Na véspera tinha andado um pouco mais; hoje andaria um pouco menos.
Tirando partido deste enunciado do que parece uma lei de compensação, acabei por sair de Vigo já depois das 7 da manhã, muito embora o sol ainda se não tivesse levantado. Mais uma vez queria tentar fugir o mais possível da chuva que ameaçava cair, por isso tentei coordenar a hora da minha minha saída com as previsões horárias que se anunciavam no meu telemóvel. E ainda bem que assim fiz, porque consegui, uma vez mais, escapar-me ao castigo do elementos.
A jornada começou com uma subida pronunciada para ganhar a cota do caminho que iria prosseguir e que, felizmente, se fazia em zona florestada, em sobreposição a um agradável trilho designado "camino del agua", que acompanha o traçado de uma antiga levada, que abastecia Vigo do essencial líquido.
Uma vez mais, também em lado algum consegui encontrar fosse o que fosse onde pudesse tomar um café e a primeira povoação digna desse nome só a encontrei em "A Aldea", já próximo de Redondela. "É aqui" pensei eu, mas não também não foi ali, já que o centro cultural onde havia um café e que se anunciava como o local onde poderia também carimbar a credencial só abria às 11 horas, ou seja, dali a bem mais de uma hora ainda.
Nada mais me restava do que continuar no caminho, que agora descia para Redondela. Não obstante, começava a ter bastante desconforto com uma dor que se instalara na canela direita, pelo que o ritmo do andamento ressentiu-se desse facto. Mal ou bem, lá fui seguindo, até que, por fim, cheguei à entrada de Redondela.
Uma visita à igreja de Santiago, ao lado do Convento de Vilavella e, de repente, a chuva.
O abrigo, agora, era, no entanto, fácil e lá fui para um café na praça de Ponteareas, tomar o tão almejado expresso e abrigar-me da chuvada que caia forte, tocada a vento.
Por ali fiquei uma boa hora, na conversa com a primeira portuguesa que encontrei no caminho, a jovem e simpática Ana, que, providencialmente me emprestou uma bisnaga de Reumongel para esfregar a canela.
A Ana contou-me que estava também a fazer o caminho sozinha, mas que, como tinha pouco tempo, estava a fazer tiradas de cerca de 30 km por dia, o que tornava a coisa bastante mais exigente do que o meu seguramente mais relaxado ritmo. Combinámos que, assim que chegasse ao destino, me mandaria uma mensagem.
Despedimo-nos, assim que a chuva parou, e lá seguimos cada qual o seu caminho. Dirigi-me para o centro de Redondela, porque entretanto seriam horas de almoço. Na rua um simpático idoso que se cruzou comigo perguntou-se se eu era peregrino... respondi-lhe que, de alguma forma, todos o éramos. Então toma, disse-me ele, enquanto tirava do bolso do casaco algumas castanhas da Índia. Não são para comer, são para te proteger das bruxas, avisou-me, e seguiu o seu caminho. Este rápido trocar de palavras com um desconhecido, foi o encontro que mais me sensibilizou durante todos os dias que estive no caminho. As castanhas essas, estão cá em casa e por cá hão de ficar até que se finem....
Almoço de zorza, em menu de peregrino, após ter procurado o conforto de uns churros numa churreria que estava aberta mas cujo dono me informou que os ditos só durante a semana... como era domingo...
Após o almoço ainda visitei o centro de Redondela e fui em busca dos Correos para depositar no buzón a minha carta do dia.... estranhamente, não havia, que eu tivesse dado por isso, um único marco de correio na vila e a própria loja dos correios, que estava fechada, não tinha uma caixa para correo...nunca tal vi...
Meti-me ao caminho outra vez em direção ao albergue onde iria passar a noite, em Cesanes, a escassos 1 ou 2 quilómetros de onde estava.
Aí chegado e cumpridas as rotinas habituais, passei a tarde na cama com um pack térmico daqueles que se põem nas geladeiras amarrado à canela, coisa que me aliviou bastante a dor e que me permitiu sair mais tarde para um jantar num restaurante manhoso que por ali ficava, onde comi uns chocos caros e cuja confecção deixava bastante a desejar... voltei para o albergue já debaixo de chuva e recolhi-me na cama, porque no dia a seguir queria de novo saír cedo, que a tirada era bastante maior.
Vigo ainda dormia, quando sai de casa... |
... mas rapidamente o dia trouxe luz sobre a grande baía... |
... enquanto eu me embrenhava no caminho da água... |
...guardado por um precioso peixe-rei. |
A baía e os viveiros de mexilhões e... |
...o porto, lá ao fundo. |
A ponte, por cima da qual tantas vezes já passei de carro. |
Enquanto Santiago desancava nos Mouros, |
Sem comentários:
Enviar um comentário