Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, tantas quantas me promete a memória...
28 de Julho de 2025 - Letónia
Kuldiga
Uma manhã meia cinzenta, húmida e não demasiadamente quente, espera-nos, quando estacionamos o carro não muito longe da ponte de tijolo que une as duas margens do rio Venta e é um dos ex-libris de Kuldiga.
O centro histórico da cidade é, desde 2023, Património Mundial UNESCO, tendo a organização justificado a atribuição da distinção com o facto de este configurar " um excecionalmente bem preservado exemplo de um núcleo urbano tradicional que se desenvolveu a partir de um pequeno povoado para se tornar no centro administrativo do Ducado da Curlândia e Semigalia, entre os sec. 16 e 18".
A diversidade arquitectónica é também destacada pela UNESCO e este facto é facilmente comprovável na nossa visita pelas velhas ruas do centro da cidade.
Estamos no pico do verão, numa cidade Património Mundial e, no entanto, as ruas estão praticamente desertas. Passeio despreocupado, de máquina apontada a este ou aquele detalhe, sem que pessoa ou grupos delas me perturbem a composição, o prazer da descoberta, a imagem que fixo com o indicador no botão do obturador... como é diferente fazê-lo aqui (e tão sumamente melhor) ou numa das cidades da berra...
Encontro o centro histórico decididamente fotogénico, mas não sei se pelas melhores razões. É verdade (já o disse) que a variedade arquitetónica é grande: construções antigas de enxaimel ou totalmente em madeira contrastam com edifícios mais modernos, mas também eles longe de recentes. Quase todos, no entanto, mostram claras marcas de desgaste e envelhecimento, em alguns casos, severas marcas, diria mesmo.
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As curiosas tapeçarias da artista textil Baiba Rïtere |
Portas, janelas, paredes, tudo a pedir olhar demorado, atento aos detalhes.
O Alekšupīte meandra pelo centro, a caminho do castelo que hoje já não existe. Fotografo-o, lento, estreito entre duas esquinas de velhos edifícios de madeira..
Seguimos para a outra margem pela estrada que corre sobre os arcos da grande ponte de tijolo, uma das maiores da Europa feita com recurso a este material. Do outro lado, poucos metros de trilho dão acesso à mais longa cascata da europa, diz-se.
A cascata do Venta - enfim, um pequeno salto de água que não deve exceder um ou dois metros de altura - é realmente extensa, cerca de 110 metros. Nesta altura do ano, que há pouca água no rio, pode-se sobre ela caminhar e vejo algumas, poucas, de novo, pessoas, fazê-lo, na procura da almejada selfie de férias.
No inverno, também sobre ela se poderá andar, mas desta vez sobre o gelo que a cobrirá.
No parque de estacionamento, um Zhiguli, o Fiat 124 construído sob licença no bloco soviético, com um ar decididamente retro, com malas e tudo em cima do tejadilho, evoca tempos passados, agora história.
Altura de seguir em frente, de continuar viagem... espera-nos uma paragem próxima em Talsi, com a alegria do reencontro com amigos.
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