quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,

em partes, tantas quantas me promete a memória...

28 de Julho de 2025 - Letónia

Kuldiga

Uma manhã meia cinzenta, húmida e não demasiadamente quente, espera-nos, quando estacionamos o carro não muito longe da ponte de tijolo que une as duas margens do rio Venta e é um dos ex-libris de Kuldiga.

O centro histórico da cidade é, desde 2023, Património Mundial UNESCO, tendo a organização justificado a atribuição da distinção com o facto de este configurar " um excecionalmente bem preservado exemplo de  um núcleo urbano tradicional que se desenvolveu a partir de um pequeno povoado para se tornar no centro administrativo do Ducado da Curlândia e Semigalia, entre os sec. 16 e 18".

A diversidade arquitectónica é também destacada pela UNESCO e este facto é facilmente comprovável na nossa visita pelas velhas ruas do centro da cidade. 

Estamos no pico do verão, numa cidade Património Mundial e, no entanto, as ruas estão praticamente desertas. Passeio despreocupado, de máquina apontada a este ou aquele detalhe, sem que pessoa ou grupos delas me perturbem a composição, o prazer da descoberta, a imagem que fixo com o indicador no botão do obturador... como é diferente fazê-lo aqui (e tão sumamente melhor) ou numa das cidades da berra... 

Encontro o centro histórico decididamente fotogénico, mas não sei se pelas melhores razões. É verdade (já o disse) que a variedade arquitetónica é grande: construções antigas de enxaimel ou totalmente em madeira contrastam com edifícios mais modernos, mas também eles longe de recentes. Quase todos, no entanto, mostram claras marcas de desgaste e envelhecimento, em alguns casos, severas marcas, diria mesmo.








E é esta patina decadente, este profundo desgaste, que tanto contribui para a plasticidade de algumas imagens que aqui e ali fixo com a minha fiel Canon.

Uma velha fábrica abandonada, de produção de papel, leio, chama-me a atenção ao lado da pequena cascata  que o rio  Alekšupīte ali criou, e  que  a alimentava de força motriz, no seu curso para se juntar ao Venta uns poucos metros abaixo. A seu lado, uma bonita ponte, também ela de azulejo, e o não menos interessante edifício do tribunal um pouco mais ao fundo...



Embrenhamo-nos, a pé, pelas ruas que levam ao largo da câmara municipal. É cedo, mas o posto de turismo já está aberto. Uma curiosa exposição de tapeçaria "fotográfica" ocupa uma das salas do edifício. Não imagino mas deve ser mesmo muito o trabalho de escolha de fio, para replicar com o detalhe que nos é dado a ver, imagens fotográficas de peixes transformadas em tapeçaria.

O campanário da igreja de Sta. Catarina e a Câmara Municipal

As curiosas tapeçarias da artista textil Baiba Rïtere

Portas, janelas, paredes, tudo a pedir olhar demorado, atento aos detalhes. 


O Alekšupīte meandra pelo centro, a caminho do castelo que hoje já não existe. Fotografo-o, lento, estreito entre duas esquinas de velhos edifícios de madeira..

Seguimos para a outra margem pela estrada que corre sobre os arcos da grande ponte de tijolo, uma das maiores da Europa feita com recurso a este material. Do outro lado, poucos metros de trilho dão acesso à mais longa cascata da europa, diz-se.


A cascata do Venta - enfim, um pequeno salto de água que não deve exceder um ou dois metros  de altura - é realmente extensa, cerca de 110 metros. Nesta altura do ano, que há pouca água no rio, pode-se sobre ela caminhar e vejo algumas, poucas, de novo, pessoas, fazê-lo, na procura da almejada selfie de férias.


No inverno, também sobre ela se poderá andar, mas desta vez sobre o gelo que a cobrirá.

No parque de estacionamento, um  Zhiguli, o Fiat 124 construído sob licença no bloco soviético, com um ar decididamente retro, com malas e tudo em cima do tejadilho, evoca tempos passados, agora história. 

Altura de seguir em frente, de continuar viagem... espera-nos uma paragem próxima em Talsi, com a alegria do reencontro com amigos.



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