X - Cepeda - Pontevedra
18/Setembro/2023
Iria chover ou não? mais uma vez esta foi a primeira preocupação que tive quando acordei, e se bem que a consulta à aplicação meteorológica que tinha no telemóvel não me permitisse o desconforto da certeza, havia forte probabilidade de apanhar alguma água pelo caminho.
Levantei-me, vesti-me e fui tomar um lauto pequeno-almoço de pão com tomate, sumo de laranja, e café, providenciado pelo hostel, depois de confirmar que efetivamente estava a chover.
Na mesa em frente, duas moças afadigavam-.se já a tratar das bolhas nos pés, para mais um dia de caminho e eu não pude deixar de pensar na sorte que estava a ter também a esse respeito.
Nada mais me prendia ali, pelo que vesti o impermeável e sai pela porta, para a noite húmida. Sorte, de novo: a chuva parou nesse momento e só muito mais tarde, já em Arcade onde parei à espera da abertura da farmácia para comprar pomada para a canela e dos correios para enviar a carta do dia anterior, caiu um aguaceiro, que eu me limitei a observar enquanto me deliciava com uma chávena de quente café.
O caminho, depois de Arcade, inflete para o interior na direção de uma das mais bonitas vistas por onde passei: a passagem do rio em Ponte Sampaio. Mas e a gente que por ali estava já....não foi fácil encontrar espaço para as fotos que também eu queria tirar, sem apanhar um ou vários dos inúmeros caminhantes, novos velhos, em, grupo, sozinhos... enfim, lá fiz o que pude e segui caminho, que à medida que o tempo passava, mais gente aparecia....
daqui para a frente, com algumas pequenas interrupções o trilho faz-se em zona de bosque, acompanhando o traçado de um curso de água, desembocando por fim em Pontevedra, onde cheguei já com vontade de tirar a mochila das costas, embora a etapa nem tivesse sido das maiores ou mais puxadas. O incómodo da canela, no entanto, contribuía para o desconforto, agravado pela temperatura e humidade, ambas em crescendo. A sorte é que o caminho foi sempre à sombra, muitas vezes de castanheiros, que, fruto da ventania da noite anterior cobriam o chão de ouriços, ao lado de do curso de água que corria também ele turvo, castanho da terra para ele tinha escorrido.
Chegado a Pontevedra, alojei-me num excelente e central hostel, muitíssimo bem equipado, onde cumpri as minhas habituais rotinas e descansei um pouco antes de aproveitar o dia ameno para dar uma volta pela baixa da cidade.
Na catedral, que visitei, um casal de velhotes tinha uma banca montada à porta, para acolhimento de peregrinos. Dirigi-me a eles, perguntando se era ali que podia carimbar a credencial. A senhora respondeu que sim, olhou para mim e pediu-me a credencial: "Como és peregrino, vou aqui acrescentar algo à mão" e escreveu numa letra tão certinha quanto bem intencionada "Buen Camino"", mais uma vez, não consegui conter uma lágrima no canto do olho, muito embora, como já disse, não caminhasse por intenção religiosa... mas um peregrino não tem que ser um crente.... e o facto é que aquilo me soube muito bem.
Sentei-me numa esplanada para tomar uma cerveja. Como habitualmente na Galiza, ofereceram-me uma taça de aperitivos com que me fui deliciando até que um pombo subiu para minha mesa e me obrigou a lutar com ele, por várias vezes, pela defesa dos meus cacauhetes....
Ganhei-lhe, mas deixei-o comer meia dúzia deles. Contente com a vitória, segui para casa para o jantar e a cama.
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Um "memorial", algures no caminho...
... de um dia que se começava a mostrar...
... a todos os que por ele andavam e que chegavam agora...
... a Ponte Sampaio.
bordejando um curso de água
A árvore que me faz lembrar a foto da pata de iguana de uma fotografia do Sebastião Salgado
o vento e a chuva dos dias anteriores tinham juncado o chão de cortiços, muitos com grandes castanhas dentro.....
Que boa pergunta... se eu soubesse a resposta....
Uma tarde de despreocupado turismo em Pontevedra, sob o olhar atento das gaivotas...
e do Pombo, que me queria roubar os cacahuetes....
A bonita Fonte dos Nenos, quase ao pé do hostel onde me instalei.
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