quinta-feira, 24 de setembro de 2020




A bruma sobe rápida pelo recorte alcantilado que, por aqui, deita a terra ao mar. Ainda agora se via tudo, apesar do sol não ter por enquanto nascido e, de repente, um fumo branco, sem cheiro nem combustão, tudo esconde.

Melhor: quase tudo. Até mesmo o círculo de luz que, implacável, ascende agora sem que, desta vez, não o possamos olhar de frente, tamanha a contumaz arrogância do seu brilho!

Não obstante, aqui e ali, onde o etéreo vapor ainda não chegou, adivinham-se cores e coisas, como se  alguém soubesse que o sítio não me é familiar e me não quisesse privar de referências, da segurança de saber por onde voltar..

Mais que a ausência de horizonte, no entanto, é a ausência de som que me retém a atenção. Nada. Nem as gaivotas, nem as gralhas, nem os pombos, que sei também escondidos nas falésias que não vejo.

Cheguei aqui à procura do prazer da luz que por vezes doura a cores indecifráveis, mais douradas que ouros inventados, hipotéticas nuvens. Ilusão rapidamente destruída: até onde os olhos alcançam, o céu fundia-se com o mar num plano contínuo, semeando uma  quase monocromia desanimadora… banal (sei bem que  incorro em crime de soberba por adjetivar o que será sempre um mistério – a existência e o facto de a poder constatar – mas o facto de ser parte interessada e participante, dá-me essa prerrogativa).

E, no entanto, sinto-me imensamente feliz, porque até no nevoeiro há a promessa de uma desconcertante beleza, soubesse eu captá-la.




  

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