XI -Pontevedra - Caldas de Reis
19/Setembro/2023
Mais uma tirada a pedir saída cedo, para fugir ao desconforto da humidade, agravado pela subida da temperatura, e pela sua própria extensão, já que, consistentemente, as etapas agora passavam sempre dos 20 km.
O corpo, no entanto adapta-se com o tempo e, seguramente, mesmo com o desgaste dos quilómetros acumulados, 20 km agora eram menos penosos que nos primeiros dias... não fora a chata da dor na canela que, em particular nas descidas, tornava tudo um pouco mais desconfortável, mas não impossível de suportar, felizmente. O peso nas costas também passa a ser parte de nós com o tempo e, se a mochila estiver bem assestada, quase que não damos por ela.
A verdade é que, também, ao longo dos dias, fui perdendo peso, pelo que, de alguma forma, a carga total vai-se tornando mais pequena... ou iria, se eu não fosse carregando os bolsos com mais de um quilo de castanhas, como me aconteceu nesta etapa.... simplesmente não consegui resistir.... tão grandes e bonitas, e tantas que pelo chão havia.... embora ainda com pouco sabor.
A saída de Pontevedra fi-la ainda sem sol, o que me possibilitou o prazer de uma pequena ponte pedonal que atravessei e no chão da qual múltiplos pequenos leds azuis, incrustados, fazem lembrar um pequeno firmamento... o caminho das estrelas... o Caminho de Santiago.
Passada a zona edificada, quase toda a etapa é feita por vereda de bosque, à sombra, o que acrescenta obviamente o prazer com que da mesma se desfruta.
Há, no primeiro terço do caminho uma subida para vencer e esta tem prémio, porque mesmo lá em cima, no ponto mais alto fica um albergue, café, restaurante, onde pude descansar e atirar-me à minha habitual chávena de café quentinho, que reconforta e energiza.
Daí para a frente, o caminho segue por estrada antes de voltar a meter por veredas, cruzando por vezes povoados onde a dimensão rural da região é óbvia, com as latadas de alvarinho a esquadrinharem, geométricas, os quintais.
Uma simpática moça brasileira, funcionária do posto de turismo de Pontevedra, com quem tinha falado, tinha-me recomendado passar por umas quedas de água que não distariam muito do caminho e que, dizia, eram coisa a não perder.
Segui-lhe o conselho e, quando vi o sinal a apontar para as Fervenzas do Barosa, deixei que os meus passos seguissem a direção da seta, por não mais que uns setecentos metros.
E em boa hora o fiz. Para além do espetáculo magnífico da água, que mesmo em Setembro corria com alguma profusão, da imensa beleza do sítio, ladeado de castanheiros e na cova de uma pequeno vale, tive o imenso prazer de ser o único ser humano que por ali se encontrava.
Tirei a mochila e deixei-me por ali estar um bom pedaço, enquanto fazia uma ou outra fotografia e mordiscava nas castanhas que apanhava do chão.
Mas o caminho tinha que ser conquistado e lá voltei a encaixar a mochila nas costas, retomando a passada na direção à estrada, que antes tinha abandonado.
Mesmo a sair da área das cascatas passei por um casal que apanhava algumas uvas num pequeno terreno, e, sem vergonha, perguntei à senhora se não me deixava prová-las. Ela, obviamente, apressou-se a dar-me um dos seus melhores cachos. Uva americana, de cheiro, de que eu tanto gosto e me faz lembrar os Açores. Reconhecido, só parei quando o último dos bagos se transubstanciou em líquido doce na minha boca.
Até ao fim, a etapa não teve outra circunstância particular que o ritmo da minha passada e dos meus pensamentos que, pé atrás de pé, me foram aproximando de Caldas de Reis, o seu final, que acabou por chegar, quase sem dar por isso, com um albergue muito bem situado na estrada por onde entrara na localidade.
Rotinas habituais, começando pelos correios, porque embora tivesse deixado a mochila no albergue ainda não podia entrar, compras para o almoço e o habitual desfile de banhoca e roupa a secar, mais uma sesta para reabilitar os músculos, doridos da caminhada, em particular a canela direita.
Como habitualmente, pela tarde passeei por Caldas de Reis, e, não estivesse eu numa cidade de termas, tive até a sorte de descobrir um lavadouro público onde me juntei a uns quinze ou vinte outros caminhantes que demolhavam as canelas na água quente e sulfurosa que por ali corre, algo que me soube bastante bem, muito embora ali não tivesse ficado mais do que alguns minutos, paciente de bicho carpinteiro que sempre fui.
O bonito parque ao lado do rio Umia foi onde passei o resto da tarde, tirando partido do fresco da sombra dos enormes e seguramente centenários carvalhos.
Recomposto pelo descanso à borda rio, voltei para o albergue para jantar e fechar os olhos até ao dia que me levaria para Padrón, penúltima etapa da minha viagem.
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Curiosa casa esta... mais uns tempos e tudo será engolido pela trepadeira, enquanto isso não acontece, o amarelado da luz do candeeiro de iluminação pública, dava um pouco de calor ao azulado frio da neblina que escondia o dia.
O caminho de ferro de hoje....
...e a via romana de antanho
Os Tortulhos (Macrolepiotas Porceras), esses andavam por aqui até muito antes do romanos, estou certo.
Airbnb?
O Alvarinho indica o caminho....
As bonitas Fervenzas do Barosa.
Caldas de Reis e a omnipresença do rio Umia.
Curiosos, estes Adão e Eva, no cruzeiro da Igreja.
O lustro de outros tempos....
Descansando os pés nas águas quentes e sulfurosas do lavadouro público.
As magníficas árvores da "Carballeira" de Caldas de Reis.
Sobre a margem do Umia, um veado dessedentava-se.
Algumas escultura repartem aqui o espaço com as magníficas árvores.
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