terça-feira, 27 de outubro de 2020

 

Mais de 40 anos depois, voltamos a encontrar-nos. Como está professor?


Sei que já aqui disse mal de si por o ter encontrado num tempo em que não o soube procurar… é verdade que o senhor também não tornava as coisas fáceis, com aquela mania de nos matraquear constantemente com os clássicos gregos e latinos, quando eu e muitos outros não tínhamos sequer idade para entender o conceito de clássicos próximos, quanto mais os da antiguidade…. 

Foi inopinadamente que por aqui passei. Trouxe-me cá o acaso, apenas para pernoita. Encontrá-lo é pois mais saboroso ainda, quase como uma “aparição”…. (desculpe armar-me em engraçadinho, mas estava a pedi-las, aí de cima do plinto, com essa pose e sobretudo que tão bem lhe ficam, porque delas me recordo).

Tenho pena de não visitar a sua casa. Não por coscuvilhice, claro, mas antes porque também estou numa altura em que memória e nostalgia se enrolam, até na garganta, por vezes….Quiçá, numa próxima. A D. Isabel, a simpática senhora que me alugou a casa onde fiquei é que me lembrou que estava na sua terra e que não tinham mais que passar 100 metros para lá do pelourinho, para lhe descobrir a morada.

Está fresco, Professor! E eu estou menos agasalhado que o senhor! Nunca fomos próximos, mas pedi-lhe uns autógrafos, lembra-se? Era o meu pai que os queria nuns livros… que, lamentavelmente, com as trocas e as andanças da vida, já se perderam de rasto!

Gostava mesmo de entrar em sua casa, perscrutar-lhe as prateleiras… aquilo deve ser só Homeros e Ésquilos e quejandos…

Continuo olimpicamente ignorante em relação a esses seus diletos autores, mas sei que agora, pelo menos, procuraria ouvir para lá da minha ignorância.

Enfim, não foi uma oportunidade perdida, porque como éramos, nem oportunidade seria: o senhor já então a falar do alto de um plinto, ainda que este não fosse mais que o estrado de madeira frente ao quadro, e eu cá em baixo, na carteira, a pensar que lá fora, no recreio, o meu latim era muito melhor que o seu….

Enfim... olhe, a verdade é que gostei verdadeiramente de o ver! 

Boa noite e até uma próxima!


Casa de Virgílio Ferreira, em Melo, Gouveia.


Sem comentários:

Enviar um comentário