quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Hoje ainda, mesmo agora, pensei escrever
a vidraça baça e húmida que atormenta o dia.
Desisti.
Risquei caneta em rimas, procurei, afoito, tema
Que medrasse fácil, que de letras gravitasse,
só por si…
Ensimesmei, puxei cabelo e sobrancelhas,
cofiei barba…inútil busca, vã a espera,
Concluí.
De poeta, (e se eu queria) , não me dá  arte.
Melhor será que te compre um livro,
decidi,
talvez assim te possa contar histórias
de barcos, deuses  e mar, como  aquelas que
nunca li.

Today, just a short while ago,  I thought I would write
the dull and damp windowpane that upsets the day.
I gave up.
I wrote and wrote the odd rhyme, boldly looked for a theme
That would easily grow, gravitating in words,
All by itself…
I introspected,   pulled hair and eyebrow
smoothed the beard… useless quest, hopeless wait
I concluded.
Of a poet (and how did I want it…) I don’t have the art.
It’s better that I buy you a book,
I decided,
maybe I’ll be then able to tell you stories
of boats, gods and sea, just like those
I never read.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

National Geographic

Escrevo de nada e olho o relógio que corre atrás
escondido na folha azul, como devem ser os dias.
Dou-te a cor, nobre ave, para que possas voar
Que tanta falta me  faz agora a primavera.

Ao fundo da sala, o mar, velho no quadro da parede,
observa…:  o papel treme na ânsia da letra
Tinta, nada mais que tinta,
No mar e no papel.

Hesito, que a palavra se me escapa -
Livre, pública e aumentada -
E, de olhos fechados, escrevo de nada
Agora que me imagino entre a Califórnia e Tombuctu 




National Geographic

I write of naught and look at the watch that runs behind,
hidden in the blue of the paper sheet, just as days are supposed to be.
I colour you, noble bird, so that you may fly
For lately I've been sorely missing spring.

By the end of the room, the sea, old, in the painting on the wall,
observes…: the paper trembles anxious for the letter
Ink, nothing but ink,
in the sea and in the paper

I hesitate, for words escape me –
free, public, augmented –
and, eyes closed, I write of naught
Now that I imagine myself between California and Timbuktu