VII - Mougás - Ramallosa
15/Setembro/2023
Saí cedo, como habitualmente, ainda antes do sol raiar. Espero que as minhas companheiras de alojamento não tenham ficado zangadas comigo, mas a verdade é que tive que deixar a porta da rua apenas encostada porque não a consegui fechar, já que a boa da porta estava empenada. Era isso ou fazer tanto barulho que as acordaria por certo, e como ali onde estávamos, seguramente, ninguém iria entrar, mesmo que a porta estivesse escancarada, optei por encostar o melhor que pude a pesada porta de madeira e lá segui encosta abaixo, novamente até apanhar a estrada nacional que, bem ao fundo, corria ao lado do mar.
Uma curva do caminho e descubro ao longe, a apontar para a linha do horizonte, um velho conhecido: o farol do cabo Sileiro, onde tinha estado no regresso da ida a Santiago para ver a minha filha. Não chegamos a renovar o nosso conhecimento porque, bastante antes da elevação onde está instalado, o caminho inflete para dentro, subindo a encosta entre árvores e clareiras de granito, cortando a direito em direção a Baiona.
A subida faz-se por um caminho claramente calcetado, com enormes lajes de granito que mostram sulcos de erosão de antigas rodas... caminho Romano? irei encontrar mais destes caminhos no próprio Caminho ao logo dos dias, mas pergunto-me que rodas poderiam erodir pedra tão dura...a verdade é que os sulcos lá estavam, bem nítidos e polidos. Tanto dá, até que fura....
Até ali quase todas as pessoas com quem me cruzara seguiam a minha direção, mas, a meio da subida, uma senhora, com ar de nórdica e claramente em forma pela ligeireza da passada com que agilmente se deslocava em cima das lajes, chamou-me a atenção por seguir no sentido oposto. Perguntei-lhe se ia de regresso; respondeu-me que sim e que queria ir dormir a Caminha ainda naquele dia.....iria fazer o percurso completo de ida e volta no mesmo tempo que eu lavaria a fazer a ida..... e se não era rapariga para a minha idade, ou até mais velha, pouco faltaria.....fantástico!
Impressionado, mas firme na minha intenção de me esforçar apenas o necessário para não abusar da minha condição física, lá segui caminho a subir a descer o monte, seguindo depois calmamente mais ou menos a direito, e voltando a ultrapassar uma elevação, antes de passar pelas primeiras casas de Baiona, onde cheguei relativamente cedo.
Tanto que, depois de passar pelos correios, tomar um "solo" e tentar, sem sucesso, comprar uma nova credencial na catedral, que a minha começava a ficar perigosamente escassa de espaço para mais carimbos, decidi ir dar a volta à muralha que alberga hoje um parador, passeio que me levou bem mais que uma hora.
Uma passagem pela Oficina do Turismo permitiu-me obter a desejada Credencial, sem qualquer custo.
Restava ainda algum tempo até que o hostel em Sabaris, a pouco mais de dois quilómetros de onde estava, abrisse, por isso fui comprar almoço e vinguei-me numa deliciosa sandes feita com biqueirões comprados na hora e umas rodelas de tomate, empurrada com dois yogurtes líquidos fresquinhos. Um luxo.
Depois de mais uma café, lá segui então para Sabaris, para o hostel, onde passei o resto da tarde a descansar, apenas com uma saída mais para comprar jantar e deitar a carta no marco do correio.
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O dia rompia, enevoado, quando saí de Mougás
O Cabo Sileiro, e o seu farol... como não gostar de sair cedo para poder ver o dia a crescer em paisagens como esta?
As lajes da estrada romana?
Uma fonte, curiosa no seu cobertor de canas, à chegada a Baiona
A capela de Santa Liberata. Foi no murete que tem na base, de lado, que me sentei a almoçar e a fazer tempo.
Só podia ser Galiza, certo?
A Virxe da Rocha espreita lá do alto, por sobre a baia.
A estrela de dentro e a estrela de fora... juro que assim se chamam estes pequenos ilhotes.
Porta de Filipe IV do castelo de Montereal
Encontra-se ao pé da muralha de Monte Boi, cerca do lugar onde foi enterrado o primeiro nativo americano morrido no Velho Continente. No interior da bola encontram-se depositadas porções de terra procedentes dos diferentes países iberoamericanos."
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