"Queria alguns selos comemorativos, para enviar uns postais, por favor."
A face atrás do balcão olhou para mim como se eu fosse primo do Hans Solo ou um viajante de alguma máquina do tempo.
"Desculpe, só tenho selos normais auto-adesivos, para serviço nacional ou internacional. Há muito tempo que não vemos aqui selos desses....".
"Mas isto não é uma estação dos correios?"
"sim, mas ....selos...."
Olhei à minha volta: um balcão do banco dos correios; prateleiras com livros para vender; pessoas a pagar faturas de gás e eletricidade; pessoas que queriam expedir encomendas, mas selos......
Esta é uma história verdadeira e recente. Aconteceu-me ainda ontem, quando fui enviar alguns postais e envelopes para amigos, noutros pontos do globo.
No meu regresso a esta espécie de hobby, não podia acreditar que os selos se tinham tornado tão quase etéreos, na sua existência....
Houve uma época em que os selos estavam em todo o lado. É verdade que não havia muitas emissões comemorativas e a maioria dos selos em circulação eram definitivos que circulavam durante muito tempo; mas podia começar-se a coleccioná-los porque uma boa parte da correspondência que se recebia em casa tinha selos nos envelopes. Hoje em dia, é possível que não recebamos um envelope selado na nossa caixa de correio durante muito tempo. Provavelmente haverá hoje crianças que nunca viram um envelope com selos carimbados nas suas vidas.
Gosto de selos, nunca fui um grande coleccionador, mas maravilho-me com a imensa arte e engenho que a concepção de um selo covoca.
Para mim, olhar para selos pode ser um exercício semelhante a visitar um museu. Um prazer para os olhos; uma fonte de inspiração; um estímulo para a curiosidade.
É verdade que os coleccionadores adoram que os seus selos sejam imaculados, ou MNH (Novos sem Marca de Charneira) no seu jargão, mas ultimamente tenho vindo a pensar que parte da beleza de um selo reside no seu propósito.
Um selo cancelado conta uma história maior do que um selo imaculado e virgem. além do evento, situação, lugar ou personalidade, etc. que celebra, o carimbo que exibe tem o som da distância conquistada; a aura de boas ou más notícias entregues; o desgaste da missão cumprida.
Compreendo que os selos sejam também vítimas da automatização e, sobretudo, da desmaterialização dos processos. Não há volta atrás na evolução (uma afirmação discutível, admito), mas espero que os selos vivam mais tempo do que eu próprio.
E acima de tudo, espero que da próxima vez que for aos correios eu possa comprar.... Selos!
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