segunda-feira, 7 de setembro de 2020


No chão piso o amarelo dourado da palha que já foi planta e agora é lembrança que o verão continua, mesmo quando caminhamos decididos para o equinócio e que os dias deviam começar a mostrar alguma clemência para todos os que, como eu, têm para o estio capacidade limitada (e já há muito ultrapassada).

Nas estações, como na vida, irritam-me os extremos pelo que têm de irrevogável, de eternamente conflitante com a ideia de procura, da tentativa e erro, de descoberta empírica, enfim de… deslumbramento!




Não obstante, se encarados de forma circular, os extremos não existem e é assim que  os acomodo para meu conforto e descanso cerebral, na certeza que algures, nos 360 graus da nossa eterna rotação, o chão pardo e seco que hoje piso há de uma vez mais ganhar outras cores, abençoado pelo verniz vital da chuva que irá cair.

Até lá, resta-me procurar nas manchas de verde que, ainda assim, aqui e ali, subsistem, seja porque milénios de evolução e adaptação ao solos e clima assim o permitem, seja porque milhares de metros cúbicos de água da rede de rega camarária as teimam em dedicadamente aspergir.



Não que o pardo e a palha, não tenham os seus defensores também, como me lembram os gafanhotos que me saltam dos pés ou as formigas que laboriosas tecem carreiros, enfileiradas com carregos a lembrar um exército de disciplinados estivadores. Mas eu, neste inescapável desafio cromático, eu, um indefectível defensor e irrevogável  fã do azul, prefiro decididamente o verde ou não fosse ele a cor de tudo o que é perene….


 

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