos de magníficos pintxos:  acamados em tiras de humilde cacete,  jamón, setas, huevos, anchovas, cebolla, pimiento, guindillas,  entregam-se  em felizes combinações se sabor e plasticidade. Não haverá arte mais verdadeiramente funcional (e efémera) que esta…a poesia é para comer, dizia a erudita e sabedora Natália… nos pintxos do café, leio, no mínimo, um inolvidável soneto, eu, que de poeta apenas tenho o estomago….

Um cão. Um enorme e intensamente florido cão. Puppy, Jeff Koons .  Sempre tive dificuldade na transmutação do figurativo banal em objetos de catálogo. Talvez por isso me irrite por cá todo o clamor em torno do crochet polícromo que aconchega a lagosta ou o manequim de vitrina….na proposta elevação do kitsch à dimensão do sublime…muß  es sein, Ludwig?



Fully engaged in a relaxed, suburban, Saturday morning drive that takes me from the hotel to the centre of Bilbao, I feel the petty joy of getting to my self-imposed destination. 

The river, the bend, the bridge... there it is… Guggenheim museum.

In truth, the museum had immediately popped up in our minds  when we were planning our trip and  decided that our traveller’s summer would have to pass through here.

The view from the bridge on the side of the strange and yet beautiful contorted body deposited by Frank Gerry on the bank of the river that runs through Bilbao is second to none. I will have to somehow go back here to shoot the museum as, I’m sure, millions of other visitors will have done.

We park in an underground lot in the vicinity of the museum. It’s early still. Following along the avenue that runs by its front façade we can’t help noticing that in spite of being almost deserted, it breaths posh. A good cup of coffee prepares us for the day, in a carefully decorated bar, where a row of magnificent specimens of ‘pata negra’ hams, hanging over the counter, as if a stage curtain, dialogues with the abstract colours of a few modernish paintings, adorning the wals. While sipping the conforting ‘solo’ I can’t help but notice the esthetical finesse emanating from the dishes, coming out of the kitchen in  rhythmic cadenza into the bar zone, filled with magnificent ‘pintxos’: laying atop humble slices of bread ‘jamón’, ‘setas’, ‘huevos’, ‘anchovas’, ‘cebolla’, ‘pimiento’, ‘guindillas’,  all come together in joyful combinations of taste and aesthetics. There must be no art more functional (and ephemeral) than this… poetry is to be eaten, said the erudite and wise Natália… in the bar’s ‘pintxos’ I read, at the very least, an unforgettable sonnet, I, that of a poet have but the stomach…..


A dog. A huge and extremely flowery dog. Puppy, Jeff Koons. I have always had difficulty accepting the transmutation of  everyday’s trivia into catalogue objects. That’s probably why I get irritated by all the commotion here about the polychromatic crochet that cuddles up the lobster or the shop window mannequin... the purported elevation of kitsch to the dimension of sublime . muß  es sein, Ludwig?



Puppy - Jeff Koons

Nada é o que parece, compreendo, há contextos, leituras, intenções… tudo à criação e à invenção se permite e, na verdade, só assim se pode mudar o mundo. Mas para um desprovido leitor – eu –  a evidência, a chispa que  faz abrir a boca e  dá brilho aos olhos, tem de ultrapassar a barreira da memória, do que nela guardo como inventário do dia-a-dia, do decididamente banal. Não basta reinscrever o objeto, forçar um contexto. É preciso um mínimo de algo mais, talvez a parte que se não racionaliza, quiçá o quinhão dos anjos, como sucede ao whisky que envelhece nos cascos.

E o Puppy tem-no. Decididamente. Talvez na admiração da cor que mudará ao ritmos da estações e dos esforçados jardineiros que terão de manter o pelo florido do bicho, no humor que do cão transpira, na inversão da ordem natural das coisas (afinal, são geralmente os cães que pisam os jardins…)

Entramos. Não há enchente embora sejam bastantes as pessoas que já se distribuem pelos andares e salas. O bilhete de entrada dá direito à utilização de um áudio guia. Boa ideia.

Nothing really is what it looks like -I do understand it. There are contexts, readings,  purposes… everything is allowed to creation and invention and, in due truth, this is the only way to change the world. But for an unassuming reader – me – the evidence, the flare that throws the jaws ajar and brightens the eyes has to overcome the hurdles of memory, of all that I keep in it as an inventory of my day-to-day, of all that is decidedly commonplace and dull. It is not enough to reregister the object; to force a context.  A modicum of something else is needed; maybe the part that one cannot rationalize, maybe the angels’ share, as it happens to whisky ageing in casks.

And the Puppy has it. Decidedly. Maybe in the awe inspired by the colours that will change to the rhythm of the seasons and of the hard working gardeners who  will have to maintain the critter’s flowery fur, on in the humor that transpires from the dog, in the subversion of the natural order of things (after all, it is dogs that usually step on gardens…)


We go in. The hall isn’t crowded even though many people  are already scattered through the rooms on the different levels.  The entrance ticket entitles you to use an audio guide. Great Ideia.




 Guggenhein


O rés do chão é ocupado principalmente por uma sala com uma enorme instalação:  la materia del tiempo, the matter of time.

Estranhas formas recortadas em grossas folhas de aço patinado por óxido, também ele uma representação da matéria do tempo no aço…

Uma sala adjacente explica ao detalhe com maquetas e painéis a genética  da obra, complexa  matéria de geometria e engenho

Com o auxilio do áudio-guia corremos todas as salas do piso térreo antes de subirmos para as exposições temporárias, ocupando o piso superior, uma delas - A França em guerra 1938-1947 - apela-me particularmente ao interesse.

O contraste entre a arte “oficial” de Vichy e a arte proscrita, entre a figuração neoclássica nazi e a exultante transgressão moderna. Também aqui, felizmente, a Alemanha perdeu a guerra!

Cansados pelo andar e pelo esforço de leitura, como sempre acontece em qualquer visita a um museu, retomamos o ar que circula, o lado de fora.

The ground floor is mainly occupied by a room with a huge installation: ‘La materia del tiempo’,  the matter of time.

Strange shapes cut from thick steel sheets exhibiting a patina of oxide, it too a representation of the matter of time on the steel , I reason…

In the adjoining room the genetics of the work, a complex interrelation of geometry and talent,  is explained by models and information boards.

Relying on the audioguide we browse all  rooms in the ground floor before going up to see the temporary exhibitions on the upper floor. I am particularly interested in one of them – France at war 1938-1947.

The contrast between the ‘official’ art of Vichy and the proscribed art; between the nazi neoclassical figuration and the exulting modern transgression. Here again, gratefully, Germany lost the war!


Tired from walking and from the strain of digesting what we see, as it always happens in any museum visit, we rejoin the circulating air, the outside.




Tulips - Jeff Koons


O museu é ele mesmo uma estranha e complexa escultura. Subo rápido ao início da ponte para a tal fotografia. Filmagens para uma qualquer TV de leste impedem uma vista desimpedida da ponte a enquadrar o edifício. Irritado e suado pela correria, volto para o parque ao pé do rio, onde terminamos a visita.

The museum itself is a strange and complex sculpture. I run back to the beginning of the bridge, to take that one shot. A couple of guys filming for an eastern Europe TV prevent me from getting a clear shot of the bridge framing the building. Irritated and sweaty from running, I go back to the park by the river, where we finally complete our visit to the museum.




A vista da ponte



XVIII

A cidade.

Bilbao tem um casco histórico relativamente compacto, delimitado pelo rio. É hora do calor e é sábado. Não se vê quase ninguém na rua. Uma desagradável surpresa: O zoom da objetiva que mais utilizo bloqueou e não progride acima dos 24 mm.

The city


The ancient quarters of Bilbao are rather contained, their expansion limited by the river. It is Saturday and the hottest time of the day; there’s almost no one on the streets. A very unpleasant surprise: the zoom on my most used lens has stuck and won’t go above 24mm.





Passeamos sob um sol intenso e quente, à beira rio. O teatro, a igreja de S. Nicolau. Passamos o enorme e curioso edifício do mercado. Que pena estar fechado. Os mercados fascinam-me, pela cor, pelo burburinho, pela diversidade dos produtos. Para mim são talvez o mais eloquente catálogo de um povo, de uma região.

We perambulate under the intense hot sun, by the river side. The theatre, St. Nicholas Church, the huge and curious building of the market. What a pity that it is closed. Markets fascinate me, because of the colours, of the buzz, of the diversity of products. I feel they are probably the most eloquent catalogue of a people, of a region.


O Mercado

Seguimos pelas ruas estreitas e desertas. As igrejas que passamos estão fechadas também. Sentimo-nos exaustos, do calor  e da caminhada. 

We follow through the narrow, deserted streets. The churches we pass by are also closed. We feel exhausted, from the heat and from walking.



 Voltamos ao Hotel. Uma vez mais, perdemo-nos na estrada; que interessa.. havemos de lá chegar… e chegamos, tarde. Ligo a TV, estendido em cima da cama: Pelota basca… em direto…!


Time to go back to the hotel. We get lost on the way back,  once again; it really doesn’t matter… We’ll get there… and we do, late. I turn the TV on as I lay on the comfy bed: Pelota basca… Live…!