Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, tantas quantas me promete a memória...
28 de Julho de 2025 - Letónia - Parte II
Talsi - Mērsrags - Ragaciems - Parque Kmeri - Jurmala
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O velho barco descansa por fim, em Ragaciems |
Pouco menos de uma hora, levou a nossa viagem de Kuldiga a Talsi.
A minha mulher tinha já estado nesta cidade em trabalho e aproveitou para voltar a ver as amigas que então fez e que encontrámos num café onde passamos uma boa hora a "pôr a escrita em dia".
Saídos para seguir viagem, aproveitámos ainda para um curto passeio ao pé do lago que existe na cidade, no meio dos chuviscos que entretanto começavam a cair.
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Tal como em Kuldiga, o passado lembrava-se num velho Moskovitch 412 transformado em jarra... |
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O dono deste restaurante bem se pode dar ao luxo de "dizer para os seus botões..." |
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O lago de Talsi |
Por ali ficámos então, mais um pouco, à espera, até que amizades antigas e novas se teceram ou renovaram, que viajar tem também o condão de nos aproximar uns dos outros.
Por fim lá nos metemos de novo à estrada no meio da chuva que entretanto se adensou. Direção: Mērsrags, e o seu farol, coisa que me entusiasmava verdadeiramente, dado o meu fraco pelas altas torres luminosas.
Imagine-se uma linha de costa rasa, quase infinita, com floresta até à borda de água, onde para além do marulhar da água, do restolhar das folhas e do ocasional pio de uma qualquer ave, nada mais se ouve... Pois há pessoas que têm a sorte de ter casas (e que casas) em locais como este, com corte tradicional e telhado de colmo acabado de renovar....
Resta-me a inveja... feio sentimento, mas nem por isso menos sincero....
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Praia deserta a perder de vista... |
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Como são belos os pinheiros nórdicos, com os seus reluzentes troncos castanhos |
Os que não têm casa, podem alugar um dos simpáticos bungalows do recatado e verde parque de campismo no meio de qual se ergue então o motivo da minha ida aqui, o bonito farol que este ano cumpre 150 translações do local em que se encontra implantado em torno do astro rei, o que dará uns bons milhões de rotações da sua própria luz, que se ligou pela primeira vez em 1875.
Danificado por um incêndio durante a Grande Guerra, foi recuperado em 1922, sendo a estrutura então reforçada com as 8 chapas metálicas verticais que agora ostenta cm seu torno.
De novo na estrada, no infinito verde que a ampara de ambos os lados e não deixa perceber que ali ao lado, a poucos metros anda o Golfo de Riga, cidade de que nos vamos paulatinamente aproximando.
Uma entrada para uma localidade, a praia... decidimos parar um pouco, explorar....
Estamos em Klapkalnciems. Bonitas casas ladeiam a estrada interior que corre até um pouco mais à frente. Paramos o carro e seguimos a pé pela floresta.... como me saberia bem fazer por aqui parte do trilho do Báltico, da GR11... para mais é tudo plano, com bons pisos, até a areia é mais dura que estrada....
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Memorial dos soldados finlandeses |
A praia, em frente, está deserta; na orla da mata dezenas de orquídeas, de uma espécie que nunca vi antes (Epipactis atrorubens, creio, embora não esteja absolutamente seguro). Impossível fotografá-las: está imenso vento aqui sobre a areia, sem a proteção das árvores.
De volta ao carro, vou colhendo doces framboesas. Paro pra fotografar uma borboleta - Argynnis paphia. Também uma primeira vez. Deste género, só tinha visto a pandora, em Trás-os-Montes, há uns anos.
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Argynnis paphia |
Ragaciems é a paragem seguinte. Pequena vila piscatória conhecida como ponto de venda de peixe fumado, produto que tencionamos comprar mais tarde, antes do regresso a casa, que ainda falta muita viagem e os dias estão quentes demais para andar com peixe fumado no carro...
Ao pé da costa, pequenos abrigos de madeira servem de armazém de barcos, redes e outras alfaias de pescadores. São os sedums, outro dos ex-libris da pequena vila.
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Os seduns em Ragaciems |
Na praia, imensa e deserta como por aqui se usa, apenas um grupo de senhoras, mais velhas que nós, que falam russo entre si. Insistem em fazer-nos uma fotografia com o nosso telemóvel junto das curiosas estruturas. Aceitamos agradecidos... daria uma boa recordação.... não fosse a senhora ter-se desentendido com o telefone e ter gravado um vídeo em vez da fotografia, o que acrescenta ao pequeno filme um intervalo de cena com rotação da imagem, enquanto a simpática senhora passava a "fotografia" do formato horizontal para o formato vertical....
Agradecemos entre sorrisos recíprocos e voltamos ao carro. Já não falta muito para o destino final do dia: Jurmala, estância turística, que, nos tempos da ocupação soviética, era visitada pelos altos quadros do estado e do partido.
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Jurmala alberga uma grande variedade de interessantes edifícios de madeira dos sec. XIX e XX |
Após a independência Jurmala manteve o seu posicionamento como destino de férias e um passeio pela cidade, como o que fizemos depois de nos instalarmos fora da área de condicionamento de tráfego, confirma esta ideia, acentuada pelas muitas pessoas que ocupam os restaurantes e passeiam pelas amplas e limpas ruas, paralelas ou perpendiculares à praia e ao verde da mata, que apesar de estarmos em área urbana, se afirma em profusão.
A circulação automóvel numa faixa da cidade, que corre paralela ao mar durante vários quilómetros, é sujeita ao pagamento de uma taxa diária (3 Euros) de congestionamento. Não logramos perceber como a pagar e só o conseguiremos fazer no dia seguinte via internet (conseguimos pagar o dia em atraso, também). Não queríamos arriscar a multa de 50 Euros que o não pagamento poderia acarretar.
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no nosso passeio pela cidade demos de caras com algumas interessantes esculturas |
Também aqui, a praia parece não ter fim, o que não é seguramente o caso do dia, como nos lembra o sol que, devagar, vai recolhendo sobre o horizonte...
Até amanhã Jurmala...
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