II - Labruge - Póvoa do Varzim
10/Setembro/2023
Há muito tempo, desde os dias passados no quartel de Tavira para onde fui fazer a recruta do serviço militar obrigatório, que não dormia com tanta gente no quarto.
Éramos, pelo menos, uma dúzia na camarata do albergue de Labruge que, em tempos idos, recebia na mesma sala em que hoje estavam os beliches, as carteiras onde as crianças aprendiam as primeiras letras e os primeiros números.
Esperava menos gente, mas a simpática responsável que nos acolhia no Albergue avisou-me logo que estes eram tempos de enchente. "Ontem" disse-me, "estivemos a rebentar pelas costuras. A nossa capacidade declarada é de 64 camas; com esforço conseguimos ir até às 85; ontem acolhemos 91 pessoas. fixaram a dormir no chão que não havia nada para lhes dar; e hoje vamos pelo mesmo caminho. Se eu fosse a si, tentava já ver se conseguia marcar albergues privados para o resto do trajeto, porque este é um dos nossos maiores albergues no caminho da costa. Daqui para a frente são todos mais pequenos com pouca capacidade e ou sai às 4 da manhã, para chegar entre os primeiros, ou arrisca-se a não ter dormida... é triste mas está assim; é que o caminho não deve ser uma corrida, não é isso que se quer.
Este ano, em maio, na Páscoa foi uma enchente, esperávamos que acalmasse depois, mas julho foi igual, Agosto enorme e Setembro está a ser ainda pior...."
Fiquei preocupado e segui-lhe o conselho. Peguei no telemóvel e em menos de nada reservei noites em albergues até Pontevedra, sendo que depois, mais à frente, trataria do resto Não queria mesmo caminhar com a preocupação de me arriscar a não ter onde pousar a mochila e o corpo, depois de um dia de caminhada...."e o caminho não deve ser uma corrida, não é isso que se quer"....
Disse-me também a jovem gestora do albergue que era raro aparecerem por ali portugueses. A procura tinha todas as bandeiras possíveis e imaginárias, mas a nossa, estranhamente, era recatada. Naquele dia, de entre os muitos que uma vez mais lotaram o albergue a ponto de haver de novo gente a dormir no chão do hall antes das casas de banho, apenas uma outra moça compartia comigo a nacionalidade.
Independentemente das origens, todos precisavam de dormir e, mal ou bem, foi o que todos fizemos após o fecho as luzes.
Temia o eclodir de uma sinfonia no quarto, com tantos solistas reunidos, mas a verdade é que a noite decorreu na maior das calmas e, que eu desse por isso, tirando os dois caminhantes que se levantaram por volta das 5 horas para uma saída muito antecipada, nada houve que impedisse o descanso de todos os que enchiam a camarata.
Arrumadas as coisas e pequeno almoço tomado, saí para a estrada, para um dia de caminhada plana, frente ao mar, sem chuva, quase sempre em passadiço, passando por locais onde a relação das ondas com quem por ali vive tantas vezes encheu telejornais com histórias que seria melhor nunca contar.
Mindelo, Vila do Conde, Caxinas, e Póvoa do Varzim, finalmente. pelo caminho, aqui e ali a estatuária a lembrar essa mesma relação tristemente equalitária de quem tira e é tirado, de sustento e de morte, e que, ainda assim, se perpetua, pois que o mar sempre chama...ele próprio a sereia....
Cansado e com os ombros doridos das alças da mochila que, descobri depois, estavam mal reguladas, cheguei ao local de pernoita onde, de pronto, deixei a carga, para ir procurar um sítio para almoçar, que me não estava a apetecer fazer almoço.... e há sempre um frango assado que espera por si...
Mais tarde seria ainda alertado pelo som de bombos, e tarolas a compasso... era a procissão, que era domingo de festa, e eu não sabia...
Após ver passar os anjinhos e as maiores das virtudes, ainda fui à praia aproveitar para por os pés de molho, enquanto o dia ia deslizando em neblina para o outro lado do mundo....
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pouco a pouco, a distância vai encurtando... |
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A capela e o castro de São Paio |
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um grupo de curiosos banhistas na praia do Pucinho, Vila Chã
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Talvez algum deles seja o faroleiro do farol de Vila Chã.... |
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Já o Mindelo só me tinha a mim, e à minha sombra, quando por lá passei |
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a espaços, o passadiço já foi engolido pela duna, o que obrigava a uma sempre menos apetecível travessia em areia solta.... |
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O farolim de Vila do Conde já se via no horizonte... |
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...quando infleti para ir dar uma olhadela ao convento e igreja de nossa senhora dos Anjos. |
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como habitualmente, não resisto às combinações de cores... |
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A entrar em Vila do Conde, pela ponte sobre o Rio Ave, não se pode deixar de notar o altíssimo edifício do convento de Santa Clara, que está a ser recuperado para se transformar em hotel. |
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O bonito auditório da Câmara Municipal, recuperando a um antigo solar que, leio, estava praticamente em ruínas. |
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... partilha a Praça da República com outros interessantes edifícios e um muito bem cuidado jardim... |
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enquanto mais longe, borda rio, a bordadeira lá se afadiga, dia após dia, com os bilros, à espera do homem que foi para o mar.... |
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... ou não fosse esta terra de navegadores... desde há muito (réplica de nau quinhentista, pertença do Museu da Construção naval, Vila do Conde). |
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Na haste do relógio de sol, as gaivotas marcam todos os segundos, mas.... |
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... A minha alma tinha ficado contigo no cais.... adeus.... |
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Confessava, em silêncio, a peixeira, que, por ele, ainda aguarda... |
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Elas, sempre elas.. no seu mar, em terra... |
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A vista por detrás... |
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... da capela de Nossa Senhora da Guia. Quem a vê por fora não desconfia dos ricos tetos apainelados e das paredes cobertas de azulejos |
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O forte de S. João batista acolhia uma concentração de barulhentos motards.... |
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O forte pescador que puxa o barco... |
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... e o barco que a tantos puxou para não mais voltarem... a difícil história das Caxinas, onde tudo é mar, e sal e pesca... |
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... até a igreja! |
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Que o digam as peixeiras, lá mais á frente, já na Póvoa do Varzim, ... |
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... como que a mostrarem o seu peixe a algum jogador com sorte, ali no velho casino. |
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Que bonito é o enorme painel de azulejos que fica no fundo da avenida, paredes meias com a praia. |
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Será que as gaivotas também gostam de olhar para o pôr-do-sol? |
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