terça-feira, 8 de abril de 2025

 Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,

em partes, tantas quantas me promete a memória...


30 de Março de 2025 -  Bordéus


Pouco mais que uma manhã nos separa da cadeira do avião para o regresso a casa, numa manhã calma, de domingo, sem chuva e, também, praticamente sem gente nas ruas que cruzamos agora, numa última passagem pela cidade do Garonne.

Uma grande "brocante", no terreiro contíguo à basílica de Saint Michel, contrasta, no entanto, em animação e número de pessoas com as ruas por onde até agora tínhamos passado.

Nas bancas o habitual e, em mim, também o habitual espanto sobre a "vendibilidade" de 90% das coisas que por ali se propõem a hipotéticos novos donos.... "mas quem é que alguma vez comprará estas coisas?" e, no entanto, semana após semana, lá são elas metidas e desmetidas em caixotes de cartão, no eterno ciclo de mostra e guarda, até que o lixo ou o tal elusivo comparador as adquira, após o imprescindível regateio, como o da senhora que pergunta apontando para uma pequena estatueta de cerâmica

"Combien?"
 "5 Euros"
"Oh non, merci."
 "Combien, Madame?"
"Trois"

um assento de cabeça e logo na mão da senhora surge uma pequena nota de 5 euros que fecha o negócio contra a moeda de dois euros por que a troca, enquanto a pequena estatueta desliza já para bolsa pendurada a tiracolo.

"Merci, Madame, Bonne journée" 

"Bonne journée à vous, Monsieur"

Visitamos a igreja que está aberta, ao contrário da véspera.

A sombra escura, medieva, que a habita exige que os nossos olhos se adaptem,  habituados que vêm à claridade áspera que lá fora se  faz sentir.

Demoro-me a apreciar os modernos vitrais que neste jogo de contrastes brilham agora em todo o seu esplendor.
 
De novo no exterior, avançamos despreocupados, por ruas interiores, procurando a surpresa da cor e do contraste em insuspeitas  portas e janelas. Encontro algumas, que não resisto a fotografar.

Porte Cailhout. Há uns anos tomámos aqui uma bebida numa esplanada, a meio da tarde. Paramos para um segundo café, não na mesma esplanada (esse café está fechado), mas noutra mesmo ao lado, frontal à porta.

Corredores matinais atravessam o arco da porta nos seus justos e coloridos malliots de jogging... mais elas do que eles, algo em que também tenho reparado em Portugal... são mais as senhoras que correm que os homens...

Um estranho monovolume e monolugar  atravessa também a praça, devagar. Após alguma pesquisa concluo que se trata de um Velomobiel (um veículo que, na prática é uma bicicleta integralmente carenada) Quatrevelo. Tinha-o já visto na véspera, a partir da janela do tram,  na Victoire. O curioso é que atravessou a praça tão silenciosamente que só dei por ele quando estava já a sair do meu campo de visão.

O tempo vai passando e em breve teremos de voltar para casa para ir buscar as mochilas e desandar para o aeroporto. 

Uma coisa falta ainda: passar a ponte de pedra até à outra margem. Poderíamos fazê-lo a pé, mas levaria tempo demais. Optamos uma vez mais pelo tram. Saímos na praça de Estalinegrado, deserta, comércio fechado ou não fosse domingo... 

...Ou não fosse domingo, pensei também, ao ver a muita gente que saía da igreja de Sainte-Marie-de-la-Bastide, no final da missa. pequenos grupos cavaqueiam à porta, alguns numa língua que é muito familiar, por ser a que também falo.

Regressamos. Oficialmente a nossa visita a Bordéus terminou. Resta-nos seguir para o aeroporto, depois de termos recuperado as mochilas, numa viagem de  cerca de uma hora de tram, que apanhamos na mesma paragem em que dele saímos no dia da chegada...


Numa das estreitas portas que as casas por vezes ostentam, alguém corre a inusitada cortina que a tapa...

tudo dito!






Os bonitos vitrais da basílica de Saint Michel





Cantos e recantos....


Porte Cailhau


O inesperado Velomobiel

Sainte-Marie-de-la-Bastide




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