Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, tantas quantas me promete a memória...
29 de Março de 2025 - Bordéus / Saint Emilion / Bordéus
Planear com alguma antecedência é, regra geral, preocupação do viajante. Podemos ser mais ou menos detalhados nas variantes que integramos nos nossos planos de itinerário, em função da nossa própria personalidade e interesses, mas itens do cardápio do viajante como o tempo atmosférico e a disponibilidade de transportes, têm, por certo, residência permanente no mais básico dos menus.
Também eu planeei a minha ida a Saint Emilion. Até com uma antecedência que não me é característica: ainda em casa, onde agora escrevo, vi opções de transporte, tempo, que ver, etc. etc.
Tínhamos decidido que, como a nossa visita a Bordéus já era coisa de repetente e que iríamos, ainda assim, dedicar um dia inteiro a relembrar a cidade, o segundo dia do nosso passeio fosse principalmente preenchido com uma ida a Saint Emilion, para descobrir uma vila que ostenta o honroso estatuto de Património Mundial outorgado pela UNESCO, em razão das suas igrejas românicas e das tradições de produção de vinho, que na região de Bordéus são, de qualquer forma, o substrato em que assenta grande parte da economia.
Tão cuidado no planeamento fui eu que, na véspera, em Bordéus, passei mesmo pelo local onde se deveria apanhar o autocarro que percorre os cerca de cinquenta quilómetros que separam as duas localidades, para ter a certeza de que não perderia tempo à sua procura, quando chegasse a hora da partida (que também foi alvo da correspondente verificação).
Decidimos que partiríamos de Bordéus no autocarro das 11h00, o que nos daria tempo para uma manhã de sábado descansada e de calmo passeio.
E assim fizemos, passando por sítios ainda não visitados, como a praça da Vitória e a sua tartaruga, que, de resto, não pude fotografar como pretendia...: uma mãe, cansada de turistas ou simplesmente antipática e mal-educada, vendo-me a fotografar a coluna do monumento ao vinho e as tartarugas, sentou-se ostensivamente na base da coluna e "largou" as crianças nos simpáticos quelónios, impossibilitando qualquer fotografia mais cuidada.
Várias vezes me tenho debatido com esta praga de pessoas mal dispostas com os elementos, que se comprazem em se confundirem com objetos de mau gosto (que em grande medida são o que efetivamente são...); irritam-me de sobremaneira, mas contra a estupidez é muito difícil encontrar outro argumento que simplesmente ignorá-la.....
Com o tempo a passar, dirigimo-nos para a Place Quinconces, local da paragem do 4617, o tal autocarro que, às 11 horas, nos levaria para Saint Emilion. Já estava gente na paragem e tínhamos ainda cerca de 15 minutos de espera.
Um autocarro veio e parou... não era o nosso mas outro dos sistema de transportes de Bordéus. As pessoas que nos acompanhavam na paragem entraram todas; o autocarro partiu; o relógio marcava 10h55; o nosso deve mesmo estar a vir, pensei...
11h00; 11h05, apenas nós na paragem. levanto-me e vou confirmar o horário no placard da paragem...
4617 - Bordeaux Quinconces-Libourne-St Emilion, partidas todos os dias às 9; 11; 12; 13h....
"Diabo, ... que se passa?"
Um novo olhar para o horário fez-me só então descobrir uma nota inscrita sobre a folha: válido a partir de tantos de abril....
No melhor planeamento cai a nódoa, dir-se-á... uma rápida consulta ao google maps e aí vamos nós de novo no tram, em direção à estação de Saint-Jean, para tentar a outra hipótese disponível para chegar ao nosso destino.
Por sorte há um comboio a sair quatro minutos depois de comprarmos os bilhetes e, em menos de nada, eis-nos dentro de um confortável comboio para partir finalmente para Saint Emilion.... se perdêssemos este, só duas horas depois haveria outro, a mesma frequência com que teríamos de nos haver no regresso, acrescida do facto de entre a estação e a vila haver que percorrer, a butes, dois quilómetros de estrada.
Talvez porque o sol estava perto do no zénite e a luz desagradavelmente dura, mas Saint Emilion, depois de percorrermos algumas centenas de metros já no coração da vila, não nos parece nada do outro mundo, estragados que estamos por tantas vezes visitarmos Monsaraz, ou Marvão, ou Óbidos...
Antes da vila, aqui e ali a imponência de alguns châteaux com as suas belissimamente tratadas vinhas; dentro da vila, casa após casa de ... venda de vinho.
Um praça grande, ocupada pela esplanada de restaurantes, uma afamada igreja monolítica que não visitei porque estava fechada, uma outra igreja românica com um bonito claustro, com uma das paredes ocupada por um fantástico pintura sobre painéis de madeira, dedicada ao "Apocalipse", que, leio mais tarde, foi e é fonte de enorme polémica já que tinha um custo estimados de 450 000 euros e que não havia dinheiro para a pagar.... não sei se já resolveram a questão, mas que a pintura magnífica é.....; algumas casas bem cuidadas, ruas estreitas,, uma torre de castelo....
Tudo visto e revisto, decidimos avançar para o comboio, já que senão teríamos mais duas horas de espera até ao próximo, sem muito para fazer ou em que gastar o olhar.
O comboio vem um pouco atrasado. No caminho de volta, dormitamos...
Bordéus, de novo. A Garonne.... falta-nos atravessá-la de barco. O passe também é válido para o serviço nos simpáticos barcos elétricos: o BATO.
cruzamos o rio duas vezes até chegarmos à paragem mais a nascente. Espera-nos um longo passeio borda rio que, ao longo de armazéns convertidos em centro comercial, nos vai levar até as imediações da cidade do Vinho e do seu inconfundível edifício.
Não temos qualquer vontade de visitar o edifício por dentro. Eu, em particular, estou de relações cortadas com o delicioso néctar há muito tempo e nada mais lá dentro há para fazer que não seja dele falar, ver, provar... não me apetece.
Voltamos parta casa, finalmente, de tram e autocarro. Os pés estão cansados e o corpo também. Espera-nos mais tarde um agradável jantar com umas deliciosas "moules" e uns estaladiços eperlans (pequenos peixinhos fritos) e o aconchego de um bom sono antes da manhã do dia do regresso.
Bordéus
a sombra de um candeeiro no sol forte da manhã, e a prova de que as portas, em Bordéus, por vezes são invulgarmente estreitas
medalhão do friso superior da Galerie Bordelaise, uma passagem comercial bem no centro da cidade, construída no sec. XIX.
Saint Emilion
Château Fonplegade
Os benefícios de passear à hora de almoço: ruas desertas (e luz quase zenital... não se pode ter tudo :-))
Uma velha casa de construção enxaimel
(continuava a ser hora de almoço....)
a fachada da Câmara
A nave e o presbitério da Église collégiale de Saint-Émilion
Detalhes do grande painel de quase 40 metros de comprimento instalado numa das paredes do claustro
O Campanário da igreja monolítica e a Tour du Château du Roi são dois dos pontos altos que dominam a paisagem de Saint Emilion
Uma velha fachada, a caminho da estação de comboio
Bordéus
Um dos simpáticos barcos elétricos do serviço "BATO"...
... e um dos enormes navios de cruzeiro fluvial no Garonne... (ainda comemos uma excelente e gorda tâmara no mercado dos Capoussins distribuída por um funcionário da Viking cruises que nos tomou por turistas do grupo que visitava o mercado na mesma altura que nós :-))
A ponte Jacques Chaban Delmas com o tabuleiro elevatório totalmente descido.
Detalhe na parede lateral do Edifício do Cap Sciences, um centro para divulgação científica técnica e isdustrial
Edifício da cidade do Vinho