IV - Esposende - Viana do Castelo
12/Setembro/2023
Uma escura madrugada de nevoeiro esperava-me à saída do hostel, quando me fiz de novo ao caminho, por volta das 6h30.
Como o início do trajeto era feito em área urbana, não precisei de tirar o frontal e lá fui andando ao mesmo tempo que as sombras começavam a aclarar, muito embora o fizessem para uma paleta de contrastes esbatidos pela densa névoa que tudo cobria.
Ainda assim, a manhã guardava-me uma imensa surpresa: caminhava eu pela margem de uma campo agrícola quando, de repente, comecei a ver que a névoa se abria para revelar um inusitado semi-círculo branco.... "Oh...um arco-íris branco" gritei para mim mesmo, enquanto puxava da máquina fotográfica, com medo que o fenómeno fosse coisa passageira.
Infelizmente, a objetiva zoom da pequena máquina que escolhera levar comigo (uma Canon G9 X MKII, leve e muito pequena, como me convinha) não tinha, na extremidade grande angular, largura de campo suficiente para abarcar todo o arco-íris e eu não podia também recuar mais, uma vez que a estrada, do outro lado era murada, pelo que tive que utilizar o telemóvel para conseguir fotografar o arco de partículas brancas de água que à minha frente se formou (e pouco tempo depois se desvaneceu).
Ainda assim não podia ter ficado mais contente por ter assistido a um fenómeno sobre o qual já tinha lido mas que nunca tivera oportunidade de ver... como se não existissem outras recompensas, só o facto de ter assistido a este tão inusitado fenómeno já teria justificado a minha decisão de calcorrear uns quantos quilómetros a pé...
O dia, no entanto, guardava ainda algumas surpresas, como o facto da pista enveredar por um bonito caminho de bosque que, no fim, me levou à tranquila praia fluvial de Castelo de Neiva, no rio que lhe dá nome, limpa do nevoeiro que, no entanto, se fazia ainda sentir nas íngremes encostas que até ela levavam e que tive depois que subir até chegar à igreja de S. Tiago, onde descansei um pouco antes de retomar o caminho.
Seguir em frente... em busca de um café. Este estava a revelar-se o desafio mais difícil que enfrentava todos os dias no caminho. De facto, não só o caminho me levava amiúde por zonas pouco habitadas, como também o facto de o começar a percorrer bastante cedo, fazia com que as oportunidades de saborear uma chávena quente de café fossem bastante escassas. Hoje assim era também, e só bastante mais à frente, já em Vila Nova de Anha, pude encontrar um café aberto. Por essa altura já o sol ia bem alto e quente, pelo que antes do tão almejado café, aproveitei para me refrescar com uma deliciosa (como é possível que eu esteja a dizer isto....?) cerveja sem álcool, que serviu de acompanhamento a uma sandes de queijo que tinha preparado e que comigo trazia.
A estrada voltava a subir, mas Viana já não estava longe. De facto, poucos quilómetros à frente, já se avistava o rio, a ponte e, do outro lado o santuário de Santa Luzia, ao pé do qual ficava o albergue onde iria passar a noite.
Confesso que a passagem da ponte Eiffel sobre o Lima era um dos momentos que achava marcantes no trajecto e, embora não consiga explicar porquê, creio que o facto de se tratar de uma ponte concebida pelo génio que gizou a torre que lhe leva o nome para o céu terá bastante a ver com isso. A verdade é que sentia alguma euforia enquanto galgava os mais de 600 metros de tabuleiro, de frente para uma ventania que, longe de me contrariar, me estimulava.
"Abençoado" atirou-me um rapaz com sotaque brasileiro que comigo se cruzou, acreditando ser minha a condição de peregrino. Agradeci, por respeito e por sentir que o gesto era sincero, o que para mim lhe tirava a nota de indiferença que, em condições normais, lhe atribuiria.
Com o Lima atravessado, a etapa chega tecnicamente ao fim. era hora de almoço, por isso e pensando que que ao pé do albergue dificilmente conseguiria encontrar sítio para comer, meti-me pela baixa de Viana, até encontrar um pequeno restaurante, onde disfrutei do meu primeiro "menú peregrino". Para além do prato principal, o menu incluía uma deliciosa sopa, coisa que não comia há uns dias... couve, cenoura, abóbora...prazer em estado líquido....
Depois do almoço segui para o funicular que me levaria ao Albergue, ao pé do Santuário. Não me apetecia de todo galgar os 675 degraus do escadório e além do mais não creio que fizesse batota, porque o caminho seguia pela baixa de Viana, e não pelo morro onde eu iria pernoitar.
O albergue tinha excelentes condições e depois das rotinas habituais, ainda voltei à cidade com a intenção de ir ao correio e ao supermercado comprar jantar e pequeno almoço e, acima de tudo, passar pelo Natário, para ferrar os dentes num das muito famosas bolas que ali se produzem.
Azar.... era terça-feira, e o letreiro dizia que fechavam às terças... para além do mais, no dia a seguir fechavam para férias....
Pequena imperfeição para um dia que foi longo e preenchido e que acabou na calma de uma última olhada sobre a cidade, lá do alto de Santa Luzia.....
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O acontecimento do dia: um arco-íris branco!
Finalmente o caminho deixada a estrada e a rua para entrar pela sombra e pelo verde...
...enquanto descia até...
... à praia fluvial de Neiva.
mas logo a seguir, a subida do dia... o que vale é que estava nevoeiro e fresquinho, que ela era íngreme.
Ainda hoje gostava de saber que espécie faz estes igloos tão certinhos....
O primeiro vislumbre de Viana do Castelo
Ah, finalmente a ponte....e o vento a dar na cara... como soube bem!
O funicular para o monte de Santa Luzia...
e uma bonita fachada deco no centro da cidade.
Eu vim de longe, de muito longe... o que eu andei para aqui chegar....
No dia em que o Santuário não tiver um fotógrafo à la minute, nada será como dantes..... (Jacques de La Palice).
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