sexta-feira, 1 de agosto de 2025

  Notas de viagem roubadas a um diário que não escrevi,

em partes, tantas quantas me promete a memória...

25 de Julho de 2025 -  Lisboa - Vilnius - Kaunas

 Muito bonito, o friso escultórico da fachada original da aerogare do Aeroporto de Vilnius

 
Estónia, Letónia, Lituânia.... os nomes dos três estados que, em contínuo, oferecem costa ao "canto" sudeste do Mar Báltico, e que, também em contínuo iterados, evocam páginas de tragédia, condensada numa verdadeira trilogia geo-política que ainda hoje se sente inquieta, expectante, atenta.... 

É por isso que, em Talsi, na Letónia, e talvez em outros locais do Báltico, quando o relógio da catedral dá horas, os sinos não louvam nenhum deus, nem qualquer dos nomes do vasto catálogo hagiográfico da cristandade ortodoxa ou católica... as notas metálicas que fendem o ar são, isso sim, as que acoitam o poema que começa pelo verso “Shche ne vmerla Ukrainy i slava, i volia", o hino da torturada Ucrânia, que todos nos habituámos a ouvir, desde o já distante dia 24 de Fevereiro de 2022.

Da mesma forma, por estes lados, em muitos mastros de edifícios governamentais ou públicos, ao lado da bandeira nacional e da bandeira da União Europeia, o estandarte azul e amarelo do vizinho acossado pelo gigante opressor ondula ao sabor do mesmo vento, que, quando sopra de leste, trás consigo o som cavo das botas, o zumbido seco dos drones, o silvo gritante dos foguetes...para que deles se não esqueçam...

Já passaram trinta e cinco anos desde que os três estados reconquistaram as respetivas independências, mas é sabido que a história tem, por vezes, o condão de se repetir... e nem sempre a repetição traz consigo apreciável melhoria... antes pelo contrário...

Visitei Riga, a capital da Letónia, há quinze anos. O país sentia-se ainda em reconstrução. Tinha boas memórias do que vira. Queria ampliá-las, não só na Letónia, mas no conjunto das três repúblicas.

Marcámos viagens e estadias; estabelecemos itinerários; alugámos o carro...

e no dia marcado, partimos.... iriam ser 13 dias de viagem, "circum-estradando" o conjunto das três repúblicas, correndo pela costa e regressando pelo interior....

Vilnius, a capital da Lituânia e nosso ponto de entrada e saída, recebeu-nos de passagem apenas. Ficava para ver no regresso, com tempo.... 

Os primeiros quilómetros, as primeiras impressões de um pais com trânsito fluido, enquadrado a verde por belas florestas, quase sempre, de ambos os lados da estrada...

Destino do dia: Kaunas... depressa chegámos e nos instalámos. Duas horas a mais de diferença no relógio (que não uso) e o dia caminhava rápido para o fim, embora o sol teimasse ainda por cima da linha do horizonte, que em breve, por volta das nove e meia, finalmente ultrapassaria. 

Verdadeiramente, a nossa viagem começaria no dia seguinte... dela aqui falarei, dia, por dia, ilustrado pelas fotografias que me são hábito.
 
Porém, nada na vida é certo, só o seu fim, dizem.

Seis dias corridos, um telefonema, manhã cedo... não eram as melhores notícias. Era necessário regressar, interromper viagem...

Vivemos tempos de ter o mundo na ponta dos dedos... se dispusermos de um smartphone.

Estávamos em Česis, já na Letónia.  Consultámos as opções de voo de regresso. Havia uma possibilidade de chegar ainda no mesmo dia a Lisboa, desde que conseguíssemos estar no Aeroporto de Vilnius por volta das duas da tarde. Reservámos bilhetes.

Esperava-nos  um dia de viagem pela frente, primeiro por estrada, quatrocentos quilómetros  de regresso ao aeroporto de  Vilnius, para entregar o carro e apanhar o avião para o primeiro de três voos que nos trariam de volta a casa.

Acossados pela urgência do regresso, a estrada perdera para nós todo o encanto. Já não era ver o que ela nos trazia a cada quilómetro... era antes procurar o seu fim, que sabíamos estar a quase 5 horas de caminho.

Para cortar num relato que nada tem de interessante, para lá talvez, dos 40 quilómetros que acabei por percorrer em estrada de terra batida, uma especialidade letã, tudo correu pelo melhor e por volta da meia-noite o Airbus da Lufthansa que nos transportava aterrava na Portela...

Os locais são por natureza imóveis, o que não significa estáticos. Um dia completaremos a viagem que agora interrompemos a menos de meio... não será forçosamente a mesma coisa, porque o tempo (ao contrário da história) não se repete, mas certo e sabido, lá iremos de novo para retomar onde deixámos..

Fica prometido!



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