Brian Wilson
Leio no rodapé do noticiário o que nunca se quer ler. Sem direito a chamada, a imagem…. mais que tudo, a música.
Não somos obviamente próximos, não irei sentir o peso que a perda dos nossos nos amassa naquele estranho sítio onde guardamos os amores.
E no entanto, magoa-me. como sempre me magoam os vazios nos lugares que sempre acreditei cheios. os lugares que me fizeram; que eu fiz.
Hoje vão-se neles criando brechas... cada vez maiores....e não há forma de as preencher, renovar...
Vai ser assim... sempre.... até que a brecha seja eu próprio.
Não me sai da cabeça… há muito anos que não me sai da cabeça… tantas e tantas vezes.
Estava no disco que ainda tenho. The Beach Boys 20 Golden Greats…
Tinha conjurado algum extra com a magra mesada… já não sei como.
A verdade é que me lembro de o tirar pela primeira vez da capa e de ir logo direitinho para a o fim da lado A, depois de ver a lista de canções….
”So, hoist up the John B. sails, see how the mainsail sets,…” e ouvi, uma e outra e ainda outra e outra ainda, antes de fazer saltar o braço do gira-discos para outras faixas que guardo hoje também no meu baú das preciosidades intangíveis.
Estávamos nos finais dos anos 70. Os Beach Boys, como tantas outras bandas ainda na altura existentes, eram já passado, todas aquelas teias da mais fina filigrana harmónica perdidas agora na batida inconsequente e fastidiosa do disco sound…
Não me admirava. Estávamos chegados ao píncaro. À míngua de novas subidas para vencer, o caminho só poderia ser para baixo, para o vulgar, para o obstinado igual que fez horas e horas de uma música que mais parecia destinada a desenrolar-se na infinita rotação de bolas de espelhos e na palpitação sincopada de estroboscópios.
A música - não toda, claro, mas aquela que nos era servida na rádio - deixava de ser o fim, para passar a ser um meio, subalternava-se ao jogo da cor e das luzes…
Compare-se Good Vibrations com qualquer êxito de discoteca da altura, compare-se God Only knows….
Não! Não se pense sequer em fazê-lo. Será pusilânime sacrilégio.
Brian Wilson viveu por dentro de um coro… a tempo inteiro.
Alguns espalham a vida em múltiplos; desarranjos de personalidade? Opções conscientes e intencionais? Quem o saberá se nem os próprios muitas vezes o conseguem explicar .
Brian Wilson foi múltiplos também. Um por cada linha de voz que congeminou; um por cada articulação harmónica; um por cada entrada desfasada…
E eu tenho-os a todos, todos, no ouvido!
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