domingo, 4 de maio de 2025

   Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,

em partes, tantas quantas me promete a memória...


15 de Abril de 2025 -  Samarcanda 

Reguistão


A Praça do Reguistão, em Samarcanda é, creio, o postal mais conhecido do surpreendente Uzebquistão.

De facto, é impossível não ficar completamente desconcertado pela grandeza do magnífico conjunto arquitectónico que define a praça, integrando três madraças, erguidas entre os séculos XV e XVII:  madraça de Ulug Beg, a nascente; madraça  Tilya-Kori, a  norte e madraça  Sher-Dor, a poente...

...e mais que a grandeza dos pórticos, cúpulas e falsos e reais minaretes, que deixa o visitante toldado pela dificuldade de escolher para onde olhar primeiro, em quê se concentrar, é o facto de não haver um milímetro quadrado naquelas paredes que esteja por decorar com a mais visualmente inebriante cerâmica que mais ainda se afirma em espanto.

E depois, sempre nos disseram que, no Islão, é proibida a representação de humanos e animais....então que fazem ali, no topo do portal da madrassa Sher-Dor aqueles dois belos tigres que perseguem gazelas sob o olhar de um sol com cara de pessoa?

Passamos grande parte da manhã visitando o sítio que, como não poderia deixar de ser beneficia também de estatuto de Património Mundial, outorgado pela UNESCO.

De resto, numa das madraças, entre os visitantes e os vendedores que ocupam hoje as celas onde dormiam os estudantes, com as suas bancas de sedas, tapetes,  pinturas, instrumentos musicais, e todo o tipo de artesanato local, deparo com duas jovens envergando coletes da UNESCO que parecem ocupadas com a captura de imagens. Abordo-as, por mera curiosidade, e durante alguns minutos trocamos conversa de circunstância sobre o local, a UNESCO, a importância da história.... 

Uma delas pergunta-me se não me importaria de ficar registado em vídeo, respondendo a algumas perguntas sobre essas mesmas questões. Respondo que, por fazer parte de um grupo, estou de alguma forma pressionado no tempo livre... insistem, "são só cinco minutos...";  "então vamos a isso!", respondo e, no meio do jardim da madraça Tilya-Kori, debito para o telemóvel que me é apontado algumas palavras sobre o que para mim representa a UNESCO e o conceito de Património Mundial, bem como algumas impressões sobre o sítio onde nos encontramos. Talvez um dia dê por mim num vídeo qualquer da UNESCO... tenho que ir espreitando de quando em vez, para ver como me saí nos meus cinco minutos de fama 😀.

Todo o sítio está hoje reconstruído, mas é possível, em um dos edifícios, ver uma exposição de fotografias que mostram como o local se encontrava no sec. XIX, antes das operações de reconstrução que decorreram entre 1967 e 1987.

Os altos minaretes que estavam perigosamente inclinados, fruto dos terramotos, foram estabilizados, embora ainda hoje seja visível a olho nu o seu desalinhamento vertical; as fachadas foram reconstruídas e, acima de tudo, toda a decoração de azulejo e mosaico foi refeita ou completada.

Espantoso é entrar na restaurada mesquita dourada da madrassa Tilya-Kori, toda decorada na mais brilhante das combinações: azul e folha de ouro... três quilos dele foram lá depositados em fina folha, conta-nos Dil, o guia, no último restauro.

Numa outra madrassa, visitantes tiram fotografias envergando longos vestidos de ceda ou trajes típicos. Um músico local faz-nos uma interessante demonstração de vários cordofones utilizados no folclore local. De duas a seis cordas, vários são os instrumentos que nos são apresentados.

Saímos por fim da praça, mas sem nos despedirmos dela. à noite voltaremos para ver a iluminação que doas as noites atrai multidões de novo ao coração de Samarcanda, a cidade do forte (Kand) de pedra (Samar), como se diria em Persa.



Madrassa Ulugh Beg







 

 Madrassa Tylia-Kori











Madrassa Sher-Dor












As jovens funcionárias da UNESCO com quem falei

A praça antes do início do espetáculo de luzes

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