segunda-feira, 10 de junho de 2024

 


VIII - Ramallosa - Vigo

16/Setembro/2023



A chuva era a minha maior preocupação quando me deitei, e a primeira coisa em que pensei quando acordei, depois de uma noite não muito bem dormida, graças não só à preocupação com uma eventual molha, mas também a um camarada no beliche do lado que, de quando em vez, acentuava a respiração com um irritante ronco....

Levantei-me, por isso, muito cedo. Pelas 5h30 já estava na área de refeições a tomar o pequeno-almoço e a preparar a mochila para a saída. Chovia, mas as previsões indicavam abertas para a manhã e queria tirar delas o melhor proveito e andar o máximo possível antes de uma molha, que tinha por certa, até porque a tirada era grande.

De repente, como quem dá uma palavra de encorajamento a alguém na eminência de um qualquer atrevimento, a chuva parou. Sem sequer me perguntar quanto duraria a aberta, meti a mochila às costas e os pés ao caminho.

Em breve estava a olhar para o mar, embora não o soubesse muito bem porque a noite ainda não clareara o suficiente para ver com nitidez tudo à minha volta. Sentia-me, no entanto, perto do oceano, quanto mais não fosse por o caminho o bordejar e pelo inconfundível sussurrar do vai e vem das ondas na areia. 

Como que respondendo ao comando de um editor de fotografia, o negrume foi-se transformando em azul, primeiro profundo, mas progressivamente mais claro. As Cies, viam-se já no horizonte e ir-me-iam acompanhar durante boa parte do dia.

Quilómetro após quilómetro de boa marcha compassada, mas nem um único lugar para tomar um café; só talvez já depois de 15 quilómetros andados consegui finalmente encontrar um lugar para me presentear com uma saborosa chávena de café e um enorme croissant. O carimbo que pedi para me colocarem na credencial informava-me que estava no bar de do parque de campismo de Canido. deixei-me por ali ficar um pedaço, a descansar as costas e os pés que, retirei de dentro das botas, enquanto conversava com o croissant, no recato de uma mesa do fundo, e me entretinha a ouvir a conversa de um casal e um amigo que estariam acampados e que tomavam agora o seu pequeno almoço. Mundanices sem história, mas, na verdade, ouvir conversas de restaurante ou de transportes colectivos é sempre uma descoberta do quão complexa é a natureza humana....

Refeito, refiz-me ao caminho, sempre borda mar até que, por fim, as primeiras construções da zona portuária de Vigo me deram as boas-vindas à cidade que, por ser sábado, parecia anormalmente calma, para mais numa zona industrial, habitada por estaleiros de construção naval e centros de outras atividades ligadas ao mar.

Vigo desenvolve-se a subir, desde a baía pela encosta acima, até ao movimentado centro e daí ainda mais para cima até à cota da estrada que corre a costa da Galiza e que eu também teria depois de ir encontrar.

Sentia-me já um pouco cansado e precisava de ir largar a mochila ao quarto onde iria ficar... tudo corria bem até que o gps me mandou para dentro de um centro comercial que fica paredes meias com a estação de camionagem de Vigo...pode parecer ridículo, mas seguramente passei mais de meia-hora à procura do caminho entre a estação e o centro comercial, com várias entradas e saídas para becos sem saída, estacionamento, áreas reservadas, etc.

Por fim lá encontrei o caminho e pude calcorrear o quilómetro ou dois que me distanciavam ainda de um colchão confortável, para o tão ansiado esticar da ossatura.

Almoço comido e roupa lavada, voltei a descer até à cidade, em busca de um marco de correio e de um local onde pudesse carimbar a credencial para o dia, pois que apenas tinha conseguido o carimbo do parque de campismo onde tomara o café, numa etapa onde não passei por sítio nenhum onde pudesse acrescentar mais uma marca à já minha apreciável coleção.

No centro da cidade, dirigi-me ao Posto de Turismo onde carimbei a credencial e ainda estive quase para ficar à espera que abrisse o museu de arte moderna, que deve bem valer a pena visitar. Mas as pernas estavam cansadas,  o dia seguinte também tinha uma tirada razoável e tinha deixado roupa a secar no pátio quando agora ameaça chover... voltei para trás, para casa, mas não o lesto suficiente que me possibilitasse evitar a molha que apanhei pelo caminho e tirar a roupa da corda antes que ela ficasse mais molhada do que quando lá a pusera, o que efetivamente foi o caso....

Entretanto chegaram as minhas companheiras para o dia, duas jovens alemães, com quem troquei algumas palavras de circunstância antes de me retirar para o recato do quarto e de uma soneca que me ocupou até ao jantar, findo o qual me encerrei de novo no quarto a preparar as coisas para o dia seguinte, porque, mais uma vez queria sair cedo.


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A Ramallosa ainda dormia quando saí para a estrada...

... mas  de pronto o dia começou a clarear...

... recortando no horizonte a silhueta das Cies...

...que me acompanharam durante boa parte do dia...

...enquanto outros as contemplavam de mais perto.

A ilha de Toralla, vista do Canido.

O Cruzeiro entre a praia da Fontaíña e a praia de Fechiño.


O Farol do Museu do mar de Vigo

A entrada de uns estaleiros, à chegada à cidade.

É muita e boa a arte de rua, em Vigo

pode-se sempre vir vê-la de barco....


as bonitas marquises galegas

O Magnífico Sireno, do escultor Francisco Leiro







Ainda apanhei uns pingos das nuvens que por ali passavam...


a vista para o fim do dia, da varanda da casa onde me acoitei para a noite. 





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