Fecho os olhos para os forçar a procurar no escuro. Por trás de mim, as luzes que descem a estrada que leva ao topo do morro onde assenta a velha vila a isso me obrigam. Quero ver o que apenas se pressente… uma mancha, a mácula que o leite materno da deusa enganada deixou no firmamento entre os insondáveis e incontáveis espaços e objetos siderais.
Como se fosse um alpinista da luz, procuro aclimatar-me, pois.
Porque eu quero usar a cadeira.
Foi seguramente por isso que lá a puseram, embora suspeito que o não soubessem: a esta hora estás sempre vazia, o que é sumamente estranho, pois que a vista, agora sim, é incomparável. Por isso, estranho a ausência de apaixonados casais espalmados um contra o outro para o deleite de mais uma inolvidável selfi para partilhar “depressa, depressa” nos indispensáveis e hipermodernos feice ou insta (ai tantos láiques, amor…); dos pais apontando a dedo às crianças que a terra e o nosso sistema solar também fazem parte desta galáxia; dos despreocupados turistas que a toda a hora, enquanto o sol dura (e, mais ainda, enquanto se põe) aqui param para ver a vista “oh comme c’est magnifique, outstanding, wunderbar ….”
Desta vez nem as ovelhas que de manhã ouço balir enquanto placidamente pastam pelos socalcos que levam ao miradouro onde me encontro agitam chocalho, e ainda é cedo para o canto do galo.
Ah, como é belo o silêncio que só o marulhar do vento nas folhas preenche!
Ah, Como é belo o silêncio do firmamento que só a ferida da luz das estrelas preenche!
Ah, Como é belo!
Mas para ver, é preciso fechar os olhos primeiro. E aproveitar a chamada de uma simples cadeira vazia!
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