Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,
em partes, tantas quantas me promete a memória...
27 de Julho de 2025 - Parte II - Lituânia
Palanga
O tempo... dizem que foge... não acredito, nunca o perdi.. apenas o gastei. Nem sempre da melhor forma; muitas vezes não da melhor forma... umas por culpa própria, outras porque, a isso, outros, ou as circunstâncias, me obrigaram.
Sinto-o, não obstante, a passar; cada vez mais. Tal como os batimentos cardíacos, devia ser coisa que se passa quem que demos por isso... talvez porque, de há uns anos para cá, tivesse começado a prestar mais atenção aos meus batimentos cardíacos, também o tempo me parece por vezes.... arrítmico, taquicardíaco.
40 milhões de anos... imagino lá eu o que tal possa ser ou representar, eppur está ali, à minha frente, na vitrina.
Resina de pinheiros que hoje não existem já, transformada em polímero num processo longo de milhões de anos....alguns pedaços são verdadeiras cápsulas do tempo encerrando no seu cerne escaravelhos, libelinhas, moscas, gafanhotos, baratas, também eles tão velhos quanto a resina a que se colaram para a eternidade...
O Báltico é o maior depósito do mundo de âmbar, sendo minerado e recolhido seja no enclave Russo de Kaliningrado, seja na Lituânia, Letónia e Estónia.
Por aqui, nas praias, em particular depois de tempestades, é comum encontrarem-se pedaços desta estranha resina que se vê tantas vezes transformada em joias e outros artigos de luxo.
Como o belíssimo relógio de mesa, art déco, que fotografo com o telemóvel numa vitrina do Museu do âmbar em Palanga.
Várias salas de um palacete neo-renascentista de finais do séc. XIX, construído para a influente família Tyszkiewicz de extração lituano-polaca, implantado num magnífico e extenso parque botânico, perto da cidade de Palanga, albergam a coleção do Museu do Âmbar de Palanga.
A ele chegado, dirigi-me à bilheteira para adquirir os bilhetes, mas mesmo antes de falar com a senhora que estava por detrás do balcão, uma sua colega indicou-nos o caminho para a primeira sala de exposição, pelo que pressuponho que tivemos a sorte de acertar com um dia de entrada gratuita.
Tudo sobre o âmbar, desde os aspetos científicos relacionados com a sua origem e formação, históricos, respeitando à sua mineração e colheita e artísticos, espelhados na importante coleção de artefactos históricos e actuais elaborados com esta preciosa resina, é transmitido a um visitante que percorra as salas deste museu.
E se o museu cumpre na perfeição a sua missão, o parque onde o mesmo se implanta é um deleite para aqueles que, como eu, têm por árvores o mesmo sentimento que outros provam ao olhar para as joias que ainda agora vi nas vitrinas do palácio.,
Erectas, viçosas, vibrantes de verde nas copas, e de várias outras cores nos troncos que altos se erguem à passagem dos visitantes, deslumbram pela dimensão, mas também pela simples presença... pelo menos foi o que senti ao olhar para a reluzente tília, pluricentenária, acredito, que se ergue no relvado já perto do palácio.
Gostava de ter tempo para visitar o parque, que se estende até o mar, e por ali me deixar ficar, quem sabe uma manhã ou um fim de tarde, para fazer meia dúzia de fotografias... não posso, o dia avança e há que seguir em frente....
O tempo... dizem que foge... se calhar, têm afinal razão...
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Os pinheiros nórdicos.... |
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... e a maravilhosa tília do parque botânico. |
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