Não é infinito, o oceano, embora possa daqui parecer, tal como não é
infinito o dia que se alonga preguiçoso e quente quanto baste para encher o
paredão de passeantes, corredores, ciclistas e outras almas, senão perdidas
pelo menos irrequietas, como a minha, procurando tirar o melhor partido do sol
e da liberdade a prazo que mais um dia de semi-confinamento impõe.
Tem sido assim nos últimos quatro dias, embora só hoje o sol brilhe quente e seco, de verdade.
Não me queixo. Tento aproveitar o melhor que posso o tempo, da forma mais segura que se pode: na companhia de mim mesmo passeio na mata ou à beira-mar. Não me custa, gosto de me ocupar com coisas que faço sozinho e em que a presença de outros pode até ser perturbadora: fotografar, ler, escrever, ou tão só, olhar os outros e as coisas. Compreendo a necessidade de minorar o mais possível a possibilidade de transmissão de um vírus democrático, igualitário, universal e gratuito.
Como é estranha a
variação semântica. (nem sei, sequer, se será assim que se diz). Na verdade, a perplexidade
que me inquieta transcende a relação
básica significante-significado: qualidades que entendemos boas, positivas, têm neste tão insofismável
quanto invisível bicho a valoração mais negativa que possamos imaginar…
O mundo ao contrário!...
Volto a olhar para a linha do horizonte. Na verdade, o universo é uma imensa ampulheta. Se virarmos a terra ao contrário o mar e o céu continuarão a escorregar um para o outro. E esta certeza deixa-me mais tranquilo.
Arrumo as minhas coisas, volto a pôr a máscara e atravesso de novo o paredão, cheio dos mesmos de há pouco, que são agora outros.
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